Temer durante viagem à Rússia. Foto Agência Brasil
Rito Roman, do Rio de Janeiro (RJ)

A crise política que está submetida a superestrutura do poder do país é enorme e assume contornos dramáticos. Michel Temer já não é unanimidade nem mesmo em seu partido (PMDB). Renan Calheiros, por exemplo, renunciou à liderança da sigla no Senado Federal, aprofundando o isolamento do presidente. Uma ala expressiva dos tucanos pressiona para que o PSDB desembarque do governo.

Segundo a última pesquisa do instituto DataFolha, Temer tem apenas 7% de popularidade. É o menor índice de um presidente desde 1989, quando o então presidente José Sarney obteve 5% em meio à crise de hiperinflação.

A crise social que está mergulhada a população é o pano de fundo da crise política no Planalto. São oficialmente 14 milhões de desempregados e uma situação de absoluta barbárie na saúde e educação públicas. Uma nova onda de violência toma conta das cidades com assaltos e assassinatos que se multiplicam a cada dia.

Esse cenário de destruição reúne as características necessárias para arrancar Temer do poder e abrir um novo capítulo da luta de classes em nosso país. A burguesia se apresente dividida neste momento: Rede Globo e o jornal Folha de S.Paulo, representantes pesados das classes dominantes, estão abertamente em campanha pela queda do presidente. Apostam todas as suas fichas nas denúncias de corrupção e numa resolução por dentro do Supremo Tribunal Federal (STF).

A Globo está exibindo uma minissérie chamada de “Os dias eram assim”, que remonta os tempos da ditadura militar e não por acaso a campanha pelas “Diretas Já”. Já a Folha de S.Paulo não poupa nem seu ex-candidato Aécio Neves trazendo a seguinte notícia: “Com fundamento jurídico, STF favorece Rocha Loures e Aécio apesar das evidências devastadoras”.

Essas organizações poderosas estão em campanha pelo Fora Temer pelo mesmo motivo que as levaram a apoiar o impeachment de Dilma: não confiam mais que Temer terá condições de aprovar suas reformas. Temer já está demasiado fraco e isolado para governar um país que já foi sacudido por uma greve geral no 28 de abril e dias intensos de luta. Até Fernando Henrique Cardoso já pediu a renúncia de Michel Temer: “Os governantes dedicam um esforço enorme para apagar incêndios e ainda precisam assegurar a maioria congressual, nem sempre conseguida, para aprovar as medidas necessárias à retomada do crescimento (…) Apelo, portanto, ao presidente para que medite sobre a oportunidade de um gesto dessa grandeza, com o qual ganhará a anuência da sociedade para conduzir a reforma política e presidir as novas eleições”.

No entanto, a dita “esquerda” não faz o dever de casa. O boicote do PT/CUT e do PCdoB/CTB na greve geral do dia 30 de junho foi uma traição criminosa. De conteúdo transformaram o que seria uma segunda greve geral, em um dia nacional de mobilização. Ou seja, optaram conscientemente em não parar a produção dos capitalistas. No momento em que Temer balança, esses senhores juntamente com a Força Sindical e UGT, operaram o desmonte para negociar migalhas com Temer e manter a ordem social do país.

Existe um acordo de bastidores: o PT e a CUT não inviabilizam nas ruas o governo Temer e suas reformas, e em contrapartida Lula disputa as eleições em 2018. Lula foi categórico ao afirmar nesta quinta-feira (29 de junho) à rádio difusora “A Voz da Selva” no Acre: “Se o procurador-geral da República tem denúncia contra o presidente, tem que provar. Tem que ter provas materiais”. Depois completou: “Se ele [presidente] for culpado, tem que ser julgado. Mas se o procurador-geral da República não estiver falando a verdade, tem que passar por punição”.

Ainda é cedo para saber se acordo será mantido até o fim. A crise é profunda, a instabilidade política e social é enorme e o acordo pode melar. A divisão e crise da burguesia podem levar a saídas improvisadas ou mal calculadas. Só o tempo vai dizer o destino de Temer, Lula, Aécio e toda essa turma.

A aposta do PSTU é jogar todos os nossos esforços na mobilização da classe trabalhadora pelo Fora Temer e Fora Todos Eles e inviabilizar a aprovação das reformas. A resistência contra as reformas da Previdência e trabalhista é o centro da luta de classes. Aqui será decidido quem pagará a conta da crise: a burguesia ou a classe trabalhadora. Por isso, construímos com todas as nossas forças a Greve Geral do 28 de abril, ocupamos Brasília no 24 de maio e impulsionamos o último dia 30 de junho. Mas nem todos pensam assim…

Dia 30 de junho em Aracaju (SE)

A campanha pelas Diretas encabeçada pelo PT, CUT, MST, PCdoB, CTB e MTST nada mais é que um pré-lançamento da candidatura de Lula à presidência. Infelizmente o PSOL e seus satélites, mesmo que lancem candidatura própria em 2018, embarcaram nessa frente ampla pelas diretas, onde cabe até partidos burgueses como PDT e PSB. Enfim, estão todos se preparando para eleger seus parlamentares em 2018.

Existe um outro motivo ainda mais importante para o PT, PCdoB e PSOL não apostarem na mobilização direta e massiva da nossa classe: estão comprometidos com as regras do jogo. Querem ser parte do “Estado Democrático de Direito”. São casados com o regime democrático burguês e se agarram a ele como valor universal. Por isso, a luta de classes deve ser controlada e limitada e não fugir dos trilhos do capitalismo e da “democracia”.