O senador Sibá Machado (PT-AC) renunciou à Presidência do Conselho de Ética na noite de 26 de junho, após enfrentar pressão do PT e dos partidos da base aliada para colocar em votação o relatório absolvendo Renan Calheiros (PMDB-AL). O relatório foi elaborado pelo senador e aliado do presidente do Senado, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), posteriormente afastado da relatoria por problemas de saúde.

O governo e a base aliada já haviam tentado aprovar o relatório absolvendo sumariamente Calheiros. Porém com a divulgação de reportagem do Jornal Nacional mostrando que o presidente do Senado utilizou recibos e documentos falsos para justificar seus bens, os senadores temeram um desgaste ainda maior se livrassem Renan naquele momento.

Desta forma, o Conselho de Ética, montado para encenar um teatro em torno das investigações das denúncias contra Renan Calheiros, aprofunda-se numa grave crise junto com todo o Senado. A falta de um relator totalmente confiável ao governo e ao presidente do Senado foi um prenúncio da crise. O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) assumiu por um tempo a relatoria, mas deixou-a quando percebeu que não conseguiria o total de votos para enterrar o caso.

Com a renúncia de Salgado, Sibá afirmou aos quatro ventos que nenhum outro senador estaria disposto a assumir a relatoria do caso. No entanto, seu próprio colega de partido, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), se dispôs a relatar o processo. Porém, seu nome foi vetado pelo próprio partido e a cúpula do PMDB.

Crise se aprofunda
A revelação de que Renan entregou ao Senado notas frias para justificar seus bens foi um balde de água fria na intenção do governo em enterrar rapidamente o caso. Com a situação cada vez mais complicada do senador, governo e oposição chegaram a negociar um substituto para Calheiros.

No entanto, o presidente do Senado e seus aliados realizaram ameaças veladas aos parlamentares. Renan deixou claro que, caso caísse, não cairia sozinho. A possibilidade do terceiro nome na linha de sucessão de Lula cair, espalhando a crise pelo Congresso, aparentemente reforçou a intenção do governo em salvar a pele do senador. Ansioso em iniciar o processo de votação das reformas, com a reforma da Previdência na dianteira, tudo o que o governo Lula não quer é uma nova crise política nos moldes do mensalão.

Na manhã do dia 27, Renan Calheiros se encontrou pessoalmente com Lula, que lhe garantiu total apoio contra o processo no Conselho de Ética.

Operação Abafa
Não podendo refutar as fortes evidências que pesam contra ele, Renan Calheiros e a base aliada lutam agora para empurrar o processo com a barriga. A intenção é que, com o recesso de julho e o acúmulo de novos escândalos, o caso do senador seja esquecido e abandonado.

Tal política faz com que o governo jogue o Conselho de Ética na indefinição. Hoje, o Conselho não possui presidente nem relator. Apenas assumiu interinamente a presidência do órgão o senador Adelmir Santata (DEM-DF). No entanto, tal tática não é isenta de riscos. Ao mesmo tempo em que se estende a crise, novos fatos podem vir à tona, contribuindo para o aprofundamento da crise e a desmoralização generalizada das instituições.