O segundo semestre vem demonstrando que o jogo político está cada vez mais complicado para o governo Lula. Ele segue contando com o apoio da maioria dos trabalhadores, apesar de fazer um governo adorado pelas grandes empresas. Tem a aprovação da CUT e da UNE para todas as suas falcatruas, inclusive a última, com José Sarney. Conta com a recuperação parcial da economia para jogar a crise para depois das eleições de 2010. Utiliza a colaboração da mídia para encobrir a indignidade da repressão das tropas brasileiras ao povo haitiano.

Mas, mesmo assim, os problemas estão crescendo. Primeiro, existe um descontentamento crescendo dentro das empresas, que não aparece na mídia e as pesquisas não se preocupam em registrar. Os salários baixos e o ritmo de trabalho estão fazendo aumentar um clima de bronca que vai acabar se expressando nas campanhas salariais deste semestre, que começam a se colocar em movimento.

Categorias de importância no movimento sindical estão se mexendo, muitas delas diretamente envolvidas com polêmicas políticas. São os metalúrgicos, com todo seu peso econômico e tradição política no país, que atingem Lula. Petroleiros, no coração do debate atual sobre a exploração do pré-sal. Bancários, que enfrentam o setor mais influente da burguesia do país. Funcionários dos Correios, também no meio de um debate sobre a privatização. Trabalhadores da mineração enfrentando a Vale, que ameaça reagir com redução de investimentos e demissões à queda em seus lucros. Operários da construção civil que constroem casas e não podem comprá-las em plena discussão sobre o programa Minha Casa, Minha Vida, tema das páginas centrais deste jornal.

Está se abrindo, em todo o país, um momento muito importante no movimento sindical em que, além das questões de salário e emprego, estarão em debate projetos do governo e disputas políticas. Tudo isso deve reacender a disputa pela direção do movimento. A CUT e a Força Sindical, mais uma vez, estarão a serviço da patronal e do governo para evitar conflitos e problemas, ou seja, para que não haja lutas e a candidatura de Dilma Rousseff não seja afetada, nem Lula saia arranhado. A Conlutas, junto com os sindicatos e oposições combativas, tem se credenciado como alternativa de direção concreta, para encaminhar essas lutas e buscar sua unificação.

Além das campanhas salariais, o governo ainda tem de deter o desgaste causado pela gripe suína e a crise no Senado. A gripe começa a refluir, não pela ação do governo, mas pelo fim do inverno. Ainda segue crescendo o número de mortes do país, claramente subestimado pelo governo. A estatística no Brasil é maior que na Argentina, já em segundo lugar em mortos no mundo. Mas, mesmo assim, estão completamente subestimados. É provável que, já neste momento, o Brasil seja o país do mundo com mais mortes pela gripe. Um triste recorde devido ao crime do governo de não distribuir amplamente o Tamiflu para todos os gripados, por não querer quebrar a patente do medicamento.

O governo conseguiu escapar, ao menos por enquanto, da crise do Senado, com o acordão fechado com a oposição burguesa e o apoio da imprensa. A mídia deixou de noticiar as mobilizações pelo Fora Sarney, com o objetivo óbvio de enfraquecê-las.

Mas esse tema não foi esquecido e nem aprovado pelos trabalhadores. Uma coisa é que, na medida em que apoiam o governo, estes terminam por aceitar a grotesca cena de corrupção aberta no Senado. Mas esse tema vai seguir como fonte de desprestígio constante, cada vez que Sarney aparecer no noticiário. Arranha o governo, embora não leve a rupturas importantes.

Os primeiros movimentos da campanha eleitoral
As complicações para o governo não param por aí. O país começa a viver os primeiros movimentos da campanha eleitoral de 2010, e o projeto eleitoral do governo com Dilma Rousseff apresenta sinais de crise. A ministra começa a ser alvo permanente, com mais desgaste que o próprio Lula pelas crises no governo. Está sendo assim com a crise de Sarney, que não afetou a popularidade do presidente, mas segue levando crise para Dilma, com o episódio da reunião com Lina Vieira.

Lula, com a ministra, paga o preço de não se ter criado figuras de peso para sua substituição. Paga o preço da domesticação da CUT e da UNE, que hoje têm à sua frente funcionários a serviço do governo, figuras que não têm nada a ver com o peso próprio dos antigos dirigentes dessas entidades. Paga o preço dos escândalos como o do mensalão, que queimou figuras que poderiam ser alternativas, como José Dirceu.

O governo vai insistir em Dilma, mas já sabe que terá mais dificuldades do que imaginava na transferência dos votos de Lula. E terá de ir pensando em um plano B, caso ela não emplaque. Aliás, Antonio Palocci, levantado como opção a Dilma, é quase uma piada, um deputado que tem de esconder pelo grau de irritação que causa, quase um Delúbio Soares.

Por isso, o lançamento da candidatura de Marina Silva causou tanta preocupação no governo. A ex-ministra aproveitou o momento da crise de Sarney para romper com o PT, se filiar ao PV e assumir a candidatura a presidente. Uma manobra (útil a José Serra) para dividir o campo governista e ocupar o espaço da esquerda.

Construir uma alternativa dos trabalhadores para as lutas e as eleições
O Brasil precisa realmente de uma nova alternativa, um campo dos trabalhadores. Precisamos ter os trabalhadores em ação nas campanhas salariais do segundo semestre. Precisamos fortalecer uma nova direção para os trabalhadores nessas lutas, através da Conlutas, em alternativa ao peleguismo da CUT e da Força Sindical.

E precisamos de um campo dos trabalhadores também em termos eleitorais. Isso significa que é necessária uma frente de esquerda socialista e classista para as eleições de 2010, que inclua PSOL, PCB e PSTU. Essa frente, se não estiver baseada em um programa socialista e uma independência da burguesia, não conseguirá ter um espaço próprio, uma diferença clara com a campanha de Marina. E essa frente tem de se materializar em nomes como os de Heloísa Helena para presidente e Zé Maria para vice.

Post author Editorial do Opinião Socialista Nº 386
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