Votação da denúncia de Temer por corrupção na Cãmara. Agência Brasil
Leonardo Maia, de Aracaju (SE)

 Na grande imprensa, tem-se alimentado a ideia de que a vitória de Temer nesta última quarta-feira, 2, para o arquivamento das denúncias de corrupção, foi resultado da intensa compra de voto dos deputados federais através de emendas parlamentares nos últimos meses de junho e julho. Mas, pelos que os números demonstram, essa tese parece ser só mais um argumento para encobrir um grande acordão entre os aliados de Temer e a oposição para manter tudo do jeito que está.

Segundo o site The Intercept Brasil, só nos meses de junho e julho o governo pagou aos 513 parlamentares listados para votar nesta quarta-feira R$ 729,3 milhões em emendas e empenhou R$ 3,09 bilhões. A diferença de valores entre os deputados que votaram contra e a favor da denúncia é pequena. Para os que votaram contra foi destinado R$ 1,612 bilhões, para os que votaram a favor foi destinado R$ 1,334 bilhões.

No ranking dos 20 que mais receberam dinheiro de emenda parlamentar nesses dois últimos meses, 14 votaram a favor da denúncia de corrupção contra Temer, quatro votaram contra e dois se abstiveram. Os três que mais receberam emendas votaram a favor, e são eles o deputado Flavinho (PSB), Stefano Aguiar (PSD) e Ivan Valente (PSOL).

O que justifica então o Congresso Nacional salvar a pele de um presidente envolvido até o pescoço em esquemas de corrupção, ex-vice de uma presidente já “impeachmada”, com apenas 5% de popularidade?

Primeiro que o Congresso é formado todo por bandidos. Segundo, são deputados financiados por grandes empresas multinacionais, bancos e latifundiários do agronegócio, que encomendaram as reformas da Previdência, trabalhista, a lei da terceirização e os cortes em saúde, educação e demais serviços públicos. Terceiro que, tanto para a burguesia, quanto para os aliados de Temer, como para os deputados da dita oposição, é melhor que Temer gaste a popularidade que ele não tem para aplicar todos esses ataques.

Como o próprio Temer declarou no dia 22 de dezembro de 2016, “um governo com popularidade extraordinária não poderia tomar medidas impopulares. Estou aproveitando a suposta impopularidade para tomar medidas impopulares”. Com isso fica evidente que, para a burguesia, única beneficiada com essas medidas e que controla o Estado e suas instituições, não vale a pena arriscar o pescoço de uma figura que pode acalmar a revolta da classe trabalhadora e das massas populares, e que pode salvar a democracia dos ricos, que está desgastada até a tampa.

Não é à toa que, por fora do teatro encenado pelos deputados no Congresso e no Senado, a cúpula das maiores centrais sindicais, dentre elas a CUT e a CTB, desmontaram a greve do dia 30 de junho. Essas duas centrais são controladas, respectivamente, pelo PT e PCdoB. Esses dois partidos abandonaram a luta direta dos trabalhadores e passaram a investir todas as suas forças na campanha de Lula 2018. Assim, utilizaram a campanha das “Diretas Já” para desviar o foco da greve geral e voltar a atenção dos trabalhadores para o processo eleitoral.

Os trabalhadores brasileiros já mostraram que tem disposição para lutar e não devem cair nessas ilusões.  Os trabalhadores precisam derrotar o governo Temer, o Congresso Nacional e a política de ajustes imposta a mando dos empresários. Significa impedir que seja aplicada a reforma trabalhista e que seja aprovada a reforma da Previdência. Isso se faz de forma organizada, nos bairros e locais de trabalho, através da luta direta, ocupando fábricas, repartições públicas e fechando ruas.

A podridão desse sistema político, a serviço dos empresários, coloca para os trabalhadores uma outra grande tarefa. É necessário construir uma direção capaz de conduzir nossas revoltas e disposição de luta, sem vacilação. Nesse sentido, nós do PSTU fazemos um chamado. Não tenhamos mais ilusões no PT, que já nos traiu, não tenhamos ilusões mais nas eleições. Precisamos construir um governo da classe trabalhadora, organizada e na luta. Mais que isso, precisamos de uma revolução socialista, que acabe com a exploração e tire das mãos dos ricos toda a riqueza que a nossa classe produz, mas nunca usufrui.

Veja o ranking dos deputados federais que mais receberam emendas entre junho e julho de 2017

1- Flavinho – PSB (SP) – 7.759.168,62 – A FAVOR

2- Stefano Aguiar – PSD (MG) – 6,529,535.18 – A FAVOR

3- Ivan Valente – PSOL (SP) – 5.804.879,91 – A FAVOR

4- Alexandre Serfiotis – PMDB (RJ) – 5.798.151,99 – SE ABSTEVE

5- Hermes Parcianello – PMDB (PR) – 5.505.613,42 – CONTRA

6- Reginaldo Lopes – PT (MG) – 5.294.985,93 – A FAVOR

7- Sérgio Reis – PRB (SP) – 5.188.383,49 – A FAVOR

8- Leopoldo Meyer – PSB (PR) – 5.140.456,67 – A FAVOR

9- Mandetta – DEM (MS) – 4.846.765,66 – A FAVOR

10- Arnaldo Faria de Sá – PTB (SP) – 4.818.016,44 – A FAVOR

11- Heitor Schuch – PSDB (RS) – 4.697.321,46 – A FAVOR

12- Adelmo Carneiro Leão – PT (MG) – 4.605.723,98 – A FAVOR

13- Félix Mendonça Júnior – PDT (BA) – 4.569.091,39 – A FAVOR

14- Jorginho Mello – PR (SC) – 4.562.799,88 – A FAVOR

15- Gilberto Nascimento – PSC (SP) – 4.476.700,46 – SE ABSTEVE

16- João Campos – PRB (GO) – 4.465.080,77 – CONTRA

17- Júlio César – PSD (PI) – 4.428.753,53 – CONTRA

18- José Stédile – PSB (RS) – 4.427.781,20 – A FAVOR

19- Eduardo da Fonte – PP (PE) – 4.400.335,48 – CONTRA

20- Ana Perugini – PT (SP) – 4.376.242,30 – A FAVOR