O PSOL vive uma séria crise que chega a ameaçar o seu próprio projeto do partido. O debate sobre um tema que deveria ser simples – a candidatura presidencial em 2010 – se transformou em uma novela que ameaça aprofundar ainda mais a crise.

A discussão deveria ser simples porque Heloísa Helena, a maior figura pública do partido, é a única candidata com expressão eleitoral de massas no espaço da oposição de esquerda ao governo Lula. Nas eleições de 2006 teve mais de seis milhões de votos, e nas pesquisas atuais aparece com cerca de 10% das intenções de voto.

No entanto, Heloísa não vai ser candidata à presidência. Ela, na prática, já renunciou à candidatura à presidência para disputar a vaga do Senado por Alagoas. Já anunciou que tem “mais de 95% de chances” de ser candidata ao Senado e não à presidência. É uma decisão já tomada, embora não formalizada.

Equívoco
Trata-se de um golpe duro no PSOL. A ausência de sua mais destacada figura pública da candidatura principal tira uma importante referência para a campanha. Nenhum dos outros pré-candidatos -Plínio de Arruda Sampaio, Milton Temer ou Babá- têm um espaço eleitoral de massas.

Demonstra duplamente o caráter do PSOL. Em primeiro lugar porque mais uma vez se demonstra que o que vale neste partido é a busca por mandatos parlamentares, por um espacinho no aparato de Estado. Em segundo, a decisão não é dos milhares de militantes do PSOL que construíram a figura pública de Heloísa e que, em sua maioria, a queriam como candidata.

A decisão, como é a prática socialdemocrata do PSOL, foi tomada única e exclusivamente por Heloísa. Ela está privilegiando a disputa pelo cargo de senadora a um projeto político nacional de oposição de esquerda ao governo Lula.

É um erro grave não só para o PSOL, mas também em relação aos outros partidos que compuseram a Frente de Esquerda em 2006, como o PSTU e o PCB. Foi essa frente que construiu a candidatura de Heloísa Helena em todo o país. E ninguém foi consultado ou sequer avisado.

Em um momento político delicado, quando o governo segue tendo a maioria entre os trabalhadores, a renúncia de Heloísa Helena presta um grande favor ao governo Lula e à oposição de direita.

O apoio de Heloísa à Marina Silva
Heloísa Helena, porém, não só está renunciando, como faz campanha pública para que o PSOL apóie Marina Silva, a candidata do PV à presidência. Utilizando-se do fato de ter acesso à mídia, ela declarou: “Tenho uma amizade pessoal com Marina. Somos irmãs. Compartilhamos questões familiares e preocupações políticas…”. E mais ainda: “Não vou para uma campanha eleitoral para fazer uma disputa ideologizada com a Marina. De jeito nenhum”.

Ela informou em entrevista a jornais de São Paulo, que apresentou a proposta de apoio à Marina à Executiva Nacional do PSOL, que está discutindo o que fazer. Uma definição sobre o tema será aprovada somente em março.
Ou seja, Heloísa não só faz campanha por Marina, como se utiliza da imprensa burguesa para pressionar o PSOL.

A candidatura de Marina Silva pelo PV é uma manobra política, estimulada desde o PSDB, para enfraquecer a candidatura Dilma Roussef (por Marina ser mulher e vir do PT) e para ocupar o espaço da oposição de esquerda. A campanha de Marina vai aglutinar setores da burguesia para tentar ocupar o espaço que deveria sim ser de uma terceira via, mas dos trabalhadores. Marina vai fazer uma campanha de “desenvolvimento sustentável”, com um programa que poderia relembrar o PT de alguns anos atrás.

O regime nas eleições se apoiaria, então, não em uma falsa polarização entre Dilma e Serra, mas também em uma falsa terceira via.

O PSOL, através de Heloísa, favorece a aplicação dessa manobra. As conseqüências podem ser muito sérias, inclusive para o próprio PSOL. Marina pode ocupar o espaço que anteriormente era de Heloísa. A fragilidade do PSOL como projeto político, mesmo reformista e eleitoral, aqui se manifesta: o PSOL detona o próprio PSOL.

O programa deixado de lado
O PSTU veio defendendo até agora que se formasse uma frente para as eleições de 2010, que incluísse o PSOL e também o PCB. Esta Frente deveria ter um programa socialista e classista, claramente diferenciado das opções da burguesia, inclusive de Marina. E ter como candidatos Heloísa Helena e Zé Maria.
Esta hipótese hoje está se tornando remota, por culpa do PSOL. E não só pela renúncia de Heloísa Helena, mas pela questão do programa. Quando Heloísa afirma que não vai fazer “uma disputa ideologizada com Marina” está expressando uma rejeição clara a um programa dos trabalhadores, que inclui sim um componente não só político, mas também programático e ideológico com Marina.

Não existe forma de se contrapor de forma consistente ao governo Lula sem se enfrentar com seu apoio à burguesia. Isso também inclui uma diferenciação com a oposição burguesa de direita …. e com Marina Silva, que terá em sua campanha representantes da patronal, como o presidente da Natura e Oded Grajew (empresário do ramo de brinquedos).

A contraposição ao programa de Lula inclui uma defesa da ruptura com o imperialismo e o capitalismo. Isso nos opõe também ao programa do desenvolvimento sustentável dentro do capitalismo defendido por Marina Silva.

Portanto, o PSOL, através de Heloísa Helena, está deixando de lado não só sua candidatura, mas também qualquer possibilidade de um programa de ruptura com o imperialismo e a rejeição das alianças de classes. Isso tem uma explicação: o próprio PSOL tem defendido um programa adaptado ao capitalismo e fez alianças com setores da burguesia em 2008 (PV em Porto Alegre, e o PSB de Capiberibe em Macapá).
Infelizmente, também as candidaturas alternativas à Heloísa dentro do PSOL –incluindo os representantes da esquerda, como Plínio de Arruda Sampaio e Babá- tampouco apresentam uma alternativa real a essa situação. Em seus manifestos de campanha, não fazem uma diferenciação real de programa, parando na auditoria da dívida. Além disso, não criticam as alianças de classes do PSOL, nem em Porto Alegre nem em Macapá.

Até o momento, se anuncia um retrocesso do PSOL de conjunto, nas candidaturas e no programa. Nós do PSTU, que propusemos uma Frente Classista e Socialista nas eleições de 2010, constatamos que as condições para que essa proposta se efetive agora são bastante remotas.

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