Redação

Neste dia 28 de setembro, seguiremos na luta pela vida, em defesa da legalização e das mulheres trabalhadoras

Muita gente se diz contra o aborto para defender a vida. A igreja católica e uma grande parte das evangélicas dizem que é pecado. A lei brasileira pune com cadeia quem o faz e não se enquadra nas exceções legais:  mulher vítima de estupro, feto com deformação cerebral ou risco de morte para mãe. Mas por que quase todo mundo conhece ou já ouviu falar de uma mulher que tenha abortado? Porque ele ocorre todos os dias em nosso país. Os dados do Ministério da Saúde confirmam que ocorrem 2 milhões de partos por ano e cerca de 1 milhão de casos de internamento de mulheres por abortamento no mesmo período. Ou seja, para cada duas mulheres que dão a luz a um filho, uma aborta.
Pense numa mulher comum, entre 24 a 39 anos, casada, religiosa, com dois filhos e que ganha até 5 salários mínimos e é contrária ao aborto. Ela  jamais faria um procedimento desse tipo, não é verdade?  Não, não é verdade! A maioria das mulheres que aborta tem exatamente o perfil da mulher comum descrito acima. É o que diz a pesquisa científica PNA/UNB (2010).  São mulheres da classe trabalhadora, jovens, negras, que estão convivendo conosco e que estão  muito longe de parecer (e serem) criminosas ou odiarem crianças. Não engravidaram para abortar, mas foram levadas a isso diante de uma gravidez não planejada ou indesejada. Muitas vão contra suas próprias crenças porque ou não podem ou não querem levar a gravidez até o fim. Algumas delas pagam com a própria vida pelo ato. Outras ficam com sequelas para o resto de sua existência. Outras são presas pela polícia.
A cada ano, cerca de 150 a 200 mil ficam com sequelas ou morrem por conta de procedimentos clandestinos, mal sucedidos, com métodos caseiros ou sem condição de higiene. Como disse o popular médico, Drauzio Varela,  são as mulheres pobres que morrem de abortos. As da burguesia ou de setores médios não entram nessas estatísticas, porque podem pagar por clínicas clandestinas e podem fazer o procedimento em segurança, inclusive, de maneira protegida da polícia. Porque há um grande e lucrativo negócio por trás do aborto clandestino, que está equipado por uma grande rede de proteção que lhes assegura, a partir de milhares de reais, um aborto seguro. A proibição do aborto tem matado as mulheres da nossa classe.
Nesta semana, no dia 28 de setembro, em toda a América Latina e Caribe, será lembrado o Dia Internacional pela descriminalização e legalização do aborto. A data surgiu nos anos 1990, por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) e foi sendo tomada pelos movimentos de mulheres como uma data de luta. Queremos aproveitar o momento para defender o direito da mulher a decidir sobre seu corpo e que o estado legalize do aborto.
Sabemos que é um assunto delicado, que de cada 8 brasileiros somente dois são favoráveis. Mas isso significa defender que todas abortem? Não seria melhor defender a prevenção? Combater a causa e não a consequência? Não e sim. Defendemos o direito da mulher decidir sobre se quer abortar ou não, não defendemos que todas tenham que abortar. Essa é uma decisão individual, baseada nas crenças, culturas e convicções de cada um. Defendemos que o Estado assegure o direito de que quem quiser fazer. Hoje, quem decide é a lei e a igreja, queremos que seja a mulher.
Defendemos também uma ampla campanha de prevenção com educação sexual e distribuição de contraceptivos gratuitos e sem burocracria para evitar gravidez e abortos indesejados. Por isso, estamos contra o Projeto de Lei 5069/2013 de autoria de Eduardo Cunha que proíbe a distribuição da pílula do dia seguinte e o atendimento de saúde às mulheres vítimas de violência sexual. Este projeto está contra a vida das mulheres trabalhadoras e contra o direito da mulher se prevenir frente a uma gravidez indesejada e contribuirá na prática pelo aumento de abortamentos clandestinos.
Defendemos a legalização do aborto para combater a causa da morte desnecessária de muitas mulheres. No Brasil, é a quarta causa de morte materna. Defendemos que o país tenha uma política pública para prevenção, mas que também garanta o direito das mulheres a decidir, legalizando o procedimento, que poderia ser feito de modo gratuito e pelo SUS.
Dilma, ainda que seja mulher, não avançou em nada nesse direito, por isso em seu governo as trabalhadoras estão morrendo. Acreditamos que nossa luta pela legalização  se enfrenta hoje diretamente contra esse governo, contra as medidas reacionárias de Cunha e contra a falsa oposição de Aécio. Neste dia 28, seguiremos na luta pela vida, em defesa da legalização e das mulheres trabalhadoras.