Após 61 anos de governo da Associação Nacional Republicana (ANR), mais conhecida como Partido Colorado, o povo paraguaio depositou nas urnas o repúdio a uma política de exploração, opressão e servidão aos interesses do imperialismo.

A expressão dessa ruptura se deu através da votação massiva no ex-bispo Fernando Lugo, que obteve aproximadamente 41% dos votos, seguido da candidata colorada Blanca Ovelar, com 31%, e pelo general e ex-golpistas Lino Oviedo, com 22%. O resultado das urnas foi categórico e não permitiu qualquer tentativa de fraude generalizada, tão freqüente no débil regime democrático do país. Os colorados seguem sendo o maior partido no Senado, na Câmara dos Deputados e nos governos estaduais.

Mergulhado em uma grave crise, fruto da brutal concentração de terras nas mãos de latifundiários da soja e dos planos neoliberais de privatização da saúde e educação, o Paraguai tem o menor Produto Interno Bruto (0,9%) dos países integrantes do Mercosul e apresenta um dos piores índices sociais da região.

Aliança com a burguesia
Foi nesse cenário que Lugo se apresentou enquanto alternativa e aglutinou a esperança de milhões paraguaios, que lutam diariamente por terra, trabalho e soberania. Por outro lado, sua vitória reflete os novos ventos que sopram na América Latina. O desgaste dos planos do FMI e o sentimento de mudança pelo qual clamam os povos do continente têm se refletido de forma distorcida, proporcionando a vitória eleitoral de governos com verniz de esquerda pelo continente.

Apesar de toda expectativa e sacrifício do povo pobre, Lugo escolheu como principal aliado o conservador Partido Liberal Radical Autentico (PLRA), genuíno representante de um setor das oligarquias do campo e dos empresários da cidade.
Enganam-se aqueles que acreditam que o PLRA é apenas um acessório numa campanha popular encabeçada por Lugo. Pelo contrário. O PLRA elegeu 13 dos 45 senadores, e seis dos 17 governadores estaduais, incluindo Assunção. Enquanto a esquerda que apoiou Lugo obteve uma pífia votação.

A campanha foi integralmente financiada e dirigida politicamente pelos liberais, cujo principal slogan era “el cambio seguro” (a mudança segura). Lugo afirmou repetidas vezes que sua luta não era contra o “glorioso Partido Colorado”, muito menos contra os latifundiários brasileiros, mas sim em oposição à “rosca mafiosa” (camarilha mafiosa) que se apoderou do país.

Os principias jornais burgueses do Paraguai, entre eles o ABC Color, que outrora fora porta voz do general Lino Oviedo, apoiaram entusiasticamente a candidatura de Fernando Lugo.

É impossível que Lugo realize uma reforma agrária radical, rompa com o imperialismo ou aplique um plano econômico a serviço dos trabalhadores tendo como coluna vertebral de seu governo o PLRA e outros setores das classes possuidoras.

Terminaram as eleições, que comece a luta
O Partido dos Trabalhadores (PT), seção da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), lançou orgulhosamente as candidaturas classistas e socialistas de Júlio López e Cynthia Fernández a Presidência da República, Tomás Zayas ao Senado e de combativos lutadores sociais para Câmara dos Deputados em cinco estados.

A campanha do PT conseguiu uma boa penetração na mídia e esteve a serviço da reconstrução do classismo, das lutas camponesas, dos trabalhadores urbanos, dos estudantes e das camadas populares.

Agora é hora de arregaçar as mangas e ir à luta. O PT chama os trabalhadores a preservarem sua independência política e organizativa e a não depositarem nenhuma confiança no futuro governo Lugo-PLRA.

Passada a embriagues eleitoral, o povo paraguaio não tardará em reencontrar o caminho das lutas, e o farão como seus irmãos trabalhadores latinos americanos, que enfrentam, desmascaram e expõem corajosamente a verdadeira face dos governos de turno.

Post author Thiago Hastenreiter, de Assunção (Paraguai)
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