O governo Lula, como todos os governos chamados de “Frente Popular” pelo marxismo, tem uma definição de classe bem clara. É um governo burguês de conteúdo, mas com uma forma diferente dos outros governos burgueses. Ao ter em sua composição representantes do PT e da CUT, produz uma ilusão nas massas de ser um governo seu, dos trabalhadores.

Com essa ilusão, o governo Lula pôde garantir a mais alta taxa de juros do mundo e lucros recordes para os banqueiros e empresas, com muito mais facilidade que um governo de direita, porque os trabalhadores acreditaram nele. Aprovou também uma reforma da Previdência que nem FHC tinha conseguido aprovar.

Agora, quando a experiência com Lula se acelerou qualitativamente, depois dos escândalos de corrupção, existe uma discussão inevitável: o que colocar no lugar?
A alternativa para a burguesia é clara: basta esperar 2006 e eleger o candidato de PSDB/PFL. Esta proposta pode ganhar setores de massas que, mesmo desiludidos com as eleições, não vejam alternativas, e queiram punir o PT de Lula.

A alternativa do PT/PCdoB também é clara: esperar 2006 e votar novamente em Lula. Outro setor de massas pode, também, dar apoio a essa proposta. Não tanto por acreditar realmente nas desculpas de Lula ou do PT, mas com medo da volta da oposição burguesa.

Existe um amplo descontentamento com o governo e o Congresso, com os partidos dominantes. As últimas pesquisas indicam que Lula já é claramente minoritário na população, e que o Congresso tem ainda menos popularidade. Por esse motivo, a defesa do “Fora Todos!” encontra eco entre os trabalhadores e a juventude.

Mas não existe ainda um ascenso das greves e mobilizações dos trabalhadores, e por isso, ao olhar para o futuro, os trabalhadores e a juventude ainda enxergam as próximas eleições, ainda que com muitas desconfianças. Por isso, para se apontar uma proposta pela positiva sobre o que colocar no lugar de Lula e do Congresso vai uma distância maior. A consciência das massas está muito mais avançada na ruptura com o governo, que suas ações. Por isso não existem organismos de luta que dirijam as lutas dos trabalhadores e jovens, e nos quais eles vejam com clareza uma alternativa de poder.

Nós apontamos a necessidade de um governo, que seja verdadeiramente dos trabalhadores, sem o PT e a burguesia, que rompa com a Alca e o FMI, não pague a dívida externa e avance em direção ao socialismo. Um governo que expresse a vontade da base dos trabalhadores e da juventude, que repudiam a corrupção e a política econômica. Um governo como esse só poderia nascer das lutas diretas dos trabalhadores e não das eleições.

Evidentemente não teríamos hoje força suficiente para impor tal proposta. Só um grande ascenso poderia impor tal derrota à burguesia. Podemos começar a caminhar no sentido das ações diretas, com as mobilizações que a Conlutas está programando para o próximo mês, com atos nas grandes capitais do país, contra a corrupção e a política econômica.
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