Professores caminham rumo à Pça da República
Diego Cruz

Manifestação parou o centro financeiro do país, desmentindo a propaganda do governo e da mídiaUm mar de gente tomou conta da Avenida Paulista na tarde desse dia 19 de março, durante a assembleia dos professores que decidiu pela continuidade da greve que completa já duas semanas. Segundo a Apeoesp, principal sindicato da categoria, a assembleia realizada no vão livre do Masp reuniu 60 mil professores. A imprensa, que faz campanha aberta de boicote à greve, seguiu os números oficiais da PM e deu “8 mil”.

A guerra dos números se estende aos índices de paralisação. Enquanto o governo insiste em informar que apenas 1% da categoria está parada e que as escolas funcionam normalmente, os professores dizem que a paralisação chega a 70% e que o movimento está crescendo. Fato que pôde ser observado naquela tarde.

Conquistando a Paulista
Os professores foram recebidos por um forte aparato policial, que mesmo antes da assembleia, marcada para as 14h, se posicionava ao lado do Masp. Cordões policiais se perfilaram nas calçadas das duas vias da avenida, a fim de impedir que os professores ocupassem totalmente as ruas.

Por volta das 14h30, porém, já dava pra perceber que mesmo aquele contingente policial não seria capaz de conter a massa de professores que se formava no vão do Masp e transbordava para a avenida. A PM logo percebeu que não conseguiria manter a via livre e retirou o primeiro cordão de policiais, sob aplausos dos professores. A partir daí, uma verdadeira demonstração de correlação de forças se estabeleceu entre os professores e os policiais.

Apenas uma das vias já não suportava tamanho contingente. “Vem, vem!”, os professores chamavam então os colegas que estavam do outro lado da barreira policial, que não permitiam a passagem de ninguém. As pessoas deram a volta e contornaram o cordão, ocupando o outro lado da avenida e “ilhando” a PM. Fim da batalha, os professores venceram e, comemorando, ocuparam totalmente a Paulista. Os policiais se retiraram e permaneceram em formação no outro quarteirão.

Essa foi apenas um dos vários obstáculos colocados pelo governo Serra para impedir e dificultar a manifestação. Os ônibus que vieram do interior foram parados pela polícia e fotografados. O espaço aéreo da região foi fechado para que a imprensa não pudesse fotografar a extensão da manifestação, imagem que poderia desmentir a mentira alardeada pelo governo e repetida por boa parte da mídia, de que o movimento conta com baixa adesão.

A greve continua!
Os professores aprovaram a continuidade do movimento, com nova assembléia e manifestação na próxima semana no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Apesar da truculência, a greve cresce a cada dia. Os professores exigem reajuste de 34% (reposição das perdas de 1998 até hoje), fim da política de avaliações do governo estadual e abertura de provas classificatórias para a efetivação dos professores temporários, hoje quase metade dos professores em atividade.

“Vamos exigir ainda o pagamento dos dias parados, não vai ter reposição se não houver pagamento” , avisa João Zafalão, diretor da Apeoesp pela Oposição Alternativa. Após a assembleia, os professores caminharam em passeata pela Avenida Consolação, em direção à Praça da República. “Agora só falta a Globo dizer que tem 5 mil! “, desabafa um professor, demonstrando a revolta generalizada na categoria diante da manipulação realizada pela imprensa.

Nas ruas e nas janelas dos prédios, a população aplaudia aquele enorme rio de gente que passava, empunhando bandeiras e cartazes. Palavras de ordem atacavam o governador José Serra, mas expressavam principalmente o descaso e o caos com a educação pública.

Contra Serra e a política do governo Lula
A direção majoritária da Apeoesp, a Articulação, corrente petista ligada à CUT, concentrou seu discurso no ataque ao governo Serra. “Já tivemos nossa primeira vitória, que foi a queda de Serra nas pesquisas eleitorais“, chegou a discursar um dirigente. “Vamos deixar Serra ser presidente?” , indagava outro, enquanto os professores respondiam: “nãããão” .

A verdade, porém, é que a política educacional aplicada pelo governo Serra em São Paulo segue as diretrizes traçadas pelo governo Federal. “Temos que atacar sim o Serra, mas não podemos esquecer que o que Serra faz aqui segue o que o governo Lula implementa na área” discursou Zafalão, referindo-se ao PDE, o Plano de Desenvolvimento Educacional de Lula.

O vice-presidente da Apeoesp e da Executiva da Conlutas, José Geraldo, o Geraldinho, responsabiliza tanto Serra quanto Lula pelo atual caos na Educação pública. “O PDE do governo Federal e as 10 metas do governo Serra tem o mesmo conceito educacional: que a Educação deve ser construída a partir de ilhas de excelência, acompanhada de uma política meritocrática, e de avaliação da mão-de-obra de forma descontextualizada do ensino e aprendizagem” , explica, o dirigente. “Nesse sentido, a política de Lula, do ministro da Educação Haddad, de Serra e do secretário da Educação, Paulo Renato, é a mesma“, finaliza.