Alckmin e Lula, em inauguração em São Paulo

Governo e oposição burguesa tentam preservar partidos e a política econômica neoliberalO alerta soou para as elites brasileiras. Preocupados com as proporções que a crise política pode tomar, na última semana, o PT e os demais partidos governistas, da oposição de direita, e a grande imprensa procuraram armar uma grande operação para abafar os escândalos de corrupção. Buscam, dessa maneira, restringir as falcatruas a alguns políticos, usando-os como “bois de piranha” para impedir que Lula sofra um impeachment e preservar o plano econômico neoliberal.

A bola da vez
No último fim de semana, a revista Veja revelou um documento que autorizava o assessor pessoal de José Dirceu, Roberto Marques, conhecido também como Bob, a sacar dinheiro das contas de Marcos Valério no Banco Rural. Simone Vasconcelos, diretora financeira da SMPB, empresa de Valério, confirmou ao jornal Folha de S. Paulo que autorizou Bob a sacar R$ 50 mil de uma das contas do empresário.

A bomba contra José Dirceu explodiu justamente na semana em que ele terá que depor na Comissão de Ética do Congresso Nacional, onde vai encarar o deputado Roberto Jefferson, autor das denúncias.

Desde o início da crise política, todas as revelações do esquema de corrupção no governo Lula indicam claramente que Dirceu era o coordenador de toda a rede de falcatruas. Acuado e com o seu mandato parlamentar por um fio, Dirceu está sendo agora entregue aos leões numa manobra que visa restringir as investigações, preservar Lula e punir apenas um punhado de deputados. Contudo, o deputado vem resistindo ao papel de “boi de piranha” do mensalão e anda enviando recados ao governo ameaçando contar tudo.

Farinha do mesmo saco
O escândalo do mensalão chegou também à oposição de direita, capitaneados por PSDB e PFL. Documentos obtidos pela CPI dos Correios revelaram que esses partidos também sacaram enormes quantias de dinheiro das empresas de Marcos Valério, o operador do mensalão, para financiar suas campanhas eleitorais.

A lama chegou a atingir o presidente nacional do PSDB, Eduardo Azeredo, e Clésio Andrade, que hoje ocupa um cargo no governo tucano mineiro de Aécio Neves, que receberam, em 1998, nada mais nada menos que R$ 11 milhões da DNA (empresa de Valério) para irrigar as campanhas de Azeredo e de outros candidatos tucanos. Procurando responder às falcatruas, FHC disse, na cara-de-pau que lhe é peculiar, que os saques milionários são fatos “antigos da História”. Ele deveria também estar se referindo à podridão que marcou o seu governo.

O acordão
A lama espalha-se por todos os lados da democracia dos ricos e corruptos. A revelação de que PSDB e PFL usavam o esquema de corrupção do PT apenas demonstra que todos esses partidos são farinha do mesmo saco.

Na semana passada, documentos apreendidos no Banco Rural de Belo Horizonte foram encaminhados à CPI dos Correios. O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), classificou como “pólvora pura” a relação de saques e depósitos feitos nas contas das empresas de Marcos Valério. Neles estariam indicados os nomes dos políticos que receberam recursos do empresário. Calcula-se que mais de 120 picaretas estão relacionados, não apenas ao PT, mas também de todos os outros partidos, inclusive os da oposição burguesa. Por esse motivo, foi fechado um acordo entre os partidos divulgando apenas os nomes dos parlamentares já conhecidos no escândalo. Ou seja, molharam a pólvora.

Desesperados, os partidos da república do mensalão tentam agora realizar um acordão para varrer toda a sujeira para debaixo do tapete e livrar a cara dos acusados e acusadores. O acordão teria como objetivo a cassação ou a renúncia de alguns deputados, como Bispo Rodrigues (PL), José Dirceu (PT), João Paulo Cunha (PT), Roberto Jefferson (PTB) e alguns outros, para impedir que o mar de lama afogue todos os partidos envolvidos na roubalheira. Forma-se assim o bloco PT/PSDB/PFL/PP/PL/PTB/PMDB, que se abraçam no lodaçal para se salvarem da tsunami de corrupção. Algumas ratazanas mais espertas, como Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, já pularam do barco antes que ele afunde totalmente. Valdemar não será o único a renunciar para evitar a cassação. Esta hipótese já foi também levantada por João Paulo Cunha e por Dirceu.

O objetivo do acórdão, todavia, não é apenas garantir a salvação desses partidos. A tramóia busca também impedir que a crise política atinja a economia e ameace os interesses dos capitalistas brasileiros e estrangeiros.

Preservação do plano econômico
Dias atrás, várias denúncias de corrupção estavam atingindo em cheio a figura do presidente Lula. Denúncias de que Lula recebeu um empréstimo junto ao PT, de R$ 29 mil, pago por Marcos Valério, e o repentino enriquecimento do seu filho – que se associou a Telemar, controlada pelos fundos de pensão de estatais dirigidas pelo PT – comprovavam que Lula sabia das falcatruas, mas ficaram simplesmente sem explicação.

A lama sobe a rampa do Planalto e a crise política começa a contaminar a economia. Entre 21 e 28 de julho, o dólar aumentou, os juros subiram e o risco país disparou. Os investidores de Wall Street, em Nova York, começaram então a declarar que temiam que Lula sofresse um processo de impeachment. “Em 2002, o mercado financeiro ficou em pânico com a possibilidade da eleição de Lula e agora, em 2005, está dizendo: meus Deus, Lula pode não ser reeleito”, disse Michael Hood, consultor financeiro da Barclays Capital.

Em um discurso numa refinaria da Petrobras, Lula alertou para o risco de se tornar alvo permanente da avalanche de corrupção: “a economia é muito vulnerável, é preciso cuidado para evitar retrocessos”. O retrocesso, em questão, significa a ameaça de empresários e banqueiros verem seus lucros fabulosos serem diminuídos no caso da crise política atrapalhar o plano econômico. Banqueiros, empresários e latifundiários sabem que podem contar com o PT, pois nunca esses setores lucraram tanto na História como agora.

Lula sabia
Os fortes indícios do envolvimento de José Dirceu no esquema do mensalão são mais um exemplo para concluir que o presidente Lula também sabia da maracutaia. Dirceu era o braço direito do presidente, era o principal nome do governo e também amigo pessoal de Lula. A saída de Dirceu do Ministério da Casa Civil e o seu afastamento do presidente foram tentativas de aplastar a crise. A manobra, entretanto, não deu certo. A blindagem em volta de Lula continuou ameaçada e poderia contaminar a economia. Agora a cabeça de Dirceu está sendo servida à mesa, numa nova tentativa de preservar o presidente. Se Dirceu está afundado na lama até o pescoço, Lula está abraçado com ele e tão sujo quanto seu colega.

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