Pode passar despercebida a gravidade da informação publicada no dia 21 de fevereiro na Folha de S. Paulo. A matéria trata das “preocupações” de Lula com as demissões em massa efetuadas pela Embraer nesta semana. Começa por desmentir o próprio presidente, que se disse surpreso quando do anúncio das demissões. Ele, na verdade, já sabia desde segunda-feira, 16, das demissões que começaram na quinta-feira, 19.

Mas, informa a mesma notícia, havia outro interlocutor privilegiado do governo que também sabia das demissões desde segunda. Essa pessoa é nada menos que Artur Henrique, presidente nacional da CUT, que participava da reunião em que o presidente do BNDES informou das demissões na empresa.

Trata-se de um verdadeiro escândalo, de dimensões seríssimas. Como pode o presidente de uma central, que se diz representante dos trabalhadores, receber a informação de que uma empresa vai demitir milhares e escondê-la dos trabalhadores e do sindicato que os representa? Artur Henrique preocupou-se apenas em montar um jogo de cena para a imprensa, na quinta-feira, para tentar capitalizar politicamente a desgraça dos trabalhadores.

De uma só tacada o presidente da CUT reiterou sua fidelidade canina ao governo e prestou uma inestimável ajuda aos patrões da Embraer. Quantas medidas concretas poderiam ter sido tomadas desde segunda-feira para tentar impedir que as demissões se consumassem, e não foram tomadas porque o presidente da CUT deve mais fidelidade ao governo do que aos trabalhadores?

Toda a postura do presidente da CUT, que teria se reunido com Lula no dia das demissões para pedir ao governo que “cobrasse” da empresa as demissões, não passou de encenação. Puro cinismo de um dirigente que não tem mais o mínimo de compromisso com os seus.

Temos insistido que a relação cada vez mais promíscua dos dirigentes da CUT com o governo impossibilita que esta central defenda efetivamente os interesses dos trabalhadores. Estamos diante de uma prova material e concreta dessa afirmação. Para ser fiel ao governo, o presidente da CUT não tem vergonha de trair o mais elementar interesse dos trabalhadores que ele deveria defender: o do emprego.

Se a CUT fosse uma central séria, destituiria imediatamente seu presidente, por traição dos interesses dos trabalhadores. Infelizmente, nada na trajetória recente nos anima a ter essa expectativa. Mas não podemos deixar de denunciar e repudiar esse tipo de prática sindical subordinada e submissa ao governo e aos patrões.

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