No último dia 6, milhares de colombianos saíram às ruas em todo país protestando contra o desaparecimento de milhares de pessoas executadas por paramilitares nos últimos anos. Entre outras regiões, ocorreram manifestações em Bogotá, capital do país, e nas regiões de Cali, Medelín, Pereira e Armenia. O protesto reuniu ativistas dos direitos humanos, sindicalistas, organizações estudantis e partidos de oposição ao governo.

A marcha foi convocada pelo Movimento Nacional de Vítimas dos Crimes de Estado com um objetivo nitidamente democrático: denunciar e exigir a punição contra o assassinato vítimas do paramilitarismo, a parapolítica (políticos ligados ao “paras”) e os agentes do Estado.

Contudo, não foram poucas as pressões para que a marcha se desviasse desses objetivos para preservar o governo e condenar os seqüestros de uma forma geral. Uma manobra que tentava confundir a necessidades democráticas das massas com os objetivos reacionários do governo e da burguesia. Isso explica o motivo da participação de políticos burgueses no protesto e alguns cartazes denunciando o “terrorismo” das Farc.

No entanto, diferente da marcha reacionária de 4 de fevereiro, organizada pelo governo direitista e pelos meios de comunicação da burguesia colombiana, com o propósito de legitimar a política de “Segurança Democrática” de Uribe, na marcha de 6 de março pode-se ouvir gritos de “Uribe, fascista, você é terrorista” e cartazes lembrando a relação do governo com os grupos paramilitares.

No ano passado, parlamentares governistas foram presos por ligação com os “paras”. Uma ministra também foi obrigada a renunciar depois que seu pai e irmão estavam entre os presos “Meu único filho, José Domingo Carrero Barrera, foi seqüestrado, torturado e assassinado no dia 7 de abril de 1992, quando tinha 26 anos. Estudava engenharia e era da UP, esse foi seu delito. Quatro dias depois, encontramos seu corpo: estava encapuzado, as mãos atadas e os pés amarrados. Tinha tiros na cabeças”, declarou emocionada María Elena Barrera, mãe de um militante da União Patriótica (UP), partido de oposição formado nos anos 1980.

O regime político colombiano é profundamente autoritário e historicamente não permite nenhuma margem à oposição política legal. O maior exemplo disso foi o extermínio da UP. O Filho de María Elena Barrera foi um dos cinco mil militantes da União Patriótica assassinados pelos “paras”.

O Partido Socialista dos Trabalhadores (PST, filiado a LIT-QI), declarou sua participação no protesto, exigindo que ele tivesse um claro conteúdo de denúncia contra os crimes do governo e dos paramilitares: “Nossa participação tem o objetivo de exigir um verdadeiro castigo aos responsáveis materiais e intelectuais da barbárie paramilitar, plena reparação das vítimas e fortalece a autonomia política das organizações operárias e populares” , afirmava o editorial do ‘El Socialista´, jornal do partido.

Em Bogotá, vários manifestantes também empunhavam cartazes e faixas contra as torturas e mortes causadas pelos “paras”. Muitos levaram retratos das centenas de milhares de vítimas da violência do “paras”. Outros ainda, vestidos como Tio Sam exigiam o fim da matança de sindicalistas e ativistas políticos.

No mesmo dia da marcha, teve inicio o IV Encontro Nacional de Vítimas dos Crimes de Estado, cuja previsão é reunir mais de dois mil delegados.

Segundo o PST, o encontro “deve ser parte de um plano de ação que em 2008 nos permita rearticular a resistência aos planos de Uribe e do imperialismo, para a construção de uma paralisação nacional que volte a levantar como consigna de massas, agitada nas mobilizações de maio de 2007: às ruas, derrubar o governo paramilitar!”.