Nos últimos dias houve um agravamento da crise política do país. A população trabalhadora assiste estarrecida a nova onda de lama que atinge em cheio o Planalto. Partidos, governo e Congresso: ninguém escapa do tsunami de corrupção.

O depoimento do marqueteiro Duda Mendonça, na CPI dos Correios, e a entrevista de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, à revista Época, confirmaram que Lula não apenas sabia do esquema de corrupção do seu governo como também cumpriu um papel ativo dentro dele. As revelações transformaram em poeira a versão fantasiosa de que Lula “não sabia” das falcatruas.

Na última sexta-feira Lula foi a TV pedir “desculpas” a nação e repetir a mentira de que não sabia de nada. A reação do presidente foi absolutamente inócua e defensiva, semelhante a de quem já está completamente grogue e quase nocauteado.

A crise é monumental. As novas denúncias foram o mais duro golpe no governo durante toda a crise política. Politicamente o governo acabou e assiste a sua base parlamentar se esfacelar. O clima de “salve-se quem puder” atinge também o PT e muitos parlamentares petistas estão anunciando a saída do partido, como, o senador Cristóvão Buarque, os deputados da chamada “esquerda petista” e até mesmo Aloísio Mercadante, líder do governo no senado, ameaçou abandonar o barco.

Por outro lado, a ruptura das massas com o governo se amplia. A nova pesquisa do Datafolha, realizada antes das novas denúncias, registra uma profunda queda da popularidade de Lula e uma pequena diferença entre aqueles que acham seu governo “bom” e “ótimo” (31%) contra 26% dos que avaliam de que o governo é “ruim“ ou “péssimo“. Além disso, pela primeira vez uma pesquisa registra uma derrota da candidatura Lula num eventual segundo turno contra José Serra (PSDB).

A hipocrisia da oposição burguesa
Enquanto isso assistimos um show de horrores e hipocrisia onde PSDB e PFL tentam aparecer como os grandes defensores da “ética” na política. Estes partidos são tão corruptos quanto o PT. Nos oito anos em que ficaram à frente do governo promoveram a maior bandalheira que esse país já viu, como a privatização das estatais, compra de votos no Congresso, doação de dinheiro público para banqueiros e uma longa ficha criminal.

As denúncias que explodem na CPI mostram que o atual esquema de corrupção de Marcos Valério não foi nenhuma criação original do PT. Já existia no governo FHC e foi amplamente utilizado pelo PSDB e PFL.

A briga entre PT e o bloco PSDB e PFL pode ser comparado ao conflito de dois bandos mafiosos que disputam quem vai controlar o poder do Estado para roubar mais. Não há nenhuma diferença fundamental entre estes partidos. Todos são corruptos e defendem o mesmo plano econômico de fome, miséria e arrocho.

O impeachment
As novas denúncias paralisam o acordão que se operava entre o PT, PSDB e PFL. A crise tomou uma dinâmica própria e colocou a possibilidade da burguesia chamar o impeachment de Lula. A grande imprensa e a oposição burguesa já se discutem abertamente essa hipótese, mas tal alternativa é tratada com bastante prudência, pois as novas denúncias não só revelam que Lula sabia das negociações de financiamento eleitoral, mas também atingem o vice-presidente, José Alencar. Na hipótese de afastamento de Lula e Alencar, o próximo na linha de sucessão seria o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), um dos maiores picaretas da história política do país e símbolo da corrupção no Congresso.

O Congresso do mensalão não possui a menor autoridade para votar a destituição do corrupto governo Lula. A maioria absoluta dos parlamentares está envolvida em todos os tipos de trambiques. Além disso, essa saída seria uma tentativa de resolver a crise por dentro do regime – via partidos e Congresso de Picaretas – e teria o objetivo de se prevenir diante da ameaça de que movimento de massas possa entrar em cena.

Por ora, os partidos da oposição burguesa, PSDB e PFL, não defendem o impeachment e seguem apostando numa forte pressão para que Lula renuncie a reeleição ou se desgaste o suficiente para que não possa se reeleger em 2006. Se Lula anunciar que vai abandonar a disputa eleitoral do ano que vem as bases para o acordão serão restabelecidas e PT, PSDB e PFL caminharam juntos para abafar a crise.

Plebiscito revogatório
Alguns partidos de oposição de esquerda ao governo começam a desenhar a proposta de realizar um plebiscito popular que poderia revogar o mandato de Lula e do Congresso, convocando a antecipação das eleições.

Entre os que defendem o plebiscito, está o PCB e o P-SOL. Este último partido realizará a reunião de sua direção nacional onde provavelmente aprovará essa proposta e seus parlamentares a apresentarão no Congresso Nacional. Para os companheiros do PSOL, a saída para a crise se daria por dentro das instituições da democracia dos ricos e corruptos. A questão fica mais clara quando lemos um texto assinado Roberto Robaina e Pedro Fuentes, da direção P-SOL. “As eleições, então, devem ser antecipadas e com novas regras. Embora acreditamos que esta seja a melhor opção para os trabalhadores e o povo nas condições atuais do país, temos clareza que é o próprio povo quem deve decidir”, diz o texto que ainda afirma, “É necessário, ademais, uma nova Constituição que refunde a república a serviço da maioria”.

Se uma lição foi tirada de toda a crise política do país, é de que não há a menor condição de acabar com a corrupção por dentro da democracia burguesa. Muito menos ainda conquistar a reforma agrária e expulsar o imperialismo “refundando” a República.

Está democracia e sua República é dos ricos e corruptos e funciona como uma verdadeira ditadura para os trabalhadores. As eleições são controladas pelo capital e pela grande mídia, onde os candidatos da burguesia sempre vencem.

Ao contrário do P-SOL defendemos uma estratégia oposta. Não queremos “refundar” a Republica burguesa e reorganizar suas instituições, como Congresso, Justiça etc. Queremos derrubá-la e substituir por um novo tipo de regime e Estado. Apenas uma revolução socialista no país e a construção de um Estado dirigido pelos trabalhadores pode acabar com a corrupção. Um novo Estado, com funcionários eleitos e controlados pelos trabalhadores, podendo ser destituídos a qualquer momento.
O P-SOL parece repetir o passado. A degeneração do PT começou justamente quando este partido resolveu abandonar a luta direta dos trabalhadores para abraçar a estratégia de “mudar por dentro” o regime. Deu no que deu. Quem mudou não foi o regime, mas o PT.

Mas há outro grave problema no plebiscito revogatório proposto pelo P-SOL. Caso as eleições fossem antecipadas, quem poderia ganhá-las, como indicam as pesquisas, seria o PSDB. Isso legitimaria um governo burguês de direita, dando um respiro à democracia burguesa, que vive hoje uma enorme crise.

O P-SOL deveria apontar a construção de saída para a crise que privilegiasse a ação direta dos trabalhadores.

Fora todos!
A crise se agrava e coloca o Brasil cada vez mais próximo das crises que assolaram países latino-americanos como Equador e Bolívia. Tal qual aconteceram nestes países, começa a haver um sentimento na população brasileira para “que se vayan todos“. FORA TODOS! FORA LULA, O CONGRESSO, PT, PFL E PSDB! Esse é o grito que deve ecoar das ruas e todas as lutas dos trabalhadores. É preciso construir grandes mobilizações de massa para derrubar o governo e o Congresso corruptos. A entrada do movimento de massas em cena é a única forma de apontar uma alternativa dos trabalhadores para a crise.

Por enquanto há dois campos burgueses em luta, capitaneados pelo PT, por um lado, e PSDB/PFL, por outro. A disputa entre estas quadrilhas não tem nada a ver com os interesses dos trabalhadores. Governo e oposição burguesa disputam apenas quem será o próximo a continuar a roubalheira do Estado e aplicar as ordens do FMI. Somos contra a realização de uma unidade de ação com a oposição burguesa. Isso significaria sacrificar a independência política dos trabalhadores e colaborar para que a quadrilha PSDB/PFL volte ao poder. Por isso é fundamental construir um novo pólo, um novo campo classista contra o governo, Congresso e oposição burguesa e que possa lutar contra a política econômica implementada por Lula e pelo imperialismo.

Esse novo pólo ainda não existe e só poderá surgir nas ruas e da mobilização independente dos trabalhadores que aponte rumo a uma greve geral. Se os trabalhadores tomam as ruas, como fez o povo boliviano na sua luta pela nacionalização do gás, teríamos uma situação completamente distinta.

Nenhuma saída “por dentro” do sistema (como o impeachment ou eleições gerais) poderá solucionar a crise. É hora de ir as ruas, desfraldar as bandeiras e gritar “fora todos!”. A marcha do dia 17 á Brasília, convocada pela Conlutas, está revestida de uma enorme importância. A marcha deve ser o primeiro passo no sentido de generalizar a manifestações pelo FORA TODOS em todo o país.