Quatro dos cinco deputados federais eleitos pelo PSOL divulgaram uma nota em nome da bancada parlamentar do partido chamando a votar na candidata do PT, Dilma Rousseff, no segundo turno das eleições. Este gesto político concreto traduz, nos fatos, o contorcionismo político da nota divulgada pela direção do PSOL.

É a maneira pela qual este partido reage à pressão pelo voto no menos pior. A pressão se baseia numa ideia que está na moda neste momento político, a de que há uma onda conservadora atropelando tudo e que explicaria o voto em Aécio Neves (PSDB). Logo, seria preciso resistir a ela votando no menos pior, ou seja, na candidata do PT.

Esta ideia serve para ajudar o PT a encobrir sua própria responsabilidade. É fato que os direitistas de todas as matizes – homofóbicos, machistas, racistas – e que parte expressiva do grande empresariado vota em Aécio, o identifica como seu representante mais legítimo. Mas isso não explica toda a votação do PSDB.

Muitos dos votos dados a Aécio vêm de milhões de trabalhadores e trabalhadoras que simplesmente se decepcionaram, sentiram-se traídos pelo PT ou que simplesmente estão muito descontentes com o governo do PT. São votos de oposição, que manifestam o desejo de mudanças no país e que, na falta de uma alternativa de massas da esquerda, são capitalizados pelo PSDB.

São votos que estão longe de aderir programaticamente a Aécio ou a uma onda conservadora. São votos de castigo ao PT.

Se entendessem isso, os dirigentes do PSOL saberiam que falar em menos ruim para justificar o voto no PT é o mesmo que ajudar este partido a manter os trabalhadores prisioneiros do falso dilema de que qualquer movimento para construir uma alternativa de classe, independente dos patrões e socialista, seria fazer o jogo da direita. O PT, depois que buscou aliança com banqueiros e grandes empresários e governa para eles há 12 longos anos, é uma das alternativas deles, da burguesia.

Limites do programa
No entanto, este gesto político do PSOL através de suas figuras mais reconhecidas, combina com o que foi a campanha deste partido. Analisemos rapidamente dois aspectos: o programa defendido durante a campanha e o critério de independência financeira e política em relação à burguesia.

No debate da Globo, seguramente o momento de maior audiência do PSOL durante a campanha, não se ouviu da candidata Luciana Genro nenhuma defesa da suspensão do pagamento da dívida, da estatização dos bancos, da reestatização das empresas privatizadas ou da nacionalização das terras, com expropriação do latifúndio e de grandes empresas do agronegócio. Ou seja, ela não defendeu um programa anticapitalista, que apontasse para uma sociedade socialista. Foi importante a defesa dos direitos democráticos e civis das mulheres, negros e negras, LGBT’s, assim como é importante defender a taxação das grandes fortunas. Mas isso é insuficiente para compor uma alternativa de classe, que possa garantir o atendimento às demandas dos trabalhadores e do povo pobre.

Financiamento
O PSOL aceitou o financiamento de um grande grupo empresarial, o grupo Zaffari. Em anos anteriores, o PSOL já havia aceitado financiamento da Gerdau. Sabemos todos que independência financeira é essencial para que haja independência política de classe e que, sem isso, não há luta consequente contra o capitalismo. Portanto, não se pode desconhecer a gravidade deste gesto. O PT começou a se transformar no que é hoje trilhando justamente este caminho.

A explicação dada pela candidata do PSOL, em vídeo que circulou pela Internet, é mais preocupante ainda. Diz que a doação não tem importância, afinal de contas a posição do PSOL não mudou por tê-la recebido. Ora, alguém já ouviu algum dirigente do PT dizer que mudou a posição do partido porque está sendo financiado por grandes empresas?

Não é assim que as coisas funcionam. A cooptação tem sido a arma mais importante utilizada pelo capitalismo desde o século passado para destruir organizações da classe trabalhadora. Ou o PSOL acha que o grupo Zaffari, um conglomerado com mais de nove mil empregados, doou recursos para o partido porque preza a democracia?

Ao ver a participação do PSOL nas eleições em sua totalidade, fica mais compreensível a posição adotada pela sua direção e por seus deputados no segundo turno. Se o programa do partido fica limitado à defesa da radicalização da democracia e se sequer a independência econômica e política de classe é um princípio, então fica menos complicada a defesa do voto em Dilma no segundo turno.