A aliança selada pelo PT e o PSDB em torno do empresário Márcio Lacerda (PSB) para a disputa da prefeitura de Belo Horizonte, tornou-se exemplo de como essas siglas hoje pouco se diferem. A aproximação uniu o governador tucano Aécio Neves, apontado como um dos principais presidenciáveis para 2010 e o prefeito da capital mineira, Fernando Pimentel, do PT.

O empresário Márcio Lacerda não é um nome qualquer escolhido para servir como testa-de-ferro da candidatura. É, em todo o país, o candidato mais rico dessas eleições, segundo as declarações de renda prestadas ao TSE. Acumula um patrimônio de mais de R$ 55 milhões. Ex-militante de esquerda, Lacerda enriqueceu na área de telecomunicações. O candidato do PT e PSDB foi ainda envolvido no escândalo do mensalão em 2005. Lacerda, então secretário do Ministério da Integração Nacional de Ciro Gomes, teria sacado R$ 457 mil das contas do publicitário Marcos Valério, entre 2003 e 2004.

Irmãos siameses
A coligação entre petistas e tucanos não deixa de mostrar coerência a dois partidos que, de fundo, aplicam a mesma política quando governos e se afundam igualmente em inúmeros casos de corrupção. A aliança em Belo Horizonte, porém, por ocorrer em uma importante capital e apontar claramente uma tendência em 2010, provocou polêmica. No entanto, em centenas de municípios país afora, ela já é uma realidade.

Um primeiro levantamento do TSE atesta a coligação entre os dois partidos em 1.130 cidades, o equivalente a mais de 20% de todos os municípios do país. Tal número, preliminar ainda, deve cresce após contabilizadas todas as candidaturas. Considerando que existem ainda alianças informais, como a de Belo Horizonte, esse número pode ser bem maior.

Tais alianças, entretanto, não são novidades dessas eleições. Nas últimas eleições municipais, a coligação entre PSDB e PT ajudou a eleger nada menos que 149 prefeitos. Em 51 deles os dois partidos disputaram em dobradinha, ou seja, um candidato tucano a prefeito e um petista a vice e vice e versa.

Não é à toa que a adaptação parlamentar do PT à institucionalidade tenha começado nas prefeituras. As eleições municipais não deixam de ser um prenúncio às tendências mais gerais. Será que em 2010 os militantes petistas serão obrigados a entoarem “Aécio Lá”?