Ação coordenada da Polícia Federal prendeu, no último dia 8, acusados de uma série de crimes financeiros. Entre os célebres presos estão o megainvestidor Naji Nahas, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta e o banqueiro Daniel Dantas, dono do banco Opportunity. Gestão fraudulenta, formação de quadrilha, evasão de divisas e lavagem de dinheiro estão entre os crimes investigados pela Operação Satiagraha.

Uma das principais acusações que recaem sobre Dantas é o desvio de recursos públicos e evasão ilegal de divisas, ou seja, a remessa irregular de dinheiro ao exterior. Grande parte seria fruto de operações ilegais de privatizações. Uma empresa de fachada de Dantas, sediada num paraíso fiscal, teria movido, entre 1992 e 2004, algo em torno de US$2 bilhões.

As investigações que desencadearam as prisões arrastam-se há anos no Ministério Público e na Polícia Federal. São desdobramentos do escândalo do mensalão, que balançou o governo Lula em 2005. O caso revelou um megaesquema de desvio de recursos públicos de estatais para a compra de deputados em votações importantes para o governo.

Tais desvios eram realizados através de contratos entre estatais e empresas privadas. Uma das principais cabeças desse esquema era o publicitário Marcos Valério. O empresário comandava um esquema que ficou conhecido como “valerioduto”, por onde jorrava os recursos desviados. As principais empresas que abasteciam o valerioduto eram a Telemig e a Amazônia Celular, comandadas por Dantas. Essas empresas injetavam recursos nas agencias de publicidade de Valério, DNA e SMPB.

Público e privado
As recentes prisões escancaram as relações promíscuas entre o setor público e privado. O próprio banqueiro Daniel Dantas fez fortuna através de sua aproximação com o poder. Primeiramente através do PFL e do falecido Antônio Carlos Magalhães, que abriu as portas do governo Collor para o banqueiro. Posteriormente, Dantas se esbaldou na farra das privatizações do governo FHC.

Com informações privilegiadas fornecidas pelos tucanos, o banqueiro montou o Opportunity Fund, que participou das privatizações do sistema Telebrás. No governo Lula, Dantas se aproximou do PT, aonde provocou cisões. O banqueiro tornou-se adversário de Gushiken, devido às disputas entre o Opportuniy e os fundos de pensão pelo controle da Brasil Telecom. Foi aí que Dantas começou a ser investigado pela CPI dos Correios.

Além de ter se aproximado do então tesoureiro petista Delúbio Soares, o banqueiro contratou os serviços de Luiz Eduardo Greenhalgh, petista histórico que ficou conhecido por atender perseguidos políticos e ativistas de esquerda e movimentos sociais. A prisão de Greenhalgh chegou a ser requisitada pela Polícia Federal e o Ministério Público, mas foi negada pela Justiça.

O especulador Naji Nahas seria responsável por lavar o dinheiro desviado e permitir a volta das remessas mandadas ilegalmente ao exterior. Atuaria num segundo grupo da quadrilha. O ex-prefeito Celso Pitta seria cliente de doleiros ligados a Nahas, que lavariam os recursos desviados em esquema de corrupção em seus tempos de governo.

Justiça de Classe
Além de expor as relações entre público e privado e as ações parasitárias de empresas e políticos no desvio de recursos do Estado, as prisões escancararam as relações entre Dantas e o Supremo Tribunal Federal. Primeiro, o banqueiro ofereceu US$ 1 milhão a um delegado para se ver livre do processo no qual estava metido. Em meio às negociações com o delegado, os representantes do banqueiro chegaram a afirmar: “Dantas não tem medo do STF, lá ele resolve fácil, o problema é na primeira instância”.

Tão logo o banqueiro foi preso, Gilmar Mendes, atual presidente do STF atacou a “espetacularização” das prisões, o uso de algemas e uma suposta abusividade da ação. Um dia após a prisão preventiva, coincidentemente no dia internacional da pizza, Mendes mandou soltar Dantas. Isso após o banqueiro ter tentado subornar o delegado. Gilmar Mendes nem mesmo tem a preocupação de esconder que age como funcionário de Dantas no STF.

O dono do Opportunity foi solto na manhã do dia 10 e, no mesmo dia, retornou à prisão devido às provas encontradas pela polícia. No entanto, a Justiça mandou soltar Pitta, Nahas e uma série de acusados.

Disputas
Resta saber, agora, até quando Dantas ficará preso. O que se sabe, porém, é que sua prisão e toda a operação não sinalizam uma mudança na Justiça. São frutos de disputas societárias e lutas no interior da direção da Polícia Federal. Serve, porém, para expor o submundo podre das relações parasitárias entre políticos, o governo e empresários no desvio de recursos públicos.