A publicação do “Manifesto Comunista”, em fevereiro de 1848, é um marco na história da humanidade. Depois deste fevereiro a classe operária terá em suas mãos uma interpretação científica da sociedade e da história. Pode agora formular suas tarefas de forma consciente na forma de um programa, sintetizado magistralmente no “Manifesto”: a luta pelo socialismo.

O mundo atual não pode ser compreendido sem levar em consideração as vitórias e as derrotas do proletariado contra a nova forma de escravização do homem: o trabalho assalariado. A história desta luta tem uma data, fevereiro de 1848. A partir de então, nada será como antes…

Um convite à leitura
A leitura do “Manifesto” é indispensável, 160 anos depois de sua publicação. Marx e Engels, depois do congresso da Liga dos Comunistas em 1847, foram incumbidos de escrever o programa desta associação operária internacional. Mas não se limitaram neste texto a descrever as tarefas imediatas da classe operária. Ao contrário, buscaram uma explicação do mundo e a razão de ser das coisas que nos cercam e vinculada a esta interpretação, as tarefas do proletariado, não para o momento, mas para todo um período histórico.

“A idéia fundamental que percorre todo o Manifesto é a de que, em cada época histórica, a produção econômica e a estrutura social, que dela necessariamente decorre, constituem a base da história política e intelectual dessa época; que consequentemente (…) toda a história tem sido a história da luta de classes, a luta entre explorados e exploradores (…) esta luta, porém atingiu um ponto em que a classe oprimida e explorada (o proletariado) não pode mais libertar-se da classe que a oprime (a burguesia), sem que, ao mesmo tempo, liberte para sempre toda a sociedade da exploração, da opressão e da luta de classes”. Desta forma sintetiza Engels o conteúdo do “Manifesto” no prefácio da edição alemã de 1883.

Partindo então desta metodologia, os autores passaram a explicar como surgiu e se desenvolveu a burguesia; o papel revolucionário que cumpriu destruindo a antiga ordem feudal. Depois nos explicam como surge e se desenvolve o proletariado e por que este é a única classe revolucionária no capitalismo. Além de nos explicar o funcionamento do capitalismo, sua anatomia, suas crises e porque ele deve ser sucedido por uma nova sociedade, organizada sob novas bases.

O próprio Marx indicava 25 anos depois da publicação do “Manifesto”, que alguns trechos do mesmo deveriam ser revistos, em particular o programa imediato que está no final da seção II, e os temas abordados na seção III e IV, que refletiam a luta política na conjuntura em que foi escrito o texto. Assim o que devíamos buscar no “Manifesto” segundo o próprio Marx eram “os princípios gerais [que] conservam toda sua exatidão”.

E nestes princípios gerais está sintetizado: “os comunistas podem resumir sua teoria numa única expressão: supressão da propriedade privada”.

A atualidade do Manifesto
É possível um texto escrito há 160 anos conservar sua atualidade? É possível reivindicá-lo ainda como um texto programático? Não seria o “Manifesto” somente uma “curiosidade” histórica?
Nossa resposta é que os princípios gerais do “Manifesto” conservam sua atualidade, sua leitura ainda é um preciso guia para a ação. Os próximos números do Opinião Socialista farão uma homenagem ao “Manifesto” com uma série de artigos de atualizações e polêmicas que marcam sua publicação.

Neste artigo queremos destacar um elemento que nos parece fundamental, além da estratégia da supressão da propriedade privada. Em um trecho do “Manifesto”, lemos: “os operários não têm pátria” – e acrescenta – “o desenvolvimento do capitalismo determina o caráter internacional da revolução proletária”.

A própria edição do “Manifesto” foi subproduto da luta internacional da classe operária, a Liga Comunista que abrigava de inicio os operários alemães emigrados. Este princípio exposto no “Manifesto” foi convertido pelo stalinismo em outro, o da “Pátria Socialista” que não foi outra coisa que a liquidação da revolução socialista mundial, em função dos interesses contra-revolucionários da burocracia.

A expressão mais clara desta estratégia reacionária de construir o “socialismo em um país”, teoria oposta aos princípios do “Manifesto”, foi a dissolução da III Internacional por ordem de Stálin, para agradar seus aliados imperialistas. Esta ação da burocracia stalinista selou os destinos do Estado operário. Neste ano também comemoramos os 70 anos de fundação da organização que retomou os princípios do manifesto, a IV Internacional.

Estas duas datas, os 160 anos do Manifesto Comunista e os 70 anos da conferência de fundação da IV Internacional, têm um elo de continuidade programático que pode ser expresso também em uma frase: “Proletários de todos os
países, uni-vos”.

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