Mulher negra e socialista, na luta contra a opressãoDayse Oliveira, 36 anos, é professora e ativista do movimento negro, é a candidata do PSTU à vice-presidência. Dayse é a primeira mulher negra a concorrer a este cargo, ela sintetiza a luta contra a opressão — racista, machista e homofóbica — que é uma das tarefas fundamentais dos revolucionários e só poderá ser vitoriosa se apontar para a destruição do sistema capitalista, que se utiliza destes mecanismos para superexplorar enormes setores da população.

Opinião Socialista — Fale-nos um pouco sobre sua trajetória política?

Dayse Oliveira — Comecei a atuar politicamente em 1984, como estudante secundarista, no movimento pelas Diretas Já e na campanha em solidariedade à revolução nicaraguense. Em 1985, passei num concurso e comecei a militar no Sindicato dos Profissionais de Educação do Rio, como parte da oposição. No ano seguinte, entrei no curso de História da Universidade Federal Fluminense e, entre 1988 e 1992, participei da direção do Sindicato e também fui diretora da CUT do Rio.

A partir de 1995, quando me mudei para Niterói, iniciei um trabalho no movimento de bairros do Jardim Catarina, onde comecei a dar aulas num cursinho pré-vestibular organizado pelo movimento negro. Depois, como membro da Secretaria Nacional de Negros e Negras do PSTU, ajudei a organizar, em São Gonçalo, o Núcleo de Consciência Negra João Cândido, onde atuo até hoje. Também continuo lecionando e atuei na última greve da categoria que, teve um grave enfrentamento com o governo de Benedita da Silva. Por fim, tenho ajudado a impulsionar a campanha da Alca na cidade de Niterói.

OS — Você é a primeira mulher negra candidata à vice-presidência do país. Qual é o significado disso, particularmente num momento como o atual?

Dayse — Significa criar um espaço para a denúncia do racismo e, particularmente, da situação das mulheres negras. Mulheres que recebem os piores salários — em média um terço do que recebe um homem branco —, têm suas histórias deturpadas nos meios de comunicação e são vítimas preferenciais da violência machista. Mulheres que, no entanto, também são maioria entre as que mantém suas famílias sozinhas, estão nas mais diversas lutas e que, por isso mesmo, merecem ter poder.

OS — A Secretaria de Negros e Negras do PSTU tem como mote a palavra de ordem Raça e Classe. Como isso vai se traduzir na campanha eleitoral?

Dayse — Temos certeza de que a solução para este país está na mobilização para a construção de um governo dos trabalhadores. E, também, sabemos que a maioria da classe trabalhadora é negra ou “afrodescendente”. Por isso, queremos ajudar na conscientização desta população e demonstrar que negros e negras são capazes e devem lutar para cumprir um papel dirigente neste país, em aliança, obviamente, com os explorados de outras raças e todos os que são vítimas da opressão, como mulheres e homossexuais.

OS — Quais são os principais pontos do programa?

Dayse — A luta anti-racista deve ser obrigatoriamente anticapitalista e estar a serviço da construção do socialismo. Hoje isso significa, por exemplo, participar ativamente da luta contra a Alca, cuja implementação, do ponto de vista racial, é pra lá de desastrosa. Um exemplo radical disto é a história de Alcântara, uma terra remanescente de quilombos, que os Estados Unidos quer tomar conta.

Nossa candidatura também está a serviço de fazer uma discussão com o movimento negro sobre as políticas reparatórias — como cotas, por exemplo. Defendemos estes mecanismos por considerá-los válidos na luta pela diminuição do abismo que separa negros e brancos, mas os consideramos totalmente insuficientes, principalmente se não estiverem associados a um programa anticapitalista. Nosso programa inclui uma série de outros pontos que iremos apresentar no decorrer da campanha e podem ser conhecidos no link da Secretaria de Negros e Negras, no site do partido.


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