As eleições de outubro já começam a polarizar a vida política do país e os socialistas revolucionários vão participar delas. A Conferência Nacional do PSTU, depois de uma ampla e democrática discussão entre todos os militantes, por vários meses, decidiu participar deste processo eleitoral, propondo uma Frente Classista, de Esquerda e Socialista. Começamos neste número a publicar as conclusões desta discussão, iniciando por um elemento essencial: qual o objetivo dos revolucionários ao participar das eleições burguesas. A seguir publicamos a carta entregue pela direção do PSTU à direção do P-SOL em uma reunião recente, com a proposta de uma Frente de Esquerda

Para que os revolucionários participam das eleições?

A campanha eleitoral já dá seus primeiros passos. Os trabalhadores e jovens vão votar, mas com uma enorme e justa desconfiança. A postura tradicional dos partidos que representam o grande capital (como PSDB, PFL, PMDB, etc), é a de fazer promessas durante a campanha eleitoral para o povo, e depois governar para os mesmos grandes empresários que lhes financiam as campanhas. O PT, sobre o qual se depositou uma enorme esperança, ao chegar ao governo federal, fez exatamente a mesma coisa, governando para os ricos e afundando na corrupção. A crise política do semestre passado deixou marcas na consciência de muitos. É justo, portanto, que exista esta desconfiança nas eleições e nos partidos.

Os setores da esquerda parlamentar, adaptados as instituições do estado e ao parlamento, defendem a participação nas eleições com o objetivo único de eleger seus candidatos, e para isso reproduzem os mesmos vícios que levaram à degeneração do PT. Em oposição a essa postura, alguns setores de ativistas, a partir da desconfiança no parlamento, chegam à conclusão equivocada de que é melhor votar nulo.

Os socialistas revolucionários renegam estas duas visões.

Porque o voto nulo é um equívoco
Muitos ativistas honestos, excelentes lutadores, chegaram à conclusão de que as eleições são uma farsa e por isso defendem o voto nulo.

Estamos de acordo com eles, de fato votar e eleger governantes e parlamentares neste regime a serviço dos patrões não vai resolver nenhum problema dos trabalhadores. Trata-se de uma farsa, controlada pelos grandes empresários, que financiam as campanhas eleitorais milionárias dos partidos, controlam os meios de comunicação, e depois cobram seus favores no governo. Os candidatos vitoriosos, da situação ou da oposição, estão sempre ligados aos interesses destes grandes empresários.

Os banqueiros, por exemplo, financiam a campanha eleitoral do PSDB-PFL e do PT. Recentemente foi divulgado que nas eleições de 2004, o PT recebeu 7,9 bilhões de reais, mais que os 4,1 bilhões “doados” pelos banqueiros ao PSDB. Isso explica a política econômica do governo Lula, e os lucros astronômicos dos bancos. Qualquer que seja o ganhador das eleições de outubro, seja o PT ou PSDB, essa política vai ter continuidade.

Portanto, temos acordo que essa democracia é uma farsa. Mas isso é conhecido por um setor minoritário da vanguarda, dos ativistas. As grandes massas de trabalhadores e jovens vão votar, apesar de suas desconfianças. O voto nulo, neste sentido, deixa de disputar a consciência das massas. A conseqüência é que o campo fica aberto para os partidos dominantes, no momento o PT ou o PSDB-PFL. Uma postura de não participar do processo eleitoral ao invés de questioná-lo termina por facilitar a vida para os partidos dominantes.

Outra coisa, seria caso houvesse a possibilidade, junto com os trabalhadores, construir outro tipo de poder e de governo baseado nos organismos dos trabalhadores, em um processo revolucionário, ultrapassando a farsa da democracia burguesa. Ou ainda, caso existissem as condições para um boicote massivo das eleições, também em meio de grandes lutas revolucionárias. Como essas condições não existem, as massas vão votar, e os socialistas revolucionários devem ir junto, disputando sua consciência.

Como e para que participar nas eleições
O que diferencia os revolucionários não é se participam ou não das eleições, mas o que defendem nelas. A esquerda parlamentar e reformista centra toda sua atividade nas eleições e dedica sua campanha essencialmente à eleição de seus candidatos. Para isso, buscam alianças com partidos burgueses, atenuam seu programa de maneira a poder obter apoio de setores conservadores, deixam de lado as lutas diretas para se concentrar nas eleições. Esse foi o caminho seguido pelo PT, que terminou na degeneração que está hoje a vista de todos.

Os socialistas revolucionários entendem que a luta parlamentar é um ponto de apoio secundário da luta política. O essencial é a ação direta das massas, a luta de classes, as greves e outras mobilizações. Os revolucionários utilizam a tribuna parlamentar para apoiar essas lutas diretas, divulgar o seu programa, e mostrar como o parlamento e as mesmas eleições são uma farsa. Conseguir eleger um parlamentar revolucionário é muito importante, mas não às custas de deixar de lado estes princípios.

Na eleição presidencial de 2002, o PSTU dedicou seu tempo de TV a divulgação da campanha do plebiscito sobre a Alca. Em 2004, dedicamos nossos programas eleitorais ao apoio à greve nacional bancária. Nas duas eleições, denunciamos a democracia dos ricos e defendemos que só a luta direta muda a vida.

A necessidade de uma Frente de Esquerda Classista e Socialista
Em toda eleição existe um objetivo político concreto. Em 2006, o primeiro objetivo é concretizar um pólo de esquerda, que seja uma alternativa à polarização eleitoral entre os dois blocos burgueses dominantes hoje, capitalizados pelo PT e PSDB-PFL.
Existe uma grande ameaça, de que ao final do governo Lula, a maioria dos trabalhadores e jovens do país termine por optar entre essas duas opções que são iguais em termos programáticos. Depois de toda a experiência feita com a política econômica neoliberal, a corrupção explícita, a reforma da previdência, a aliança descarada com Bush, o enfrentamento com as greves, seria um retrocesso político que os setores fundamentais dos trabalhadores voltem a votar em Lula, para evitar a volta da direita.

A possibilidade de constituir este pólo exige a unidade dos setores de esquerda que se situam na oposição ao governo Lula, por mais diferenças que tenham. Evitar a dispersão da esquerda é uma necessidade para apresentar uma alternativa forte, que entre no grande jogo da disputa pela consciência das massas. A candidatura de Heloísa Helena pode ser um ponto de apoio para isso, se expressar uma frente de esquerda, classista e socialista, e não só o P-SOL, seu partido.

É necessário construir uma Frente Classista que represente uma terceira força, dos trabalhadores. Isso exclui os patrões e seus partidos, como PDT. Uma Frente Socialista, que apresente um programa antiimperialista e anticapitalista. Uma frente em que as distintas forças devem estar representadas com seu peso real nas candidaturas, sem comportamentos sectários.
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