Com o objetivo de debater com todos os ativistas a estratégia socialista, o PSTU deu início a uma série de discussões sobre o tema da Venezuela e o “socialismo do século 21” propagado por Hugo Chávez. As últimas edições do Opinião Socialista têm buscado aprofundar cada ponto do governo Chávez, de seu programa e de sua natureza. O último número trouxe um especial sobre o “socialismo do século 21”. Houve um grande interesse por parte da vanguarda, e centenas de exemplares foram vendidos no Encontro Nacional Contra as Reformas, no dia 25 de março.

Agora, queremos ampliar este debate. No próximo período, vamos promover palestras nas sedes do partido. As primeiras já estão marcadas e convidamos todos a participarem.

Um momento importante para essa discussão foi a palestra com Valério Arcary, promovida pelo PSTU no intervalo da Plenária Nacional Contra a Reforma Universitária e em Defesa da Educação Pública, em São Paulo. Cerca de 600 ativistas do movimento estudantil – majoritariamente – e do movimento popular assistiram com atenção à explanação de Arcary sobre a Venezuela e o que está por trás do “socialismo do século 21”.

Arcary iniciou sua fala indicando o lugar que ocupa a discussão acerca do socialismo em cada época. Durante a década de 1990, com a queda do muro de Berlim e a ofensiva neoliberal, a esquerda foi sacudida por um vendaval oportunista: muitos se perderam, acreditando que não havia mais saída por fora do capitalismo. Falar de socialismo, luta de classes, revolução mundial, ditadura do proletariado era considerado “fora de moda”. Os marxistas revolucionários eram vistos como verdadeiros dinossauros.

Hoje, dez anos depois da tão proclamada “vitória do capitalismo sobre o socialismo”, a panacéia da globalização e do neoliberalismo provou que não era capaz de resolver os mais básicos problemas dos trabalhadores. A verdade era o oposto: a precarização do mundo do trabalho se propagou em níveis assustadores. A exploração, a fome, a miséria e as diferenças entre pobres e ricos só se alargaram. A situação mundial mudou e a vanguarda voltou a discutir projetos estratégicos. O debate sobre o socialismo começa a ser retomado.

Arcary explicou que é justamente nos países periféricos que encontramos os pontos mais fracos do capitalismo. Não é à toa que na América Latina o século 20 foi marcado por grandes ondas revolucionárias.

O século 21 já se inicia com uma nova onda de revoluções no continente, aberta a partir de 2000, com o levante equatoriano, e depois processos revolucionários pelo menos na Bolívia, na Argentina e Venezuela. As massas trabalhadoras vão às ruas em resposta aos planos de recolonização do imperialismo que ataca brutalmente seu nível de vida. “Pela quarta vez, no intervalo de três gerações, os nossos povos latino-americanos são colocados em movimento e partem para esta luta com uma experiência histórica anterior”, afirmou.

E é nesse contexto que surge Hugo Chávez, que joga poeira nos olhos da esquerda, causando grande confusão. Boa parte da esquerda – que não havia se perdido na queda do Leste – está agora embriagada pela retórica antiimperialista de Chávez. Ao mesmo tempo em que promove uma cruzada anti-Bush no continente, Chávez segue pagando a dívida de seu país ao imperialismo, ajudando a financiar as guerras e a patrocinar a manutenção da exploração e da miséria no mundo.

Tampouco Chávez representa a classe trabalhadora venezuelana. Chávez reproduz uma fórmula que nada tem de novo: um governo nacionalista-burguês, com um programa burguês e um discurso de esquerda. Entretanto, como afirma Arcary, “não julgamos os governos pela literatura que eles produzem, mas pelo que eles fazem”.

A classe trabalhadora latino-americana sofreu uma série de desilusões nos últimos anos, depositando esperança em governos de Frente Popular, que logo mostraram estar do lado do capital. É obrigação dos revolucionários buscar a independência da classe, impulsionando a organização independente dos trabalhadores e apresentando-lhes um programa que tenha como estratégia não só a luta antiimperialista e anti-capitalista, mas a construção de uma sociedade socialista.

LEIA TAMBÉM:

  • Publication Date