O sistema capitalista vive um novo pico da sua crise estrutural. A segunda versão do Fórum Social Mundial ocorre no momento em que a crise do sistema capitalista atinge em cheio a principal potência do planeta: os Estados Unidos. Os atentados de 11 de setembro e o desmoronamento do Word Trade Center encaixam-se perfeitamente no cenário caótico da situação mundial. Esta grave crise evoluiu da periferia para o centro no final do século 20, levou a economia norte-americana à recessão e ventila o perigo de uma depressão da economia mundial.

A política de George W. Bush, seguida pela Europa e Japão, tem por objetivo superar a presente crise do capitalismo às custas do aumento qualitativo da exploração dos trabalhadores.

Aos países da periferia do sistema reserva-se um novo processo de colonização, que liquida com o que restava da sua soberania nacional através de um maior controle político, econômico e militar por parte do imperialismo, como o demonstra a imposição da Alca ao conjunto da América Latina.

Um dos pilares deste processo é a ofensiva militar contra aqueles países semicoloniais que ousem desafiar o domínio do império. Atualmente, o maior símbolo desta ofensiva tem sido a guerra contra o Afeganistão.

Fome, miséria, desemprego, rebaixamento dos salários, ataques às conquistas sociais, desnacionalização e privatização, controle absoluto do FMI sobre os governos e as instituições dos países semicoloniais e o estrangulamento de suas economias através da dívida externa são a realidade nua e crua oriunda da aplicação do neoliberalismo.

Lênin, no início do século 20, definiu que com o surgimento do imperialismo se abriria uma época de crises, guerras e revoluções. O século 21 é inaugurado com a constatação inequívoca de uma grave e profunda crise da economia mundial que atinge em cheio o coração do sistema, com uma nova guerra de agressão pelo controle do petróleo produzido no Oriente Médio e, agora, com o início de uma revolução na Argentina.

Massas se rebelam contra neoliberalismo
Mas o que afirmamos anteriormente é apenas uma parte da realidade. Em contraposição à ofensiva recolonizadora do imperialismo, as massas de trabalhadores e os povos de todo o mundo resistem.

No final do século 20, assistimos surgir um poderoso movimento anticapitalista nos Estados Unidos e Europa protagonizado por dezenas de milhares de jovens contra as reuniões dos organismos financeiros internacionais. Washington, Seattle, Praga e Gênova foram os principais palanques destas manifestações.

Contra a guerra de agressão sobre o Afeganistão, centenas de milhares se levantaram nos países árabes e em toda a Europa. Mesmo nos Estados Unidos, vimos importantes protestos contra a guerra. A crise dos planos neoliberais e suas conseqüências econômico-sociais têm empurrado as massas de inúmeros países à ação contra seus respectivos governos. A América Latina é um epicentro da luta de classes no mundo, ao lado do Oriente Médio.

Em toda a América Latina assistimos a uma polarização política e social que gera uma profunda instabilidade para os planos do imperialismo, a exemplo da Alca.

Desde o Equador até a Argentina, as massas operárias, camponesas e populares vêm se levantando contra governos e regimes democrático-burgueses desgastados por sucessivas crises políticas e escândalos de corrupção. Há um repúdio crescente aos partidos tradicionais, aos governos de turno, às instituições do regime político, exatamente por terem sido o instrumento de aplicação dos planos neoliberais e se subordinado absolutamente às ordens dos organismos financeiros internacionais.

Hoje assistimos o início de uma revolução na Argentina. Seu primeiro ato levou à queda do governo De la Rua, eleito há pouco mais de dois anos. As massas questionam um governo provisório atrás do outro, o conjunto das instituições democrático-burguesas e as eleições parlamentares.

Estratégia em debate
A situação mundial exige da esquerda um debate estratégico. É preciso romper com a visão rotineira que limita o eixo da ação às eleições parlamentares nos anos pares e às lutas sindicais nos ímpares. Urge superar a comodidade ao envolvimento somente em polêmicas táticas. Há atualmente uma grande necessidade de recolocar a centralidade estratégica da luta pelo poder, ou seja, da revolução socialista. Mesmo diante deste quadro, o reformismo aposta todas as suas fichas em políticas sociais raquíticas para ‘compensar’ os efeitos dos planos neoliberais e nas eleições parlamentares. Assim, vai terminar naufragando junto com o neoliberalismo e a democracia burguesa. Para nós, recolocar a centralidade da luta pelo poder passa pela ruptura com a estratégia – assumida no Brasil pela direção do Partido dos Trabalhadores – da cidadania, da democracia burguesa como um ‘valor universal’ e do sindicalismo de ‘resultados’.

É preciso articular as lutas defensivas das massas contra os ataques do capital com uma perspectiva estratégica ofensiva. Somente assim será possível superar o elemento mais atrasado de todos para o triunfo da revolução socialista: a construção de uma direção revolucionária de massas.

Para se lançar à perspectiva da luta pelo poder, de preparação insurrecional, é preciso encarar um período preparatório. E isso significa definir uma estratégia. Entre todos os temas relacionados à estratégia da revolução socialista, dois deles são fundamentais: a luta contra o imperialismo e contra a democracia burguesa.

Post author Euclides de Agrela, da redação
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