Na tarde do dia 11 de fevereiro, a sede da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo foi invadida. O presidente da entidade, Alexandre Santos, o “Xande”, foi amarrado, amordaçado e agredido. Xande ganhou destaque na mídia no início de janeiro, quando se tornou o primeiro homem transexual a presidir uma ONG no Brasil.

Durante o ataque, o agressor ainda roubou cerca de R$ 4 mil reais do cofre. Este fato dificilmente pode ser encarado como mais um simples assalto na capital paulista, uma vez que aconteceu dentro da sede da organização, em meio a insultos homofóbicos e provocações.

Algumas lideranças do movimento gay já se pronunciaram. O coordenador da Diversidade Sexual da Prefeitura de São Paulo, Cássio Rodrigo, afirmou que é preciso retomar a discussão sobre o projeto de criminalização da homofobia, encalhado no Congresso Nacional.

Violência homofóbica
Lamentavelmente, o episódio envolvendo Xande está longe de ser um fato isolado. No último fim-de-semana, por exemplo, em Recife, três travestis foram assassinadas em menos de 24 horas, em pontos diferentes da cidade. No final do ano passado, um casal gay foi violentamente agredido próximo à barca que liga a cidade de Niterói ao Rio de Janeiro. Mais recentemente, também no Rio, estudantes vinculados à nova direção do DCE da UFRJ passaram a sofrer ameaças depois de colocar murais no campus defendendo direitos GLBT.

Tais fatos revelam não só a escalada do preconceito e da violência, como também a falência das políticas do governo Lula, particularmente do projeto “Brasil sem Homofobia”, que não recebeu quase nenhum recurso desde sua criação e, conseqüentemente, não conseguiu sair do papel. Infelizmente, é diante deste tipo de episódio que fica evidente o quão demagógico é o discurso governista, que tenta cooptar as organizações e movimentos para o imobilismo do parlamento burguês enquanto os ataques contra GLBTs se multiplicam pelo país.

Outro fator que não pode ser ignorado é a situação de guerra declarada que os setores mais conservadores e moralistas, liderados pelas novas igrejas evangélicas, vêm detonando contra bandeiras do movimento gay, como a parceria civil e o direito de adoção, ou ainda às históricas reivindicações do movimento feminista, como a descriminalização do aborto.

A pressão destes grupos – a maioria deles integrantes ou aliados do governo Lula – junto ao congresso, assim como seus representantes diretos (as bancadas católica e evangélica no parlamento) revelam a ameaça de um verdadeiro retrocesso histórico, incentivando o ódio e o preconceito desde dentro do Estado burguês e encorajando o surgimento de bandos fascistas nas principais cidades do país.

Não podemos deixar de denunciar as sucessivas capitulações do governo a estes grupos, todos eles aliados do grande capital, bem como a ineficiência da justiça burguesa em investigar e punir os sucessivos “crimes de ódio” cometidos contra gays, lésbicas, travestis e transexuais, algo que deixa em evidência a vontade do governo e do Estado de não comprometer sua relação amistosa com estes setores.

Onda de atentados contra movimentos e organizações
Os atentados contra movimentos sociais e organizações de trabalhadores estão cada vez mais freqüentes. Na virada do ano a sede nacional do PSTU foi invadida e revirada, num explícito atentado político contra o partido, no qual o próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, reconheceu indícios de ataque político.

A lista de crimes e assassinatos contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é gigantesca, revelando o totalitarismo no campo. No resto do continente, a perseguição também cresce. A Central Obrera Boliviana (COB) e o Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST) da Argentina sofreram atentados políticos contra suas entidades recentemente.

Diante destes fatos é preciso prestar apoio e solidariedade aos movimentos, organizações e militantes agredidos, no sentido de aproximar todos os grupos que representam os “de baixo” em nossa sociedade. Não temos dúvidas de que a violência que sofremos vem das classes dominantes, com suas ideologias fascistóides, como o racismo, o machismo e a homofobia.

Também não podemos nos calar diante do governo Lula e seus aliados, que fecham os olhos diante dos fatos para não pôr em risco o apoio que ganham destes setores, numa visível demonstração do lado que escolheram estar no terreno das lutas, o lado de lá.