A avalanche de corrupção expõe a nu os imundos bastidores da democracia dos ricos e corruptos. Em meio ao mar de lama do caso do bicheiro Carlos Cachoeira, começou, no último dia 2, o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.Ao todo, 39 pessoas – entre deputados, ex-ministros, executivos e empresários – serão julgadas pelo STF. O processo vai durar todo o mês de agosto e poderá seguir o mês de setembro adentro.

Com muita hipocrisia, o PSDB vai tentar utilizar do julgamento do mensalão para tentar desgastar o PT nas eleições municipais. Também vão utilizar o julgamento para abafar o caso Cachoeira, no qual estão afundados (junto com o DEM, diga-se de passagem) até o pescoço. É o sujo falando do mal lavado. É sempre bom lembrar que os tucanos protagonizaram alguns dos maiores escândalos de corrupção da história, como a chamada “privataria tucana” dos anos do governo FHC (leia ao lado).

O PT, por sua vez, está colocando na rua toda uma campanha para provar que o mensalão “nunca existiu”, de que o escândalo foi uma tentativa de “golpe” contra o governo Lula. Assim, tentarão livrar a cara de figuras de proa do partido, como José Dirceu, acusado de chefiar o esquema. E é o próprio ministro, aliás, que está à frente dessa campanha, percorrendo todo o país em busca de apoio.

Dirceu, apesar do mensalão, mantém ainda muita influência política e atua como um mega-lobista de grandes empresários, como o mexicano Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo.

As regras do jogo
A verdade é que os rentáveis esquemas revelados no caso do bicheiro Carlos Cachoeira ou mesmo o mensalão sempre existiram e fazem parte do modo de fazer política das elites do país. Em geral, a percepção da maioria é deu que “todos os partidos são corruptos”. Ou ainda de que “qualquer um que chegue ao governo também vai se corromper”.

Esse sentimento aumentou ainda mais depois que vieram à tona os inúmeros escândalos de corrupção envolvendo o PT e seus governos, como foi o mensalão. Muitos viam no PT uma linha de defesa da “ética na política”, contra a corrupção do PSDB.

A corrupção é inseparável do capitalismo e atua no interior das mais diferentes esferas do Estado. Para facilitação dos seus negócios e conquistar altas taxas de lucro, as grandes empresas precisam abocanhar contratos em obras, serviços etc. Não há apenas o pagamento de propinas para funcionários e burocratas. A corrupção começa bem antes, já nas campanhas eleitorais, quando empresários e banqueiros financiam os candidatos dos grandes partidos que, uma vez eleito, entregam a coleta de lixo, obras, transporte coletivo e muitos outros serviços a verdadeiras máfias.

Ao se integrar à máquina do Estado e administrar os negócios da burguesia, o PT aceitou a regra do jogo. Assim, colocou em prática a mesma corrupção tucana.
Portanto, a briga entre PT e o PSDB se assemelha a um conflito de dois bandos mafiosos que estão interessados apenas em quem vai controlar o poder para continuar roubando.

PSDB-DEM: da ‘privataria’ ao bicheiro Cachoeira
A prisão do bicheiro Carlos Cachoeira expôs ao país um novo escândalo de corrupção. O esquema de pagamento de propinas e financiamento de campanhas eleitorais atingiu políticos da oposição de direita (PSDB e DEM). O esquema de Cachoeira envolve senadores (como Demóstenes Torres – DEM), governadores (Marconi Perillo, de Goiás – PSDB), grandes empreiteiros e praticamente todos os deputados tucanos de Goiás.
A CPI que “investiga” o caso Cachoeira não tem qualquer condição de investigar e punir ninguém. A única coisa que pode sair dessa CPI é um acordo entre governo e oposição de direita. Vão colocar na balança todos seus trambiques e entregar um ou outro corrupto (como fizeram com Demóstenes) para abafar qualquer infestigação mais profunda.

Privatizações
Nos oito anos em que estiveram no poder, PSDB e PFL promoveram os maiores espetáculos de corrupção do país, como foi a compra de votos de deputados para aprovar a emenda de reeleição. A lista é enorme, mas um surto de amnésia parece ter recaído sobre a grande impressa.

De todos os escândalos, porém, nada se compara a “privataria tucana”, isto é, o show de corrupção que envolveu as privatizações da Telebrás e da Vale do Rio Doce, marcadas pela cobrança de propinas para beneficiar algumas empresas. Apesar de farto material, reunidos pelo jornalista Amaury Ribeiro Junior no livro “A privataria tucana”, o PT nunca investigou a fundo os casos de corrupção sobre as privatizações no período do governo FHC. Isso porque o PT nunca desejou reverter todas as privatizações tucanas – pra alegria dos negócios de Daniel Dantas, Eike Batista etc. Pelo contrário, manteve sua política de privatizações, como se pode ver no caso dos aeroportos.

As mãos sujas de Alkmim
O governo tucano em São Paulo também esteve no centro do caso Alstom, empresa francesa que pagava propina a vários políticos do PSDB, além de sustentar um esquema de caixa dois do partido em troca de contratos com o Metrô e com Estatais de Energia.
Além disso, há muitos indícios de que o tucano tenha seu próprio mensalão em São Paulo, Em entrevista ao jornal o Estado de São Paulo, o deputado Buno Covas (PSDB) falou demais e revelou um esquema de “comissão” sobre uma emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Entre “25% a 30%” dos (Alesp) estão metidos em corrupção através do uso das emendas parlamentares, segundo Covas.

O PT do mensalão
Para quem não lembra, o mensalão foi o esquema de propina a parlamentares e partidos da base governista que estourou em 2005. A crise começou depois que o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) revelou em entrevista a existência do esquema. A mesada garantia que o governo tivesse maioria para aprovar projetos de seu interesse na Câmara. José Dirceu, então ministro da Casa Civil e o homem forte de Lula, foi apontado como o chefe do mensalão. Na pior crise política do governo Lula, Zé Dirceu acabou caindo e teve, mais tarde, seu mandato de deputado caçado no Congresso Nacional.

O escândalo revelou todo um esquema de arrecadação financeira para o PT e derrubou o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o presidente do partido, José Genoino. Parte do dinheiro oriundo desses esquemas teria sido utilizada para financiar o mensalão. O dinheiro era depositado em contas da DNA Propaganda, administrada pelo publicitário Marcos Valério, que alimentava o caixa do chamado “valerioduto”. Investigações posteriores também apontaram para o banqueiro Daniel Dantas, um dos maiores corruptores da história da República envolvido em negociatas desde o governo de FHC. Por meio do Banco Opportunity, Dantas teria sido um dos principais fornecedores do mensalão. Segundo a Polícia Federal, as empresas de telefonia privatizadas, então controladas pelo banqueiro, injetaram mais de R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda.

Enquanto o mar de lama continuava a avançar, a base governista insistia em dizer que o presidente “não sabia de nada” de que tudo não passava de uma “tentativa de golpe da direita”. Era uma tentativa desesperada de blindar Lula, para evitar que as inúmeras denúncias de corrupção atingissem diretamente a figura do presidente.
Pouco depois, o PSDB também se viu constrangido diante de seu próprio escândalo de mensalão. O mensalão tucano era chefiado por Eduardo Azeredo, então presidente do PSDB, e era utilizado para garantir votações e financiamento das campanhas do partido e do governador de Minas Gerais na época, Aécio Neves.

O julgamento do STF ocorre sete anos depois de explodir o escândalo. A demora é uma tentativa de apostar no esquecimento da população. Muitas das principais figuras do escândalo sequer são lembradas hoje em dia pela maioria da população. Alguns, porém, continuam exercendo cargos parlamentares ou estão lotados nos governos.

Por outro lado, o julgamento terá a presença de José Antônio Dias Toffoli, ex-advogado do PT e de José Dirceu. Até 2009, ele era sócio no escritório da advogada Roberta Maria Rangel, hoje sua namorada, que defendeu outros acusados de envolvimento no mensalão. Assim, o julgamento do Supremo caminha para terminar em uma imensa pizza, sepultando de uma vez por todo o escândalo do mensalão.

Dono de um invejável currículo de corrupção, Paulo Maluf é um dos principais aliados de Fernando Haddad, que disputa a prefeitura de São Paulo pelo PT. Maluf foi prefeito “biônico” de São Paulo (nomeado pela ditadura), fiel aliado do regime militar e símbolo da impunidade dos corruptos que impera no país.
Acusado de lavagem de dinheiro, receber propinas de construtoras e enviar dinheiro para contas no exterior, Maluf e seu filho foram até presos. No entanto, logo ficou evidente que prisão não passava de mais um show para a imprensa. Depois de alguns dias, ambos foram libertados. Hoje, Maluf é deputado federal, apesar de estar na lista de procurados da Interpol, continua impune no Brasil.

Cadeia para os corruptos
O combate a corrupção começa com a prisão e o confisco dos bens de corruptos e corruptores sejam eles do PT ou do PSDB-DEM.

A impunidade multiplica os casos de corrupção. De nada adiantariam prisões temporárias sem que se expropriem as propriedades dos corruptos, porque, ao sair do período na prisão, (geralmente com regalias), o corrupto vai usufruir do que roubou.
É necessário também prender e expropriar as empresas que corromperam. Não existem corruptos sem corruptores. Nenhum “peixe graúdo” vai para a cadeia e muito menos as grandes empresas corruptoras são afetadas.

Por fim, é preciso acabar com todos os privilégios dos políticos, a começar pelos seus salários. Os políticos devem receber um salário médio de um trabalhador comum e seus mandatos devem ser revogáveis, ou seja, que a população possa tirar a qualquer momento os que ocupam os cargos públicos, que não cumprem suas promessas e estejam envolvidos em escândalos.

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