Carta aberta à militância do PSOL, PCB e do conjunto dos movimentos sociais combativos do estado de São Paulo

As gigantescas manifestações de junho abriram uma nova realidade política. As ruas foram tomadas por milhões de jovens e trabalhadores indignados com a falta de transporte, moradia, saúde e educação de qualidade. Mas não foi só isso. A revolta contra a corrupção se combinou com ódio à violência policial e à manipulação da grande mídia. Apesar da onda repressiva orquestrada pelos governos de plantão, as manifestações seguem se espalhando e questionando os poderosos.

O descontentamento do povo tem explicação clara: o dinheiro que falta para investir nas áreas sociais, sobra para as obras faraônicas dos estádios da Copa do Mundo e para as isenções fiscais às grandes empresas.  Enquanto a FIFA está lucrando bilhões de dólares numa Copa recheada de corrupção, o povo pobre morre nas filas dos hospitais, faltam vagas nas creches públicas e o transporte público segue um caos.  E não para por aí. As famílias pobres sofrem para pagar os alugueis exorbitantes e os operários convivem com o fantasma da demissão, como demonstra recentemente,a covarde demissão de centenas de metalúrgicos da GM de São José de Campos. O fato é: vivemos em um país campeão em desigualdade social!

Porém, para desespero dos governos e dos patrões, o ano começou quente, e não foi só na temperatura! As manifestações contra os desmandos da Copa, os rolezinhos, as fortes greves de trabalhadores, como a dos operários do Comperj (RJ) e a dos rodoviários no Rio Grande do Sul, são apenas uma pequena demonstração do que está por vir. Apenas começamos!

Frente a esse cenário, é decisivo ampliar e unificar as lutas em curso. A unidade dos explorados e oprimidos é chave para enfrentar os governos e arrancar conquistas. É necessário cercar de solidariedade ativa cada greve operária, manifestação estudantil e mobilização popular. É hora de conjugar as lutas e retomar as grandes manifestações que sacudiram o país!

Neste sentido, é preciso uma ampla unidade para repudiar veementemente as tentativas do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e de setores da grande imprensa de responsabilizar o PSOL e o PSTU pelos fatos que geraram a morte do cinegrafista Santiago Andrade. Querem manipular os fatos para atingir as mobilizações de conjunto e quem as apóia e luta diariamente para que elas voltem a contar com milhões de jovens e trabalhadores nas ruas.

Para avançar nesta tarefas fundamentais, acontecerá um grande encontro nacional no dia 22 de março, na cidade de São Paulo, convocado pelo Espaço de Unidade de Ação (movimento que é integrado pela CSP-Conlutas, Feraesp, entre outras entidades nacionais) e que tem como objetivo definir e organizar um plano de ação que unifique os movimentos numa grande jornada de protestos durante a Copa do Mundo.

É muito importante que todas as forças se unifiquem no encontro de março. Afinal, a esquerda socialista tem uma tarefa fundamental: participar ativamente das lutas atuais propondo a unificação delas num grande movimento nacional que questione os desmandos da Copa do Mundo e derrote a criminalização e a repressão aos movimentos sociais.

Na Copa vai ter luta! E começa já! Chega de dinheiro para a Copa, a FIFA e as grandes empresas! Mais dinheiro para moradia, saúde, educação e transporte público e de qualidade!

Propomos a construção de uma alternativa classista e socialista nas eleições
Nas eleições é necessário apresentar uma alternativa socialista e classista para os trabalhadores e à juventude, que se contraponha à direita tradicional (PSDB) e também ao PT e seus aliados burgueses (Maluf, Temer, Sarney). Por isso, defendemos a construção de uma Frente de Esquerda e Socialista nas eleições de 2014, tanto em nível nacional como no estado de São Paulo. O programa da Frente deve partir das reivindicações levantadas em junho e se combinar com a defesa de medidas anticapitalistas e socialistas que atendam às demandas mais sentidas dos trabalhadores, da juventude e da maioria do povo.

O governo do estado de São Paulo está dominado pelos tucanos há duas décadas. Depois de tanto tempo, uma verdade é evidente: os governos do PSDB amam os ricos e odeiam os pobres! Geraldo Alckmin segue à risca esta lição. Não por menos, é o responsável direto pela escalada de repressão aos movimentos sociais, como vimos de forma inequívoca com a tentativa de assassinato do companheiro Fabrício por 3 policiais militares e no massacre aos moradores do Pinheirinho. Na mesma linha, Geraldo segue conivente em relação à onda de crimes de homofobia e aos constantes assassinados da juventude pobre e negra das periferias.

Mas não é tudo. Seu governo está afundado na lama dos escândalos de corrupção do Metrô e trens. Nesse momento, aparecem provas cabais do pagamento de propinas de grandes multinacionais para expoentes das administrações do PSDB no estado. Enquanto a população passava – e passa – sufoco nos trens e metrôs da grande SP, com a superlotação e os seguidos defeitos no sistema, os políticos tucanos enchiam os bolsos com dinheiro público. Por isso, o povo sente a necessidade cada vez mais urgente de colocar Alckmin para fora – o governador corrupto e ditador!

Infelizmente, os governos do PT também não são alternativa. Aliaram-se aos partidos burgueses, representados por figuras sinistras da política brasileira, como Michel Temer, Maluf, Sarney, Renan, Feliciano, Collor e um longo etc, sempre para governar de acordo com os interesses das grandes empresas e contra os trabalhadores e a maioria do povo.

Dilma privatiza o Pré-sal, não garante os 10% do PIB para a educação pública e segue repassando dinheiro público para as grandes empresas. E, em pleno ano que se recorda com triste memória os 50 anos do Golpe Militar no Brasil, quer impor uma lei que visa criminalizar ainda mais as mobilizações e os movimentos sociais, transformando-os em “terroristas”.

Pela primeira vez temos uma mulher na presidência da República, mas não vemos uma mudança real para as mulheres, especialmente no tocante às trabalhadoras. Seguem as diferenças salariais e a verdadeira epidemia da violência contra a mulher – revelando a “olhos vistos” os limites da Lei Maria da Penha.

Haddad na Prefeitura da maior capital do país segue a mesma cartilha do governo anterior, mantém os contratos absurdos e de péssima qualidade com os donos das empresas de ônibus, não garante o passe-livre para os estudantes e nem um IPTU progressivo sobre as grandes propriedades. Para piorar, segue com a aliança espúria com Paulo Maluf e seu partido, o PP.

Por outro lado, tampouco o PSB e a Rede são uma alternativa real ao governo de SP. No discurso, criticam o PT e o PSDB, mas na prática apresentam um programa de continuidade do modelo vigente.

O PSTU propõe que a Frente de Esquerda e Socialista seja construída de forma coletiva pelos partidos da esquerda socialista e pelo conjunto dos movimentos sociais combativos. Chamamos o PSOL e o PCB a conformarem esta frente, mas ampliamos este chamado aos movimentos socais combativos de São Paulo como a CSP Conlutas – suas entidades e movimentos filiados, o MTST, o MPL, entre outros para que, juntos, construamos o programa e as propostas desta frente eleitoral.

É fundamental garantir a discussão programática em plenárias e encontros abertos ao conjunto da militância dos partidos, ativistas das manifestações e movimentos combativos. Só assim, a frente poderá ser expressão verdadeira do desejo de mudanças que ecoam nas ruas!

Esta frente não pode ter nenhuma aliança com a burguesia e seus partidos. Do mesmo modo, não podemos aceitar financiamento de empresas, bancos e empreiteiras. O dinheiro de campanha deverá vir exclusivamente de doações dos trabalhadores, do povo pobre e da juventude. Nesse sentido, é preciso denunciar amplamente o financiamento privado das campanhas eleitorais, bancado principalmente pelos bancos e grandes capitalistas. Afinal, como diz o ditado popular: “quem paga banda escolhe a música!”.

As candidaturas a Governador (a), Vice-Governador (a), Senador (a) e Deputados (as) e a distribuição do tempo de televisão e rádio devem ser discutidas respeitando o peso social de cada uma das organizações envolvidas.  Posto isso, devemos evitar posturas hegemonistas, que impediram a unidade em outras eleições.

A nova realidade aberta em nosso país pelas grandes manifestações de junho pavimenta o caminho para a construção desta unidade. O PSTU acredita nesta possibilidade e não medirá esforços para que esta unidade seja concretizada.

São Paulo, 13 de fevereiro de 2014

Direção Estadual do PSTU-SP