Protesto exige o fim do corte de dias parados e o atendimento às reivindicações da greveEm greve desde o dia 2 de maio, os professores do estado da Paraíba foram surpreendidos na sexta-feira com o desconto dos dias parados. Cerca de 20% dos professores, ao conferirem seus contracheques pela internet, se depararam com o desconto de até R$ 700, referente aos dias de greve. “Além de ser uma medida arbitrária, de um governo que tem se mostrado intransigente com a greve, o corte do ponto ainda foi completamente aleatório. Há professores que não estão na greve e tiveram o salário descontado”, conta Lissandro Saraiva, o “Tanque”, militante da CSP-Conlutas em João Pessoa.

Diante do corte, a reação foi imediata. Logo após a assembleia desta segunda-feira, 30, cerca de mil professores saíram em passeata e ocuparam o Palácio da Redenção, em busca do governador Ricardo Coutinho (PSB). “Aqui dentro do prédio deve ter umas 600 pessoas participando na ocupação. O governador não quer nos receber e avisou que não vai voltar atrás no desconto”, conta Lissandro. “Mas a revolta é grande e não sei quando sairemos daqui”, avisa.

Aritmética perversa
A greve na Paraíba começou exigindo um reajuste de salário, e o cumprimento da lei que estabelece o piso nacional da categoria. A Paraíba não cumpre sequer o piso sugerido pelo Ministério da Educação, em torno de R$ 1.187. “O governador disse que, no futuro, quando ‘colocasse as contas do estado em dia´, ele iria cumprir a lei”, conta Lissandro. Diante da pressão dos professores, o governo buscou manobras, como a criação de uma bolsa de desempenho, no valor de R$ 230.

O outro “jeitinho” encontrado pelo governo foi a incorporação da Gratificação de Estímulo à Docência (GED) ao salário. “Essa foi uma grande manobra. Com a incorporação, o estado alcança o piso nacional. Mas, na prática, o salário é o mesmo, não tem aumento real!”, denuncia Lissandro.

A proposta apresentada pelo governo já havia sido derrotada na assembleia anterior, no dia 20, quando inclusive os professores passaram por cima da orientação do sindicato, da CUT, de acabar com a greve. A maioria votou pela continuidade do movimento, que atinge cerca de 75% da categoria.

Os professores da Paraíba buscam ainda uma visita de Amanda Gurgel, professora do Rio Grande do Norte, cujo desabafo foi visto por mais de 1,5 milhão de pessoas no Youtube. “O discurso dela repercutiu muito aqui, até porque a situação é muito parecida. A Paraíba é um dos estados mais pobres do país”, conta Lissandro. “Antes da greve, um professor de nível médio recebia R$ 672 para trabalhar 30 horas”, denuncia.