Rio de Janeiro 29 05 2018 Caminhoneiros protestam na Rodovia Presidente Dutra, em Seropédica, Rio de Janeiro Tomaz Silva/Ag Brasil

André Buca e Vinicius Camargo

Trocando em miúdos, Presidente da Petrobrás diz, no popular: “danem-se caminhoneiros! O problema não é meu!

Em meio ao debate sobre a greve dos caminhoneiros e à demanda de redução do preço dos combustíveis, o presidente bolsonarista da Petrobrás, Castello Branco, diz que o problema não é dele.

Primeiro, é fundamental esclarecer que Castello Branco quer proibir que a empresa adote a política de preços dos derivados (combustíveis, gás de cozinha etc.) que seja melhor para a Petrobrás e para o povo brasileiro. Ele impõe artificialmente que a empresa siga os preços internacionais. Só que a Petrobrás tem condições de fornecer combustíveis e gás de cozinha a preços muito abaixo dos praticados, mesmo mantendo uma taxa de lucros alinhada com o mercado internacional. Com isso prejudica enormemente o povo brasileiro e a própria empresa.

Leia também

Bolsonaro quer passar a boiada e desmembrar a empresa

Para entender melhor o assunto

Em primeiro lugar, a Petrobrás, graças ao investimento estatal e ao trabalho árduo e competente dos trabalhadores petroleiros, produz muito mais petróleo do que o país precisa e a preços bem abaixo do mercado internacional. Além disso, a Petrobrás tem capacidade de refinar praticamente toda a necessidade de combustíveis e a maior parte de gás de cozinha que o país necessita e a preços baixos.

O problema é que o objetivo do governo e da direção da empresa é privatizar tudo. Para isso quer dar garantias às grandes empresas multinacionais de que poderão comprar nossas refinarias sem medo porque o preço internacional (caro) será garantido pelo governo. Ou seja, de que a Petrobrás não poderá vender barato para a população, de acordo com sua capacidade e competência. Para isso está mantendo os preços dos derivados artificialmente caros. O argumento que usa é que está deixando os preços flutuarem de acordo com o mercado internacional.

A forma para conseguir esse resultado é deixar as refinarias da Petrobrás operando com capacidade ociosa (ou seja, produzindo muito menos do que pode) e importar derivados do exterior, sem necessidade e fazendo o povo pagar mais caro.

O resultado disso é que o governo Bolsonaro viabiliza a entrada das grandes empresas multinacionais e prejudica a Petrobrás. Ao mesmo tempo que afirma (falsamente) que precisa privatizar para aumentar a eficiência, os lucros e diminuir o preço dos combustíveis. Como estamos vendo, é justamente o contrário.

Se essa política de preços altos (Preço de Paridade de Importação – PPI) fosse apagada, esse jogo de cena, esse teatro seria devidamente desmascarado. Ficaria explícita a comunidade de interesses entre as grandes empresas, que lucram com a importação de derivados e com as privatizações, e a direção de Bolsonaro/Castelo Branco.

A Petrobrás tem condições de abastecer o mercado nacional a preços competitivos, zerando em termos líquidos as importações e impulsionando a economia nacional. Com isso os negócios que a direção da Petrobrás quer entregar perderiam a blindagem artificial que zera o risco cambial de operar no país. Se o empresário nacional não deve ter essa garantia, por que se concede este privilégio a grupos bilionários e internacionais? Corrupção?

Greve dos caminhoneiros em 2018

Greve dos caminhoneiros pode atrapalhar privatização

Por essas razões, a greve dos caminhoneiros gera tanto incômodo ao governo Bolsonaro e à administração Castello Branco. Se o movimento dos caminhoneiros fosse vitorioso e conseguisse garantir uma política de preços baixos aos combustíveis, isso teria o potencial de inviabilizar a entrada dos concorrentes multinacionais que querem comprar as refinarias. Eles precisam da garantia do governo de que poderão vender os derivados mais caro, ao preço internacional, e assim viabilizar seus investimentos. Mesmo se isso for à custa da economia popular e do bem estar do povo.

Outro presidente da Petrobrás, que pensava como Castello, caiu devido à uma forte greve dos caminhoneiros que parou o Brasil no Governo Temer e ainda impulsionou o início de uma greve nacional e unificada dos petroleiros, infelizmente abortada após um dia e meio, pela ¹Federação Única dos Petroleiros (FUP/CUT)

O diabo é covarde e escarnece de quem precisa trabalhar. Castello Branco é do primeiro time, daqui a pouco vai até chamar de vagabundos todos aqueles que ajudou a demitir devido à sua política contra a Petrobrás e o Brasil, por abrir margem à importação. Pois assim perdemos todo o resultado e impactos econômicos que teríamos com a produção local, como: empregos diretos e indiretos, o recolhimento de impostos, os salários gastos pelas famílias, as compras nos mercados locais, todo esse giro econômico que se propaga em favor não só dos caminhoneiros mas de toda a população.

Por tudo isto, é fundamental impulsionar a greve dos caminhoneiros, a solidariedade e a adesão de outras categorias para obrigar uma redução nos preços do gás de cozinha e do diesel, fortalecer a luta pela vacinação contra a Covid-19, pelo auxílio-emergencial, contra as privatizações e demais absurdos perpetrados por este Governo Bolsonaro.

Devemos avançar da experiência de ter derrubado o anterior presidente da Petrobrás e, agora, derrubarmos o atual também, além de botar para fora Bolsonaro/Mourão e Pazuello.