Na noite do dia 7 de junho, mais de 100 pessoas compareceram ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, para o primeiro debate do ciclo “30 anos da construção de um partido revolucionário no Brasil”. Esta foi a primeira atividade do Projeto Memória que em 2004 fará uma série de eventos para marcar os 10 anos do PSTU, contar a história das correntes que deram origem ao partido e dos 30 anos da formação da corrente que deu origem à seção da Liga Internacional dos Trabalhadores no Brasil.

O debate com Bernardo Cerdeira e José Welmowicki deteve-se sobre o período entre 1971, quando militantes exilados no Chile tomam contato com o trotskismo; até 1979, com a formação da Convergência Socialista e as greves no ABC. Os dois contaram como foram os primeiros anos da construção da Liga Operária, a formação dos núcleos estudantis, principalmente na UFF e UFSCAR, a participação do jornal Versus, o chamado ao movimento Convergência Socialista e, já em 1979, à formação do PT.
A maioria do plenário tinha acabado de chegar do Concut. Enquanto os mais novos escutavam sobre as origens de seu partido, os mais antigos reagiam lembrando onde estavam em determinada atividade ou se reconhecendo nas fotos do telão. Muitos deram depoimentos sobre sua militância. Valério Arcary lembrou do primeiro contato com os militantes brasileiros, ao chegar de Portugal, onde participou da Revolução dos Cravos. “Tinha um ponto marcado em um apartamento. Quando dobrei a esquina, comecei a escutar a Internacional. Fui andando, olhei para a janela e vi duas bandeiras vermelhas e caixas de som tocando a Internacional ao máximo, como se a ditadura simplesmente não existisse”.

Esta audácia e coragem foram lembradas por muitos como fundamentais para o crescimento da organização, que em 1978 já somava 800 militantes. Zé Maria tomou contato com a Liga Operária um pouco antes. Trabalhava em uma metalúrgica do ABC e tinha entrado para a faculdade de Matemática. Foi na calourada da Ciências Sociais e conheceu um militante da Liga. Convidado para uma panfletagem do boletim Faísca, distribuído nas fábricas, ele foi. A polícia apareceu e prendeu todos. Dois dias depois, uma batida na casa de uma militante ligou o grupo à Liga Operária. “Me levaram a uma sala onde tinha um monte de documentos e jornais da Liga. – O que é isso aí? Sei lá, ué!” Ele dizia a verdade. Só foi conhecer essa tal de Liga Operária quando foi solto.

A entrada de Cyro Garcia na Liga também é curiosa. Ele conheceu uma militante nas aulas de francês, que freqüentava depois que saía do Banco do Brasil. Entrou para a Oposição Bancária, num momento em que muitos estavam sendo presos. Numa das investidas da repressão, Cyro estava em Minas. “Estava lá, mas não conseguia esquecer que meus companheiros estavam presos. Voltei e liguei para um militante avisando. Ele ficou surpreso. Nos encontramos e fui logo dizendo que queria entrar no partido”.

Durante o debate, muitos se emocionaram. Cyro teve de interromper seu depoimento, ao recordar companheiros que morreram, como os que militavam com ele na Oposição Bancária. O ato foi encerrado com a homenagem a Rosa e José Luis Sundermann, dirigentes do PSTU assassinados no dia 12 de junho de 1994, e com a Internacional Socialista.

Para adquirir a fita com a gravação do debate ou ajudar no projeto, escreva para memó[email protected]

Post author Gustavo Sixel,
da redação
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