Nesta quinta-feira, 27, o PSTU divulgou uma carta aberta aos militantes do P-SOL, que realizam o seu Encontro Nacional durante o Fórum Social Mundial. A carta aberta refaz o chamado para que os militantes do P-SOL venham construir a Conlutas e rompam com a CUT governista.

O texto do PSTU também aborda a questão eleitoral, denuncia as negociações com o PDT, um partido burguês, e faz um chamado a uma frente de esquerda, socialista e classista. Veja abaixo a íntegra da carta ou faça o download do arquivo em pdf aqui:

CARTA ABERTA AOS MILITANTES DO P-SOL

Os militantes do P-SOL estão realizando seu Encontro Nacional. Todos sabem que temos diferenças, programáticas e de concepção, com seu partido. Ainda com essas diferenças podemos e devemos ter pontos de unidade, e saber valorizá-los. É tão importante identificar as diferenças com outras correntes como os possíveis acordos. Nunca é demais recordar a força da aliança da burguesia com o PT e PCdoB para implementar as reformas do governo e a gravidade das derrotas que podem estar vindo aí. Nunca é demais lembrar que a unidade pode multiplicar as forças, ao se poder apresentar para as massas uma alternativa que se mostre viável, forte.

Este Fórum é um momento adequado para fazer esta discussão. Há uma ruptura de massas com o governo do PT, que também se expressa aqui. Em 2003, Lula chegou como a grande estrela. Agora, tem que manobrar para tentar evitar as vaias.

Por mais que o governo tente capitalizar o crescimento econômico atual (com enorme apoio de mídia), não conseguirá evitar a ampliação destas rupturas, porque não existem melhorias sociais reais. O desemprego seguirá em essência inalterado, e os salários arrochados. O governo terá novos choques com os trabalhadores e estudantes, seja com as greves, seja com a aplicação de suas reformas neoliberais.

Está colocado perante a esquerda um grande desafio: como construir uma alternativa unitária ao PT e ao governo? Existe um grande risco de que amplas parcelas do ativismo e das massas guinem para a direita ou para a apatia, pela desilusão com Lula e o PT.

A unidade nas lutas: romper com a CUT e construir a Conlutas

Uma das propostas que queremos discutir com vocês é a unidade nas lutas concretas contra o governo, o que pressupõe a necessidade da ruptura com a CUT e a construção da Conlutas. Existem setores do P-SOL que estão engajados conosco neste projeto e outros que ainda se mantém na defesa da CUT. Agora, no momento de seu Encontro Nacional, seria importante que houvesse uma posição de conjunto do partido.

O argumento de que é preciso permanecer na CUT para disputar sua base não corresponde à realidade. Ao contrário, para disputar a base é necessário construir uma alternativa nacional, por fora da CUT, para evitar que sejamos derrotados, ao estar divididos, cada um em sua categoria. As duas grandes manifestações contra as reformas do governo (os atos em Brasília de 16 de junho e 25 de novembro) foram articuladas por fora da CUT. A grande greve dos bancários foi deflagrada e durou um mês porque houve uma rebelião de base contra a direção, e existiu uma oposição bancária organizada nacionalmente (que apóia a Conlutas).

A ruptura com a CUT é de massas, e tende a crescer. Quanto mais lutas, mais choques com o governo e a CUT, e mais rupturas. Mas pode acabar se dispersando, ou ser capitalizada pela direita, caso não se construa uma alternativa. Por isso, a Conlutas tem uma enorme importância, e por isso também está se impondo com muita força, apesar de todos os bombardeios que tem sofrido.

Não é correta tampouco a idéia de que a Conlutas “é coisa do PSTU”. Não por acaso entidades nacionais do funcionalismo, como ANDES, Unafisco, Sinasef , assim como setores do P-SOL e do PT, participam de sua direção. Trata-se de uma iniciativa de frente única, que tende a crescer cada vez mais.

Da mesma forma, acreditamos que os companheiros, além de uma luta unitária contra a reforma Universitária, romperem com a UNE governista, e virem ajudar a construir a Conlute.

Estamos, mais uma vez, chamando vocês, a que se integrem a este processo, ajudando a construir uma alternativa unitária de esquerda à direção da CUT e da UNE, para as lutas concretas dos trabalhadores e da juventude.

A unidade também no campo eleitoral: uma frente de esquerda, socialista e classista

Vocês sabem que nós priorizamos as lutas diretas e não as eleições. Para nós uma estratégia eleitoral é um caminho certo para a derrota dos trabalhadores. Isso não significa que não demos importância tática para as eleições, sempre priorizando as ações diretas dos trabalhadores e da juventude.

Acreditamos que também a nível eleitoral deve se expressar a unidade da esquerda que luta contra o governo, dos ativistas das greves, mobilizações estudantis e populares, dos que levam adiante as lutas contra as reformas do governo. Para isso é necessário aliar a expressão destes movimentos sociais com os partidos de esquerda socialistas, como o P-SOL e o PSTU. A candidatura de Heloísa Helena pode ser muito importante, desde que se tenha claro a necessidade da paciência para a discussão do programa, suas relações com os movimento sociais, suas alianças. É necessária uma frente de esquerda, socialista e classista, que tenha um programa que aglutine as bandeiras tradicionais do movimento de massas, como:
– oposição ao governo Lula
– ruptura com a Alca e o FMI. Não pagamento da dívida externa.
– Apoio às lutas dos trabalhadores de todo o mundo! Contra a guerra imperialista no Iraque! Todo apoio a Intifada!
– em defesa de uma reforma agrária ampla, sob controle dos trabalhadores.
– contra as reformas neoliberais do governo e FMI.
– por um plano econômico anticapitalista para enfrentar o desemprego e a miséria.

As discussões que vocês estão estabelecendo com o PDT apontam para outra direção. Um dos documentos sobre este tema em discussão no P-SOL (segundo a página de vocês na internet), escrito por Roberto Robaina e Martiniano Cavalcante, defende uma aliança que inclui algumas lideranças do PDT e PSB que defendam posições nacionalistas. Na verdade as negociações não incluem só “alguns dirigentes”, mas simplesmente Carlos Lupi, o presidente atual do PDT e a maioria de sua direção. Ou seja, trata-se da direção do PDT, e não de alguns militantes sindicais desse partido.

Para mostrar a importância dessa negociação, Heloísa Helena esteve no Encontro nacional do PDT, no final do ano passado no Rio de Janeiro e afirmou: “…aqui no PDT, assim como em outras poucas organizações que sobrevivem, estão os que não se dobram, os que não se curvam, os que não se ajoelham covardemente”.

Assim Heloísa Helena caracterizou esse partido que não tem nada ver com a luta pelo socialismo. O PDT é um partido burguês, tradicional representante do populismo, ligado a setores distintos da patronal em cada estado. Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, tem a participação de setores latifundiários. Hoje, está dividido em uma ala que busca uma aliança com o PSDB (em São Paulo participa do governo Serra) e outra que se alia com o PPS, sempre para fazer uma oposição burguesa ao governo. Uma aliança com o PDT seria uma ruptura de um campo de classe, socialista e de esquerda, que poderia viabilizar uma alternativa eleitoral unitária.

Heloísa Helena, nesse encontro do PDT, apontou no sentido da aliança com esse partido: “Espero que a gente consiga caminhar juntos! Mas, independente de qualquer futuro político, estaremos trabalhando muito para estarmos juntos, a certeza que tenho é que posso olhar no olho das companheiras e companheiros do PDT, querido Lupi, e dizer: me orgulho como brasileira de que vocês estão aí. Firmes, para o triunfo que mais cedo ou tarde virá.”

Chamamos os companheiros a romperem com as negociações com partidos burgueses, e virem conformar uma frente eleitoral de esquerda, socialista e classista.

Porto Alegre, 27 de janeiro de 2005

Direção Nacional do PSTU