Depois do encerramento da assembléia da Volkswagen de São Bernardo do Campo, o Portal do PSTU entrevistou o metalúrgico Rogério de Cerqueira, membro do Comitê Sindical de Empresas do Sindicato dos Metalúrgicos e integrante da oposição. Rogério estava no setor de estamparias da empresa e falou sobre o resultado da assembléia e a perspectivas do movimento grevista.

Como você avalia o movimento grevista e o resultado da assembléia da última quinta-feira?

Rogério – A greve hoje é muito forte. A postura da empresa de entregar cartas de demissão provocou uma reação muito forte. Não apenas dos 1.800 demitidos, mas também do conjunto dos trabalhadores, pois objetivo é demitir mais metalúrgicos e, se não houver um acordo, fechar toda a empresa.

A assembléia de hoje [31 de agosto] foi uma vitória dos trabalhadores porque havia uma disposição da direção do sindicato de mudar a estratégia. Mas havia um sentimento de uma boa parte dos trabalhadores de que ainda não era hora de mudar de tática. Foi uma vitória a continuidade da greve total até segunda-feira. Agora, foi anunciado que as fábricas de Taubaté (SP) e de São José dos Pinhais (PR) entraram no Banco de Horas por falta de peças estampadas, que são produzidas aqui onde estou agora. Estamos na estamparia com pessoal bloqueando para impedir a saída de peças para essas fábricas.

O ministro do Trabalho, Luís Marinho, que já foi funcionário da Volkswagen…

Rogério – Ele ainda é funcionário. Não se aposentou ainda.

…ele declarou à imprensa que ‘não pode fazer muito pela Volks´?

Rogério – Não queremos que ele faça nada pela Volkswagen. Queremos que ele faça pelos trabalhadores da Volks. Pela Volkswagen eles já fizeram o bastante. O governo Lula liberou um financiamento de R$ 2,4 bilhões para a Volks. Mas o Marinho esqueceu dos colegas de empresa dele.

Como impedir as demissões dos trabalhadores?

Rogério – Eu concordo com o que foi escrito no boletim “Ferramenta”, a necessidade do governo estatizar a Volks. Em primeiro lugar, isso deve ser feito pela quantidade de dinheiro público colocado na empresa e por incentivos fiscais concedidos, como é o caso do Paraná, onde governo abriu mão do recolhimento de impostos de algo em torno de R$ 1 bilhão. A Volks já foi uma empresa estatal, como a própria Renault. Isso mostra que não é nenhum absurdo o que nós estamos falando. Aqui na fábrica você tem mão-de-obra especializada, experiência e maquinário para continuar mantendo a produção e garantindo o emprego de todos.

Qual é expectativa com a próxima assembléia que vai ser realizada no dia 4?

Rogério – Acho que devemos manter a paralisação total. O que devemos fazer também será uma passeata para fechar a via Anchieta. Qualquer mudança na tática da greve tem que ser com a produção 100% parada.
Por outro lado, a tática atual está sendo correta, pois já está afetando a produção de Taubaté e no Paraná.
Contamos com o apoio de todos, da Conlutas, dos ativistas e dos cidadãos comuns que podem, no seu dia-a-dia, manifestar a sua solidariedade.
É importante que essas pessoas façam atos em frente a concessionárias da Volks em suas cidades. Isso é muito importante pra nós trabalhadores do ABC, já que o ex-presidente do sindicato [Luiz Marinho] e o presidente do país esqueceram que devem a sua vida pública aos trabalhadores dessa região.