Redação

As mais recentes ações do prefeito de Parnaíba (PI), Mão Santa (Solidariedade), não geram nenhuma surpresa a um observador um pouco mais atento. Se nas últimas três décadas Mão Santa tentava trazer para si a imagem de “defensor da democracia”, agora ele volta às origens políticas de filhote da ditadura civil-militar instaurada em 1964. Mão Santa quer dar o nome de uma escola municipal em Parnaíba ao presidente e projeto de ditador Jair Bolsonaro. Tal homenagem desrespeita até mesmo a lei que proíbe homenagens deste tipo a pessoas ainda em vida, mas respeitar normas relacionadas aos princípios mais elementares de zelo com a coisa pública também nunca foi preocupação de Mão Santa. Além de ilegal, a nomeação de Bolsonaro em Parnaíba como nome de escola representa um grave ato de apoio político a tudo de mais desprezível que ele representa: racismo, machismo, xenofobia, lgbtfobia, preconceito contra os nordestinos e apologia a tudo que atente contra os direitos humanos e às liberdades democráticas.

O prédio que abrigará a escola foi cedido pelo Governo do Estado (administração Wellington Dias, do PT) à Federação do Comércio (Fecomércio) inicialmente para a criação de um curso de idiomas. Mas a entidade, por sua vez, buscou parceria com a prefeitura de Parnaíba para dar continuidade ao vergonhoso e lamentável processo de militarização das escolas impulsionado pelo governo petista. Omisso, Wellington Dias também deve ser responsabilizado caso essa homenagem de Mão Santa e grupos empresariais à Bolsonaro se consolide em prédio público pertencente ao Estado do Piauí. Diante de tal ameaça, a única coisa que se espera de Wellington é que retome o prédio para o Estado e impeça tal ilegalidade e homenagem ao que deve ser, na verdade, repudiado.

E no mesmo apreço aos regimes tiranos e aos saudosistas do regime militar instaurado com o golpe de 1964, Mão Santa quer renomear uma importante avenida da cidade como “Presidente Figueiredo”, buscando transformar Parnaíba em um grande “monumento à ditadura”.

Os que se espantam com as homenagens aos defensores do período sangrento e covarde da ditadura militar talvez não saibam que Mão Santa é um dos maiores exemplos do que se pode chamar de “político vira-casaca”. O que Mão Santa sempre fez foi continuar a trajetória oportunista iniciada em cargos eletivos, ainda no regime militar, quando chegou ao mandato de deputado estadual do Piauí pela Arena em 1978, quando era o partido da situação ditatorial. Quando a ditadura ruiu a partir do movimento “Diretas, Já”, no final da década de 80, abandonou os partidos nascidos a partir da Arena (PDS e PPR) e colocou ao avesso a roupa que vestia, passando a se apresentar com um uniforme aparentemente novo, desta vez com as cores do PMDB.

Foi se aproveitando da “onda da democratização contra a ditadura” em 1989 que o vira casaca Mão Santa se elegeu prefeito de Parnaíba pela primeira vez em 1989. Mais tarde, pelo mesmo partido, chegou ao governo do Piauí, por duas vezes (pleitos de 1994 e 1998), contando com a oposição praticamente apenas de dois parlamentares do PT, um deles Wellington Dias (atual governador), que se elegeu deputado federal em 1998 denunciando corrupção no governo Mão Santa.

Porém, como oportunistas se atraem, Wellington e Mão Santa estiveram juntos posteriormente, em um mesmo palanque, ajudando-se mutuamente. Após ter sido cassado em 2001 do cargo de governador por crime eleitoral (abuso de poder econômico e político), Mão Santa volta ao cenário legislativo como senador dando apoio ao PT e ao mesmo tempo surfando na onda que elegeu diversos políticos tradicionais e de direita apoiadores do programa de governo conservador contido na “Carta aos Brasileiros” e que levou Lula à presidência da república no processo eleitoral de 2002. Também por questão meramente oportunista, por não ter os cargos que queria na máquina federal no Piauí, rompeu a aliança informal com o presidente Lula e o então governador Wellington Dias ali eleito, também do PT, ainda em 2003.

Enquanto o governo petista em nível federal conseguia manter índices de popularidade diante de medidas paliativas que aparentemente garantiam o “sucesso da situação econômica”, a família Mão Santa sofreu derrotas políticas importantes no Piauí, chegando a obter cerca de apenas 20 mil votos quando candidato pela última vez a governador do Estado, em 2014. Mas novamente Mão Santa voltaria ao círculo do poder, outra vez tendo o PT como possibilidade de ascensão. Desta feita, a partir do sentimento de ruptura de amplos setores da sociedade com o petismo, que já não conseguia ser um bom gerente do capitalismo, em favor dos mais ricos, com o acirramento da crise econômica. Foi assim que Mão Santa voltou a se eleger prefeito de Parnaíba, ao capitalizar o antipetismo que havia resultado na queda de Dilma e, em seguida, na derrota eleitoral do prefeito petista que tentava reeleição em Parnaíba em 2016.

Não é de hoje
Os processos que levaram à cassação de Mão Santa em 2001 têm a ver com “auto-homenagens” que foram caracterizadas como abuso do poder econômico durante o governo que tinham como slogan “O Piauí em boas mãos”. Hoje, como prefeito, Mão Santa se sente à vontade de nomear escola municipal militar com nome de Bolsonaro, e isso com discurso apoiado também em desmandos petistas e sob o silêncio de instituições como o ministério público. “Atentai, bem. Aqui em Parnaíba o ex-prefeito do PT deu nome de Wellington Dias a um mercado público. Por isso, os petistas não têm do que se queixar”, poderia dizer Mão Santa, que também se mostra inspirado na política de militarização das escolas estaduais promovida pelo governo estadual petista e estimuladas agora por Bolsonaro.

Verdade seja dita. Mão Santa, Bolsonaro e Wellington estão no mesmo barco, em favor dos ricos, e contra a classe trabalhadora, apesar de eventuais discursos que aparentem o contrário. Basta ver como tais governos estão empenhados na aprovação da reforma da previdência que representa uma pá de cal no direito à aposentadoria da maior parcela da população.

Neste sentido, num momento em que o governo Bolsonaro parte para o ataque anunciando medidas que atentam contra as poucas garantias democráticas que temos e que nomeia militares apoiadores de torturas e ditaduras em diversos cargos do governo federal, é preciso rechaçar fortemente qualquer aceno oportunista que resulte em homenagear os que patrocinaram prisão, tortura e morte a partir do golpe de 1964. Sem esquecer também que não são merecedores de qualquer homenagem os nomes de Wellington, Mão Santa e Figueiredo, o último ditador.

Para defender direitos como o da previdência pública, basta de Wellington, Mão Santa e Bolsonaro! Ditadura nunca mais! Chega de Bolsonaro e Mourão! Não queremos que Parnaíba seja monumento aos ditadores!

Todos às ruas nos dias 6 e 13 de agosto, em todo o país, rumo à greve geral contra a reforma da previdência e contra os governos que nos atacam.

Por último, mesmo não depositando nenhuma confiança na Justiça, o PSTU no Piauí informa que ingressará com ação judicial para busca impedir e ou desfazer nomeação de prédios públicos com nome de pessoas vivas, conforme proibido pela legislação brasileira, como no caso denunciado da escola e mercado público municipal em Parnaíba.

Piauí, 02 de agosto de 2019.
Direção Estadual do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado – PSTU