A `nova direção` do PT, com Tarso Genro, não resistiu à primeira crise
Marcelo Casal Jr. / Ag. Brasil

Karl Marx dizia que a História só se repete como tragédia ou como farsa. A situação atual do PT combina ao mesmo tempo tragédia e farsa.

A tragédia é o que é sentido por amplos setores da base petista, que vêem a luta de dezenas de anos se transformar no pesadelo do mensalão, do cuecão, de ver o partido pelo qual deram suas vidas ser chamado de Partido dos Trambiqueiros.

A farsa é a tentativa de apresentar a eleição interna que vai ocorrer agora, em 18 de setembro, como a possibilidade de uma refundação desse partido.

A “nova direção” do PT, com Tarso Genro, não sobreviveu à primeira crise. Como sair à luta contra Zé Dirceu, se Tarso era parte dos mesmos financiamentos de Marcos Valério, como o próprio Dirceu se encarregou de vazar para a imprensa? A única forma seria tentar convencer Dirceu de que deveria sair, sem lutar contra ele. Como não houve acordo, Tarso renunciou. Isso só demonstra como é impossível mudar o partido a partir dos que estão integrados a esta mesma prática, de adaptação à democracia dos ricos e à sua corrupção.

O problema contudo não se resume ao campo majoritário. Os distintos setores de esquerda são os que mais divulgam a idéia de que a eleição interna de setembro pode permitir a regeneração do PT. Falam da possibilidade de que a esquerda ganhe as eleições e mude a partir daí o curso do partido. Com a desistência de Tarso, a esquerda fala cada vez mais da possibilidade de vitória.

Essa, talvez, seja a maior das farsas. Em primeiro lugar, é dificílimo que a esquerda ganhe uma eleição dessa, entre os filiados, em que quem domina o aparato tem enormes vantagens. Divulgar essa ilusão é apostar em mais um dos becos sem saída com que a esquerda petista vem tentando segurar suas bases, para evitar que rompam. É como o “governo em disputa” do passado, do qual não se faz nenhum balanço. Depois, com a provável derrota, inventarão outra, talvez a esperança de um nome de esquerda para substituir Lula nas eleições de 2006. Tudo serve para se manter no PT, para preservar os cargos, os mandatos parlamentares…

Em segundo lugar, essa é uma perspectiva equivocada, porque a verdade é que a corrupção da direção majoritária do PT é um subproduto da adaptação desse partido à democracia dos ricos que existe neste país. Essa adaptação é comum tanto no campo majoritário como na esquerda petista.

Foi essa adaptação que levou o PT a uma crise terminal. Nascido das grandes greves operárias, o PT prostituiu-se ao se adaptar às práticas da democracia dos ricos. Ao ter como eixo central a vitória nas eleições, passou a aceitar e incentivar a mesma prática dos partidos patronais como o PSDB e PFL. O programa de mudanças foi deixado de lado para garantir o apoio de setores dos grandes industriais e banqueiros. A aliança com os partidos burgueses foi incentivada para ganhar as eleições a qualquer custo. As campanhas eleitorais deixaram de ser apoiadas na militância, passando a empregar marqueteiros a peso de ouro, com campanhas cada vez mais caras financiadas por setores da burguesia. Isto esteve presente tanto nas prefeituras do campo majoritário como nas da esquerda, como em Porto Alegre e Belém.

Essa é a base para o fracasso da “ética na política”, o perfil que sobrou ao PT, depois do abandono das reivindicações dos trabalhadores e da luta contra o neoliberalismo. Como ser “ético” e fazer alianças com partidos burgueses corrompidos? Como ser “ético” e aceitar financiamentos das grandes empresas? A partir daí, o mesmo operador que arrecada dinheiro por baixo do pano para esses projetos termina por conseguir algum para si próprio, como Sílvio “Land Rover” Pereira demonstra.

Não dizemos que a esquerda petista esteja envolvida também na corrupção direta ou indiretamente. Não nos cabe esse papel. Mas, admitindo a hipótese de que a esquerda petista não esteja envolvida hoje, não temos nenhum medo de dizer que estará envolvida amanhã, se permanecer adaptada à democracia dos ricos e corruptos.

Voltar ao discurso da “ética na política”, sem romper com a adaptação à institucionalidade, é tão realista como acreditar em coelhinhos de Páscoa e em Papai Noel. É apenas mais uma farsa que prepara outra tragédia.

O PT de antes não existe mais. Já, antes dessa crise, existiam fortes pressões para sua transformação de um partido operário reformista a um partido burguês com base operária, como o Partido Democrata nos EUA ou o partido peronista na Argentina.

Agora, com esta crise, sua relação com os movimentos sociais se enfraqueceu qualitativamente, e deve se acelerar essa transformação. Poderá sobreviver como aparato eleitoral, mas muito mais fraco e mais à direita. A esquerda petista, por sua adaptação ao regime, está naufragando junto com esse partido.

Não existe nenhuma viabilidade na regeneração do PT por meio das eleições de setembro. Nem pelo campo majoritário, nem pelos setores da esquerda petista. Por isso, chamamos todos os setores honestos da base petista a romperem com esse partido, e virem construir conosco o PSTU.

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