Acordo da CUT e Força Sindical com bancos para empréstimos com desconto em folha é um presente da china para os banqueiros

`fotomontagemEssa história de “concessão de empréstimos com desconto em folha de pagamento” está muito mal contada. Dizem que é um verdadeiro presente de Natal que os bancos, as direções das principais centrais sindicais e o governo resolveram conceder aos trabalhadores, com as menores taxas de juros do mercado, facilidades de pagamento etc.
Mas cuidado. Esse presente vem embalado em um pacote cheio de armadilhas e sutilezas. Vejamos a coisa mais de perto. Em qualquer hipótese que se tome, os banqueiros estarão ganhando muito mais do que em outras operações correntes de crédito. Eles terão um risco muito menor de calote do que nos financiamentos para a compra de veículos, por exemplo, pois a garantia que o trabalhador oferece para sua dívida é o desconto automático no seu salário mensal e não um bem qualquer que ninguém sabe em que estado se encontra, quanto estaria valendo, nem onde se localiza.
Preparando o assalto

E ainda tem gente dizendo que os bancos, coitados, podem até perder em certos tipos de empréstimos. É o caso do sócio da Trevisan Consultores, Richard Dubois, contratado pela CUT para auxiliar na negociação com os bancos, para quem “o acordo é bastante favorável aos trabalhadores. A operação não vai remunerar tão bem quanto os bancos esperavam, mas ainda assim será rentável. Para alguns bancos, as operações de até R$ 500 para pagamento em seis meses poderão até ser deficitárias” (O Estado de S. Paulo, 28/10).

Esse tal Richard é um mentiroso que está querendo enrolar e abrir o caminho para os banqueiros meterem a mão no bolso dos trabalhadores. Mesmo tomando a sua hipótese de 500 reais de empréstimo, taxa contratual de 2,50% ao mês e pagamento em seis prestações mensais, os banqueiros estarão sendo excepcio-nalmente remunerados e a operação será mais muito mais rentável do que quando eles emprestam para a classe média comprar carros.
Empréstimos com desconto em folha de pagamento são operações com risco zero para os banqueiros. Mesmo que o trabalhador seja despedido, o saldo devedor será deduzido de uma só vez do valor da rescisão trabalhista. Mas a beleza da coisa é que neste caso os banqueiros ganharão muito mais do que se não tivesse ocorrido o desemprego!

Além do risco zero

Vamos fazer alguns cálculos para esclarecer melhor esse golpe, pois são raros os consumidores que sabem calcular, ou mesmo se preocupam com o cálculo da taxa efetiva de juros que ele vai acabar pagando. Acontece que aquela taxa nominal de 2,50% ao mês que aparece no contrato vai ser “maquiada” e elevada lá para cima.

Consideremos a hipótese de um empréstimo bem pequeno de 200 reais à “generosa” taxa nominal de juros de 2,5% ao mês, a menor taxa de abertura de crédito (TAC) de 10 reais e para ser pago em doze “suaves” prestações mensais de 22,75 reais. Não consideramos nem a taxa de cadastro (0,5%), que será cobrada por alguns sindicatos, nem a cobrança de CPMF (0,38%), pois se a prestação for descontada da folha de pagamento, isso representa uma movimentação bancária, o que eleva ainda mais a taxa de juros a ser efetivamente paga.

No caso do trabalhador não perder o emprego durante os doze meses das prestações, aquela taxa nominal de 2,25% ao mês se transforma em uma taxa efetiva de 5,15% ao mês ou de 82,69% ao ano!! Já são taxas muito superiores às correntemente praticadas pelos bancos para pessoas físicas (crédito ao consumidor), que em setembro girou em torno de 4,56% ao mês ou de 70,70% ao ano, segundo o Banco Central. Às empresas, os banqueiros cobram em média 3,40% ao mês ou 50,11% ao ano.

E se o trabalhador ficar desempregado no sexto mês após a retirada do empréstimo? O saldo da dívida (R$ 159 ou 7x R$ 22,75) será subtraído do valor da rescisão trabalhista e quitado de uma só vez. Isso está claramente escrito no contrato. Nesta hipótese, a taxa efetiva de juros seria de 6,93% ao mês ou de 123,42% ao ano!! Só perderia, por pouco, da taxa cobrada dos cheques especiais, que embutem a maior taxa de risco do mundo.

Essa é a realidade. Estamos dispostos a debater publicamente esses números e outras hipóteses possíveis com o sr. Richard Dubois ou quaisquer “autoridades em matemática financeira” que estejam assessorando os bancos e as principais centrais sindicais neste assalto legalizado pelo governo.

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Post author José Martins e José Nicolau Pompeu, economistas do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio
Publication Date