Tudo pronto para o ato público contra as demissões e em defesa do emprego que ocorre nesse dia 8 na cidade mineira de Itabira, berço da companhia Vale do Rio Doce. É o primeiro ato contra a crise econômica no país e seus efeitos sobre os trabalhadores. O Metabase, sindicato que representa os trabalhadores das minas de Itabira e região, percorreu a cidade convocando o dia de luta, com 100 mil panfletos e carro de som. Até mesmo um outdoor convoca o protesto, organizado por uma ampla frente que reúne desde igrejas à prefeitura da cidade, com o sindicato à frente.

Caravanas de diferentes partes do país chegam à pacata cidade de 110 mil habitantes, cercada por montanhas. A crise econômica e as demissões anunciadas pela Vale, assim como a ameaça de uma onda de demissões na cidade, trazem um clima de comoção no município. Toda a economia local gira em torno da Vale. Cerca de 20% da população trabalha na mineradora, de forma direta ou indireta.

Mentiras da Vale
A preocupação da população itabirana não é por pouco. A Vale anuncia que a região foi a menos afetada pela crise e as 1300 demissões anunciadas no final do ano. A empresa privatizada argumenta que apenas 71 trabalhadores foram mandados embora em Itabira. A realidade, porém, é bem pior. “O que a Vale não diz e a imprensa omite é que foram demitidos mais de 1.500 trabalhadores terceirizados, só na região de Itabira“, denuncia Paulo Soares, atual presidente do Metabase, ligado à Conlutas. “Isso para uma cidade como Itabira, causa um impacto enorme”, , completa. Mais de 7 mil trabalhadores estão em férias coletivas.

A redução da produção da Vale na cidade foi drástica. De 120 mil toneladas diárias passou a 60 mil toneladas. Os carregamentos por trem para escoar a produção caiu de 22 para uma média de apenas 4 por dia. Para se ter uma idéia do impacto dessa crise na cidade, a prefeitura avalia que a paralisação de uma das minas, a de Cauê, que deu início às atividades da Vale em 1942, causa uma queda de R$ 30 milhões na arrecadação do município. A empresa cogita até mesmo fechar a mina de Brucutu, na cidade próxima de São Gonçalo do Rio Abaixo, considerada a maior mina a céu aberto do mundo.

Para as cidades mineradoras, a cada emprego perdido na mineração, outros tantos desaparecem em outros setores. Além das demissões, a empresa também pressiona para que os sindicatos aceitem a rescisão temporária dos contratos de trabalho. A velha chantagem é, mais uma vez, a manutenção dos empregos. “Já dissemos que não vamos aceitar nenhum tipo de flexibilização”, assegura Soares. Nas minas, ao trabalho duro e pesado da extração mineral, soma-se a pressão constante da direção da Vale.

Funcionários contam que foram pressionados e ameaçados para não participarem das atividades do sindicato. A Vale, por outro lado, faz uma forte ofensiva de mídia em resposta ao ato. Dois dias antes do ato, convocou a imprensa local para uma coletiva. A nível nacional, publica anúncios de página inteira nas principais publicações do país contestando a crise e as demissões.

Dia cheio
O dia de luta tem início na madrugada do dia 9, com paralisações nas entradas das minas seguido de ato público. Confira o cronograma para o dia:

MANHÃ
Paralisação das Minas
05h30 – Início das paralisações das minas Cauê e Conceição
08h – Ato Público e Ecumênico na portaria das minas

TARDE
13h – Praça Acrísio – Concentração Cívica em Defesa do Emprego e dos Municípios Mineradores. Com atividades artísticas e culturais (música, cantores da região, teatro e dança). E com uma tribuna popular (aberta às entidades dos movimentos sindicais, populares, religiosos,culturais e demais segmentos da sociedade civil)
16h – Marcha Cívica, da Praça Acrísio até a Rodoviária
17h – Ato Público, na Praça da Rodoviária