Redação

No último sábado, 19 de novembro, véspera da Marcha da Periferia na Zona Sul, o PSTU lançou a sede do Capão Redondo, bairro com uma população de 268.729 habitantes, sendo 53,90% que se autodeclaram negros. A renda média é de um a dois salários mínimos, sendo uma das regiões mais pobres da cidade.

O Estado só aparece com todo seu efetivo através da presença da racista Polícia Militar fazendo, em 2013 e 2015, uma verdadeira zona de extermínio à juventude negra. Enquanto isso, presenciamos o abandono com os serviços públicos como hospitais e escolas. Só na região, há 4750 crianças na fila de espera para entrarem na creche.

O Capão Redondo é conhecido também como um dos bastiões do hip hop paulistano, que se destacou a partir da década de 1990 com os Racionais MC’s e suas letras de crítica social, fazendo da arte como um instrumento de resistência. Mas sua história não começa daí, já na década de 1970 foi um dos bairros pioneiros na luta contra a Ditadura Militar. Fruto disso, décadas depois, após a mobilização da própria comunidade que reivindicava um parque municipal na região, o nome do local foi definido em homenagem a Santo Dias, operário negro assassinado pela ditadura em 1979 no Largo do Socorro.

Hoje há ruas no Jardim Comercial e redondezas com nomes atribuídos às lutas na região, como Rua União dos Movimentos, Rua Pró-Moradia Zona Sul, Rua Movimento Popular, entre outras. Foi um dos principais berços do PT na Zona Sul, que hoje expressa seu rechaço ao partido que traiu milhares de trabalhadores prometendo mudança de vida quando na verdade mudou apenas quem se abrigava em gabinetes mais caros que as casas do bairro. Ferréz, escritor internacionalmente conhecido por retratar o cotidiano dos moradores do Capão em seus livros, também nasceu fruto deste rico histórico na região.

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A partir daí se deu o processo de construção de uma sede do PSTU na região, que pretende cada vez mais se aproximar dos trabalhadores e da juventude negra nas periferias. A atividade de lançamento foi uma festa que integrou a comunidade, com discussão política e muito som de grupos de rap da região, como no caso do “Terra de Nós” e “Cerberus”.

capao2Formado por uma juventude negra e periférica que não tem nenhuma confiança nas instituições do Estado Burguês, levaram um espírito de resistência e luta só presentes em quem faz de seus dias em constantes lutas para mudar a sociedade. A presença de jovens mulheres negras, marcando com suas poesias e músicas que, enquanto não se combater o machismo, não se obterá nenhuma vitória em qualquer luta, só mostra que o que vemos na sociedade é um grande levante feminino e negro, tendo as pretas à frente dos principais processos de luta.

Poetas da região, que organizam e constroem saraus no bairro, se apresentaram levando suas obras para serem expostas sob uma vibração muito positiva da comunidade. Foi lançado, como um espaço para aglutinar a todos os setores combativos que vem na arte um instrumento de batalha contra o capitalismo e todas as opressões o “Sarau Vermelho”, que ocorrerá mensalmente na nova sede e construído a partir da própria comunidade.

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A felicidade que transbordava sob os olhares de todos que estavam presentes era contagiante, conseguindo atrair a atenção da vizinhança que olhava para a festa não via um evento institucional, como de costume, mas sim uma atividade feita pelos e para os pretos da periferia.

Sem dúvida alguma há inúmeros desafios a serem cumpridos, e nós, do PSTU, nos orgulhamos da nossa ousadia em realizá-los. Enquanto parte da esquerda se mergulha nos círculos universitários tão distantes da realidade, seguimos a contramão das organizações lançando sedes na periferia. Acreditamos que nenhuma revolução será vitoriosa se não tiver à frente a periferia, com suas demandas e dirigindo as lutas.

Em uma conjuntura onde escolas e Fábricas de Cultura são ocupadas nas periferias, tercerizadas realizam greves vitoriosas, trabalhadores da construção civil e operários se mobilizam, coloca-se como desafio a todas as organizações a construção de verdadeiros quilombos em cada morro e quebrada. É acreditando nisso que acreditamos, e por isso que lançamos nossa sede como um espaço em construção para aglutinar e organizar lutadores e lutadoras da região.

Queremos a partir daí, junto com a juventude pobre e preta que se enfrenta com a PM racista, junto com os trabalhadores que se organizam contra o ajuste fiscal e todos os governos burgueses, junto com as mulheres negras e trans que fazem de seu dia-a-dia uma batalha mortal contra o capitalismo construir no Capão um enorme quilombo, um Quilombo Socialista!

Por Edu H. Silva, de São Paulo (SP)