Nesta terça feira, dia 27 de julho, entrego formalmente meu pedido de licença da executiva nacional da CUT. É uma licença necessária para dar tempo a que a discussão sobre a ruptura com a CUT chegue às bases, quando então deveremos nos desligar (eu e a companheira Vera Guasso) definitivamente.

Iniciou-se já o processo de ruptura com a CUT. Além dos sindicatos e da Federação do setor metalúrgico de Minas Gerais, dos Sindicatos de Santa Catarina que assinaram uma carta-manifesto abrindo o debate da necessidade de desfiliação, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos que acaba de abrir essa discussão com a categoria e de várias outras entidades em todo o país que se preparam para fazer o mesmo.

Estamos começando a viver a materialização da recomposição aberta no movimento sindical pela nova situação aberta no país com a posse de lula. A integração da CUT à base de apoio do governo, que aplica hoje no país o programa econômico do FMI, a coloca na trincheira oposta à dos trabalhadores brasileiros. As relações e interesses econômicos que se estabelecem entre a Central, o Estado e mesmo setores importantes do empresariado sepultam qualquer possibilidade de recuperação deste que foi um importante instrumento de luta dos trabalhadores brasileiros.

A rebelião que isso começa a provocar na base da CUT (estas entidades que iniciam já o processo de desfiliação são, na verdade, a ponta de um iceberg) cria, por outro lado as condições para que se inicie também a construção de uma alternativa para a luta dos trabalhadores. A Conlutas é a melhor expressão disso neste momento. E é a esse desafio – o da construção dessa alternativa de luta para os trabalhadores brasileiros – que os sindicatos e federações que se desfiliam da CUT estão comprando.

As reações já começaram por parte da burocracia que dirige a CUT. Mas é preciso registrar, lamentavelmente, que é da esquerda da Central (Fortalecer a CUT e uma parcela do P-SOL) que chegam os ataques mais duros. Justamente da esquerda que diz ser contra a transformação da CUT em uma entidade chapa-branca, e que deveria, somar-se à construção de uma alternativa para a luta da nossa classe.

Também fomos (todos os que fundamos a CUT) acusados de divisionistas, de abandonar a disputa pela base das Confederações, quando decidimos, em 1983 fundar a Central, mesmo com a divisão que isso causou no movimento sindical de então. Naquela época, os ataques mais duros à fundação da CUT vinham também de setores da “esquerda” representada pelo PCdoB e MR8, principalmente. A pretexto de defenderem a unidade da classe trabalhadora, defendiam a velha pelegada que era um obstáculo à luta desses mesmos trabalhadores. A história deu seu veredito.

Hoje vemos repetirem-se essas mesmas críticas contra os setores da nossa classe que se rebelam e se movem para construir uma alternativa. Da mesma forma que naquele momento, a luta de classes tem o seu curso. E cobrará de cada um a responsabilidade pelas suas políticas neste momento tão importante da história de nosso país.