9 milhões de pessoas participaram do plebiscito na Venezuela nesse último dia 15. Venceu a proposta que defendia a permanência do presidente Hugo Chávez até o final de seu mandato com 59% dos votos, contra 41% da oposiçãoMais uma vez, as massas na Venezuela derrotaram o imperialismo norte-americano. Desde que Chávez foi eleito pela população venezuelana em 1998, esta foi a terceira tentativa do imperialismo de tirá-lo do poder. Em 2002, a embaixada dos EUA organizou um golpe militar e expulsou Chávez do Palácio de Miraflores por 48 horas, até que as massas entraram em cena e venceram os golpistas através de uma gigantesca mobilização que emocionou a América Latina. Depois disso, a burguesia golpista, apoiada diretamente por Bush, organizou em 2003 uma greve patronal-petroleira que tentou inviabilizar economicamente o país e derrubar o governo. Os trabalhadores não se intimidaram e enfrentaram os gerentes golpistas de PDVSA (empresa estatal de petróleo), derrotando mais esse golpe. Desta vez, de forma fraudulenta, se organizou um plebiscito para colocar em xeque o governo Chávez, reduzindo seu mandato.

A vitória do NÃO no plebiscito, que mantém Chávez no poder, é resultado do processo revolucionário venezuelano. Também é a demonstração da crescente resistência dos povos contra os planos do imperialismo. Essa resistência toma formas distintas em diversos lugares do mundo, seja por meio das guerrilhas no Iraque, do repúdio aos governos que apóiam Bush em sua guerra por petróleo, ou mesmo protegendo um governo eleito com o apoio das massas, como é o caso de Chávez. Mesmo através de uma forma distorcida que é o terreno das eleições e do voto, as massas disseram NÃO à intervenção imperialista.

Chávez busca a conciliação

No entanto, apesar da terceira demonstração de apoio e confiança no presidente Chávez por parte das massas, ele não está disposto a levar um enfrentamento com o imperialismo mais sério.

Assim que foi anunciado o resultado do plebiscito dando vitória ao atual presidente, este se apressou em declarar que sua permanência no poder significaria “a estabilização do preço do petróleo em nível mundial” e mais, que “todos que haviam votado pelo SIM não estariam excluídos de seu governo”. É a continuidade da política de antes. Chávez deixou impunes os responsáveis pelo golpe de 2002. Também acabou aceitando a convocação fraudulenta – marcada por milhares e milhares de falsificações de assinaturas – do plebiscito que pretendia derrubá-lo.

Quem em sã consciência levantaria uma bandeira branca ao imperialismo depois da terceira tentativa de golpe em três anos? Somente um governo que tenta, apesar de todas as tentativas de golpe, reconciliar-se com a burguesia.

Chávez não trava uma luta conseqüente contra o imperialismo

Neste momento, a maioria das organizações de esquerda – inclusive de origem trotskista – identificam Chávez como o grande libertador da América Latina. Mas então por que Chávez não leva sua retórica “antiimperialista” e a “defesa da soberania nacional” adiante e toma medidas concretas para romper com as amarras do capital internacional?

A política econômica de Chávez, semelhante a todos os governo latino-americanos, tem aprofundado a abertura para os investimentos externos em setores estratégicos (telecomunicações, bancos, energia etc), ou seja, com privatizações. A dívida externa venezuelana segue sendo paga religiosamente. O capital norte-americano é responsável por 85% dos investimentos estrangeiros no país. A Venezuela, mesmo com o governo Chávez, continua sendo o terceiro maior exportador de petróleo para os EUA e representa cerca de 15% do consumo norte-americano. Recentemente a Texaco, uma das maiores petroleiras norte-americanas, obteve a última concessão para explorar petróleo e gás natural na Plataforma de Deltana.

Diversas organizações estão apoiando, sem nenhuma crítica, um governo que capitaliza hoje um fortíssimo sentimento antiimperialista latino-americano, mas que se resume a uma retórica contra Bush, sem avançar em nenhuma medida mais concreta em defesa da soberania venezuelana.

O governo Lula foi o organizador do vergonhoso grupo de “amigos da Venezuela”, junto com os EUA e a Espanha, para garantir as negociações com a direita burguesa venezuelana que levou ao “mecanismo legítimo do referendo”. Depois, durante o referendo, apoiou o governo, para defender a manutenção da democracia burguesa na América Latina, em efervescência desde o levante acontecido no Equador no ano de 2000. Lula, já há algum tempo, tem sido o bombeiro dos EUA na região e quis também utilizar seu prestígio neste caso.

Só é possível avançar no processo revolucionário de forma conseqüente, e até a vitória, com a construção de uma alternativa revolucionária dos trabalhadores independente e contra a política de conciliação de Hugo Chávez. A defesa comum do NÃO no referendo não nos faz depositar nenhuma ilusão neste governo.

E agora?

Após os fogos de artifício em comemoração à permanência de Chávez no poder fica a pergunta: e agora? Heinz Dietrich, intelectual mexicano, apressou-se em afirmar que agora “as forças que combatem pela Segunda Independência terão Chávez como indiscutível vanguarda do processo de libertação antiimperialista em Terra Firme”.

O PSTU já vem advertindo há algum tempo que Chávez não tem dado demonstrações de ruptura real com o imperialismo. Vide o cumprimento em dia do pagamento da dívida externa e a venda de petróleo para o EUA durante toda a guerra e ocupação ao Iraque.

Por isso queremos propor a todos os ativistas e organizações que queiram lutar contra o imperialismo que exijam de Chávez a ruptura das negociações da Alca, o não pagamento da dívida externa e a ruptura com o FMI.
Post author Yuri Fujita, da redação
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