Evo Morales prefere a negociação a atender a exigência de estatização do povo bolivianoO presidente da Bolívia, Evo Morales, esteve no Brasil ontem, reunindo-se com Lula e outros membros do governo brasileiro. O tema tratado não poderia ser outro: o fornecimento de gás boliviano ao Brasil.

O resultado da reunião foi um acordo que deverá aumentar o repasse da Petrobrás ao país vizinho em cerca de US$100 milhões ao ano, segundo estimativa do próprio governo boliviano. Oficialmente, ambos governos não falam em reajuste no preço do gás, mas de um valor que passará a ser cobrado por uma quantia adicional de energia que o Brasil recebia e não pagava até então.

Uma declaração de Lula atribuiu o acordo a um ato de generosidade, argumento que vem sendo alardeado pelo governo e pela sua base aliada. “Têm que ter a generosidade de compreender que os acordos bilaterais ou os acordos do bloco do Mercosul sempre têm que levar em conta as necessidades das economias menores” , disse Lula.

O que o Planalto não revela é a enorme pressão que Evo Morales exerceu sobre o governo brasileiro. Segundo o jornal Folha de S. Paulo o presidente boliviano retardou a volta ao seu país em um dia por conta de horas de desgastantes negociações.

Evo, por sua vez, sofre a pressão cotidiana das massas bolivianas em ebulição, que clamam pela nacionalização do gás. Aliás, esse foi o ponto chave da campanha eleitoral que elegeu o atual presidente da Bolívia. Evo se elegeu no rastro de um processo revolucionário, em 2003, que derrubou o então presidente Gonzalo Sanchez de Louzada e que teve como mote a exigência do povo boliviano pela nacionalização.

Sobre atender ao anseio de nacionalização dos trabalhadores e da juventude boliviana, Evo deixou explícito que isso não acontecerá. “Nós cumpriremos todos os contratos com a Petrobrás”, disse. O presidente boliviano, que decretou a nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio de 2006, para conter as massas revoltas de seu país, faz exatamente o contrário disso ao negociar com as empresas melhores condições de comercialização.

A Petrobras é uma das multinacionais que explora os hidrocarbonetos bolivianos a um preço muito abaixo do mercado. O acordo fechado agora com o governo brasileiro tem o sentido de tentar recuperar em partes as perdas bolivianas. É necessário atender às necessidades das massas e expropriar todas as multinacionais – inclusive a Petrobras -, única forma de resolver o problema boliviano.

Até hoje, nenhuma expropriação foi realizada. Longe de estatizar, esse tipo de medida contribui para a manutenção das empresas estrangeiras na Bolívia.

Se é certo que o Brasil é um país completamente submisso aos interesses do imperialismo norte-americano, por conta de seu grande peso econômico na América Latina, acaba cumprindo um papel de “sub-metrópole” imperialista com relação aos países vizinhos. Isso acontece com a Petrobras na Bolívia, que é o principal alvo dos protestos pela nacionalização dos hidrocarbonetos.

Além disso, o governo Lula tem a tarefa de ajudar a frear as mobilizações no continente. Interessa ao Brasil – e, sobretudo, aos Estados Unidos – que se mantenha uma certa estabilidade social na América Latina. Tratando-se da Bolívia, essa é uma tarefa bastante difícil, já que o país tem um grandioso histórico de lutas e revoluções.