Neste início de semestre, batalhões pesados da classe trabalhadora foram à luta. Mas o que explica derrotasCategorias de peso da classe trabalhadora deixaram a defensiva e foram à luta neste segundo semestre. Metalúrgicos, operários da construção civil, bancários, funcionários dos Correios, entre outros importantes setores, realizaram, ou fazem, greves heroicas e mobilizações em busca não só de reposição da inflação, mas de aumento real nos salários.

Os trabalhadores revelam um outro lado da recuperação econômica, não mostrado pelo governo ou pela imprensa. A economia de fato passa por um crescimento momentâneo, mas a enxurrada de demissões que marcou a chegada da crise ao país não foi compensada. Resultado: um menor número de trabalhadores arca com o crescimento dos serviços ou da produção, gerando superexploração para aumentar os lucros dos empresários. Situação muito nítida entre os metalúrgicos ou os bancários, que sofrem com as demissões provocadas pelas fusões no último período.

Papel das direções
Se, por um lado, os trabalhadores demonstram grande capacidade de luta, por outro, as direções sindicais do movimento mostram claramente o seu papel. Nos chamados batalhões pesados da classe trabalhadora, os esforços das atuais direções nas campanhas salariais estiveram a serviço de um único objetivo: impedir uma mobilização longa e desgastante para o governo. Para isso, fazem acordos rebaixados e, quando a base da categoria se revolta, lançam mão de manobras para enterrarem, de qualquer forma, a luta.

Exemplo disso foi a heroica greve nacional dos Correios. Deflagrada no dia 15 de setembro, a paralisação logo demonstrou uma enorme capacidade de luta dos trabalhadores da empresa, que recebem os piores salários entre as estatais, além de enfrentarem péssimas condições de trabalho.

Entre as reivindicações, 41% de reposição das perdas salariais dos últimos anos, além de R$ 300 de reajuste para todos. Logo no início, a greve atingiu 33 dos 35 sindicatos que compõem a Fentect (federação que reúne as entidades representativas dos funcionários da estatal). De início, a empresa propunha apenas a reposição da inflação. A mobilização, porém, foi tão forte que a forçou a apresentar uma alternativa em pouco tempo.

A proposta da empresa, porém, continha uma armadilha indecente. Ela apresentava 9% de reajuste, mas válido para dois anos, ou seja, acabava com a possibilidade de campanha salarial em 2010. O objetivo era muito claro: além de impor um reajuste rebaixado (considerando o período de dois anos), o acordo protegia o governo do desgaste de uma eventual greve em ano eleitoral.

O chamado acordo bianual gerou uma briga no comando de negociação, dividindo a direção, composta principalmente pela Articulação e a CTB. No entanto, nos estados, as direções agiram para desmontar a mobilização. Assim, a CTB aprovou o fim da greve nas três principais bases que dirige e que compõem a maioria: Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Para isso, lançou mão de manobras e mentiras, por exemplo, a garantia de pagamento dos dias parados.

Apesar da combatividade dos funcionários, essa direção sindical conseguiu enterrar a greve, não sem antes sofrer um duro desgaste na base.

Metalúrgicos se revoltam contra CUT
O papel da direção sindical, seja CUT, CTB ou Força Sindical, também ficou evidente na campanha salarial dos metalúrgicos das grandes montadoras. Em Gravataí (RS), onde a categoria é dirigida pela Força, e Camaçari (BA), comandada pela CTB, os sindicatos fecharam acordos que mal repunham a inflação.

Os acordos rebaixados não impediram que explodisse a mobilização em outras bases, como no Paraná, onde os operários entraram em greve. Já na maior e mais tradicional base operária do país, no ABC, o sindicato dirigido pela CUT firmou um acordo rebaixado com as direções das montadoras, garantindo reajuste de apenas 6,53%.
Mesmo índice fechado pelo sindicato cutista de Taubaté (SP). Como se não bastasse, tentaram vender o acordo como “o maior reajuste” do país. Isso num contexto em que as automobilísticas, pela isenção de IPI concedida pelo governo, tiveram vendas e lucros recordes.

Pouco tempo depois, os metalúrgicos de Campinas e São José dos Campos, em campanha salarial conjunta, conquistaram reajustes superiores. Os sindicatos, ligados à Intersindical e à Conlutas, após mobilizações com ampla pressão e paralisações, fecharam acordos que garantiam 10% de reajuste em Campinas e 8,3% em São José.
Esse resultado fez explodir uma revolta na base dos metalúrgicos da Volks e da Ford em Taubaté. Indignados, os operários forçaram a realização de assembleia, aprovaram greve e fizeram o sindicato renegociar o índice. A entidade, porém, conseguiu apenas uma pequena modificação no bônus e acabou logo com a greve.

Era possível mais
Do começo ao fim, a campanha salarial nas montadoras foi um retrato fiel do papel dessas centrais. Primeiro, a direção da CUT se recusou a pôr em marcha uma campanha unificada. Saíram para a negociação sem mesmo ter um índice. Depois, aprovaram um acordo rebaixado que, além de isolar as lutas que se desenvolviam, tornou ainda mais difícil a negociação nas outras bases.

A mobilização e a campanha salarial vitoriosa em São José e Campinas tornaram-se referência e expuseram por completo a traição da CUT, provocando ampla indignação em suas próprias bases. Mostraram ainda que, além de se recusarem a mobilizar, também agiam para bloquear qualquer luta em potencial.

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