Estamos já perto da marcha do dia 17 de agosto, convocado pela Conlutas para protestar contra a corrupção e contra a política econômica do governo. Não se trata de um simples ato, mas da primeira manifestação nacional de peso contra o governo em meio a esta enorme crise política nacional.

Até agora se realizaram apenas atos regionais, em geral muito combativos, mas com um pequeno número de participantes. Ainda impera um ceticismo grande no movimento de massas, subproduto da experiência negativa com o PT. A construção de um grande ato nacional em Brasília pode ser um fator importante para desencadear uma onda de lutas bem mais forte posterior.

Só isso já justifica os esforços que os ativistas de todo o país estão fazendo para garantir os ônibus, a liberação do trabalho, e possibilitar a viagem a Brasília, no centro do país. Mas existem outros motivos para justificar politicamente este ato.

Sem a mobilização de massas, vai acabar por prevalecer no país o acordão que o governo e a oposição burguesa estão querendo construir para sair da crise atual. Tanto um como outro não querem que a investigação avance, porque significaria expor com clareza que tanto o PT como o PSDB, tanto Lula como FHC, se beneficiaram do dinheiro de Marcos Valério, assim como dos outros esquemas de corrupção. A crise atual abre espaço para a mobilização independente das massas. Mas caso não existam grandes lutas, eles acabarão chegando a um acordão, patrocinado por essa CPI chapa-branca, que aí está.

É preciso também fortalecer o dia 17, para enfrentar a manobra governista, ao redor do outro ato, do dia 16. O PT/PCdoB, que dirigem a UNE e a CUT, estão convocando um ato para o dia 16, um dia antes e também em Brasília, com a óbvia intenção de diminuir a força do dia 17. Para causar confusão entre os trabalhadores e jovens, estão convocando esse ato “contra a corrupção e por mudanças na política econômica do governo”. A Executiva Nacional do PT, com Tarso Genro à cabeça, já assegurou sua presença. Assim, PT e PCdoB, partidos que estão no governo e apóiam o governo, vão fazer um ato como se não tivessem nenhuma responsabilidade na história, e como se estes problemas não tivessem tudo a ver com o governo Lula.

Existe um outro motivo, talvez mais importante que os outros para que construamos juntos um grande ato no dia 17 de agosto. Não é possível que os trabalhadores e jovens de todo o país aceitem que suas alternativas se restringem ao PT/PCdoB, de um lado, e à oposição burguesa, comandada pelo PSDB/PFL, de outro. Esses partidos disputam ferozmente o aparato de Estado, mas são iguais na política econômica neoliberal e na corrupção. FHC teve um governo tão ou mais corrupto que o de Lula, como o demonstra a privatização das telefônicas e a votação da reeleição no Congresso.

É preciso construir uma alternativa a essas duas forças hegemônicas na sociedade, desde dentro do próprio movimento de massas. Não é possível que a oposição burguesa capitalize a crise do governo Lula a serviço de sua estratégia eleitoral de 2006. Isso demonstra mais uma vez a importância do ato do dia 17.
Existe, neste momento, uma ruptura de um setor amplo das massas com o governo Lula. No entanto, uma outra parte do movimento ainda apóia o governo, temendo a volta do PSDB/PFL. Em particular nos setores mais organizados, no movimento sindical, onde o PT estava mais enraizado, pode-se perceber a existência dessa parcela dos trabalhadores. Destes, há uma parte que ainda acredita que Lula não sabia de nada. Mas hoje já é difícil sustentar essa posição. Na verdade, o que mais trava esses trabalhadores é a falta de uma alternativa de massas ao PT, à CUT e ao governo Lula. Eles se perguntam: se cair Lula, não vai vir PSDB e PFL de novo?

É muito importante, portanto, começar a construir uma alternativa do movimento de massas, completamente distinta da oposição burguesa. É por isso que vemos a necessidade de que o dia 17 aponte para um pólo do movimento de massas, de esquerda, contra a corrupção e a política econômica do governo. Depois do dia 17, já está se discutindo um plano de lutas que inclua atos em todas as grandes capitais do país, que dê continuidade à mobilização.

Só a mobilização direta dos trabalhadores e da juventude pode chegar um dia a derrubar este governo e o Congresso. Mas, para isso, seria necessário dar um passo adiante, ter uma nova situação com uma ampla mobilização nacional de massas.

Esse pólo, para avançar nesse sentido, deve abarcar a Conlutas, os setores do movimento sindical, estudantil e popular e a esquerda (PSTU, P-SOL, PCB e outros) que se disponham a avançar na construção de uma alternativa de lutas. É importante ter este objetivo claro porque, para ganhar os setores de massas que ainda apóiam o governo por desconfiar do PSDB/PFL, não se pode apostar em uma unidade com essa oposição de direita.

Tampouco se pode confiar nos setores da oposição burguesa, como PDT e PPS, que agora se colocam na oposição, mas que estiveram apoiando governos neoliberais e corruptos. O PDT apoiou Collor até quase o último momento, esteve engajado no governo Lula, e tem entre seus quadros os dirigentes da Força Sindical, tão de direita como a CUT. O PPS foi parte do governo FHC (com Raul Jungmann na Reforma Agrária), assim como é parte de governos estaduais com a direita. Apesar de estarem na oposição neste momento, não têm diferença de qualidade com o PSDB/PFL.

Para começar a se construir uma alternativa, tanto contra o governo como contra a oposição de direita, é hora de todos arregaçarmos as mangas e construirmos um grande ato no dia 17 de agosto. Todos às ruas!

Post author Editorial do jornal Opinião Socialista 228
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