Por mais que a emergência exija, o presidente do Peru, Alan García descartou a criação de algum imposto para financiar a remoção dos escombros, a reconstrução das cidades, assim como a alimentação dos prejudicados pelo terremoto do último dia 15 de agosto.

Desculpando-se genericamente, como se todos no Peru ganhássemos iguais salários ou tivéssemos as mesmas condições de vida, García assegurou que “não é bom tirar dinheiro de alguns peruanos para dar a outros”, cuidando, na realidade, apenas dos bolsos das grandes empresas nacionais e estrangeiras que, tal como o próprio García propagandeou ao longo de sua gestão, vêm obtendo enormes lucros há quase cinco anos e, portanto, estão mais que em condições de pagar algum imposto de emergência cuja arrecadação seja destinada exclusivamente a atender a emergência do terremoto.

A “solidariedade” que impulsiona o governo
Entretanto, García segue fazendo cínicos chamados aos mais diversos setores da sociedade para atender às vítimas do terremoto. Aproveitando-se da correta e natural mobilização solidária dos trabalhadores e do povo em todo o país, García encobre sua total falta de atitude para atender ao desastre, assim como a decisão consciente de não repassar nenhum centavo da fatura às grandes empresas – como a Shougang Ferro do Peru, minera chinesa localizada na região de Ica – que hoje enchem os bolsos no país.

Assim, todos seus chamados para que, voluntariamente, se coloquem à disposição médicos, engenheiros, etc. carecem do necessário financiamento estatal que deve fazer da ação dos voluntários uma ferramenta de solução das necessidades dos prejudicados e não adiciona-los ao problema, levando essas pessoas à aventura, sem comida nem lugar onde dormir.

O povo se mobilizou já de maneira contundente. Hoje é cada vez mais evidente que García nunca teve um plano de atendimento a desastres e que, em meio à tragédia, somente pensa em “salvar” o que for possível, sempre em prejuízo da população afetada.

Em novo ato ridículo, García, agora, pede aos artistas do país que se “solidarizem” e visitem a região atingida para “cantar e fazer rir” aos afetados. Grande solução a do mandatário que, se apenas fosse conseqüente com sua proposta teria de assegurar-lhes as condições de alimentação e alojamento necessários para que sua presença realmente seja uma solução a algum dos problemas do local. Longe disso, García pretende que com “circo” as pessoas “voltem à normalidade”. Nada mais distante da realidade que vive o povo.

O vice-ministro da Saúde pediu “choque de inversões” para seu setor
Os próprios ministros pedem financiamentos extras para atender às necessidades de seus setores. O vice-ministro da Saúde, José Calderón, declarou necessário realizar um choque de inversões em seu setor pela situação de risco na infra-estrutura dos hospitais de Lima e de outras partes do país.

O mesmo deve acontecer com a infra-estrutura da educação da região Ica, assim como na província de Cañete, em Lima.

O pedido é simplório, não trata de “reforçar” as estruturas de hospitais e escolas. É urgente reconstruir os hospitais – incluídos os de Lima – já que em sua totalidade foram seriamente abalados.

García terá frente a si duas alternativas para encarar esta situação: ou pedirá novos empréstimos que farão maior ainda e impagável a fraudulenta dívida externa, ou, somente se existirem milagres, promulgará os impostos às superfortunas mineiras e das demais transnacionais que enriquecem às custas de nosso país – como a Telefonica, que além de tudo demonstrou sua absoluta inutilidade quando caíram as redes de telefones – para financiar integralmente a reconstrução da região afetada e toda a infra-estrutura estatal de saúde e educação golpeadas pelo terremoto.

Desde agora, os trabalhadores e o povo já sabemos qual será a opção que tomará.

Organizemos a mobilização operária e popular para que a reconstrução das cidades afetadas e a infra-estrutura educativa e de saúde se pague com o dinheiro das transnacionais e da dívida externa

Por tudo isso, é absolutamente criminoso manter as escandalosas exonerações tributárias das grandes empresas transnacionais em nosso país. É igualmente assassino manter o pagamento da dívida externa quando o que mais necessita hoje o país é dinheiro para atender integralmente às necessidades das regiões afetadas.

Os trabalhadores do campo e da cidade, que somos os principais atingidos pelo terremoto, devemos nos organizar para arrancar do governo os decretos que promulguem os novos impostos às fortunas transnacionais e o não-pagamento da dívida externa para destinar exclusivamente este dinheiro às zonas atingidas ou, caso contrário, arrancar o próprio governo em sua raiz e abrir a saída para nossos problemas por uma perspectiva dos trabalhadores e do povo.

Junto com a organização de brigadas solidárias que, financiadas pelo Estado, assumam tarefas de ajuda no local, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) deve convocar já uma mobilização nacional de protesto pela falta de ação de García, para que se concretizem as medidas colocadas o mais rápido possível e, assim, conseguir atender de fato os prejudicados.

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