Cartaz pede a saída do prefeito de Campinas

A 11ª Parada do Orgulho LGBT de Campinas-SP aconteceu no último dia 3 de julho. É uma data bastante esperada pelos oprimidos. Para nós, a Parada é uma manifestação muito importante, é o dia em que Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros vão às ruas mostrar a sua cara. Entendemos ser fundamental a celebração da diversidade sexual, mas também pensamos ser necessária a luta pelos direitos LGBT´s. A Parada não pode ser apenas um momento de festa: ela deve ser um instrumento para aqueles que sofrem com a homofobia. Não podemos aceitar que o movimento se submeta às exigências do Pink Money e transforme sua maior manifestação num carnaval: a rua tem que ser ocupada pela festa, pelas palavras de ordem, faixas, bandeiras e cartazes originados a partir do movimento popular, não pelos interesses de um governo ou do lucro de empresas envolvidas no Mercado Pink.

Na coluna do PSTU, distribuímos panfletos, preparamos cartazes, erguemos nossas bandeiras e politizamos as ruas com os famosos bonecos de Dilma (que trocou o KIT Escola Sem Homofobia pela cabeça de Palocci) e Bolsonaro (que vem sendo símbolo parlamentar dos homofóbicos de plantão). Embora recentemente tenhamos conquistado o direito à união homoafetiva (e esse é um motivo de comemoração para o movimento que tanto lutou por isso), continuamos sofrendo agressões nas escolas, no trabalho e na rua. Só em 2010, pelo menos 260 homossexuais foram assassinados no Brasil (boa parte travestis e transexuais). É necessário que se resgate o espírito combativo que gestou o movimento LGBT com a rebelião de Stonewall e as manifestações posteriores.

Na reportagem do Correio Popular de 4 de Julho de 2011, Deco Ribeiro, da Escola Jovem LGBT, afirmou que, na Parada do Orgulho Gay de Campinas, “hoje há menos envolvimento das casas noturnas. Há mais espaço para o discurso, para o debate de políticas para a população LGBT”. Mas o que vimos não foi isso. Desde a preparação do movimento, a Associação da Parada de Campinas informou que partidos políticos não teriam direito à fala em 2011, apenas os movimentos sociais com inserção no campo LGBT poderiam ter acesso ao microfone. Dessa forma, organizamo-nos junto à coluna que a CSP-Conlutas e a ANEL prepararam. Na concentração da manifestação, no entanto, recebemos a informação de que apenas ONG´s falariam e que os militantes da CSP-Conlutas e da Anel tiveram sua fala cortada. Segundo os organizadores, os movimentos não poderiam subir no trio elétrico devido a uma deliberação que proibia transformar a Parada numa passeata contra a administração municipal (Fora Hélio).

Campinas vem sendo palco de uma série de denúncias envolvendo o prefeito Hélio de Oliveira Santos (PDT), seu vice Demétrio Vilagra (PT), além da primeira dama Rosely e diversos membros do alto escalão do governo em esquemas de corrupção. Estima-se que R$600 milhões foram parar no bolso dos corruptos. A própria organização da Parada fez questão de lembrar aos manifestantes que a prefeitura fez de tudo para emperrar o andamento do evento. Até o último minuto, a administração municipal inventou entraves para não colocar os carros de som nas avenidas da cidade e militantes chegaram a desembolsar quantias em dinheiro de seu próprio bolso para bancar a realização da Parada (que, segundo a organização, levou 120 mil manifestantes para as ruas de Campinas). O dinheiro da corrupção poderia, sim, ter sido usado para a elaboração de políticas públicas LGBT´s e era um dever do movimento denunciar esse esquema durante a manifestação.

O boicote à fala da CSP-Conlutas e da ANEL foi repudiado por organizações históricas do movimento de Campinas que em suas falas reivindicaram a democracia na organização da Parada. Militantes do grupo Identidade, que tiveram acesso ao carro de som, se solidarizaram aos movimentos impedidos de levar sua palavra aos participantes na abertura do evento e seguimos todos juntos numa coluna politizada que reivindicava direitos LGBTs e pedia o afastamento dos envolvidos nos esquemas de corrupção na cidade.

Nós acreditamos que a atitude dos organizadores da Parada acabou por reforçar as ações dos opressores. A direção do movimento tem que dar a mão aos setores oprimidos e às organizações que defendem seus interesses, não àqueles que produzem a exploração, a opressão e utilizam dos meios mais escusos para isso. A Parada do Orgulho LGBT de Campinas ainda deixa espaço para que possamos erguer nossas faixas e bandeiras, mas não reconhece nossa intervenção no movimento quando nos impede de falar no carro de som. Precisamos construir um movimento LGBT democrático, combativo, independente de governos e patrões. Se os explorados e oprimidos não somos os dirigentes de nossa própria luta, os opressores sentem-se no direito de se apropriar dos nossos espaços e, vestidos de cordeiro, abocanham aquilo de mais valioso que ainda temos: o direito de lutar.