Dois anos depois da primeira greve de fome através da qual o bispo dom Luiz Flávio Cappio, conhecido entre o povo apenas como “Frei Luiz”, manifestou-se contra o projeto de transposição do Rio São Francisco, novamente está o bispo em greve de fome, decidido a mantê-la até o fim caso o governo não interrompa as obras, tocadas pelo Exército brasileiro. A pergunta que se faz é: porque uma notícia que obteve imenso destaque quando da primeira greve de fome, desta vez está praticamente silenciada quase pela integralidade da mídia?

Dom Luiz Flávio Cappio tornou-se uma espécie de líder da corrente contrária ao projeto de transposição do Rio São Francisco, tido como o principal do atual Ministério da Integração Nacional, a ponto de muitos afirmarem tratar-se de um ministério “de um projeto só”. Entre as críticas sofridas pelo projeto, está o custo-benefício do mesmo, o seu poder de alcance (diverge-se acerca do número de pessoas que poderiam ser beneficiadas), acusações de beneficiamento do agronegócio exportador em detrimento do bem-estar das populações ribeirinhas e do meio-ambiente e a indisposição governamental em avaliar projetos alternativos por muitos defendidos como melhores e mais baratas soluções para o problema da seca nordestina.

O atual ministro, Geddel Vieira Lima, anteriormente contrário ao projeto, quando ainda não ministro, hoje diz-se favorável a ele, defendendo-o de forma convicta. Opinando acerca da atitude do bispo em novamente fazer greve de fome, disse pensar que “a postura do bispo vai contra ensinamentos da Igreja, vai contra o que eu aprendi a respeitar desde muito jovem, como saber que é pecado atentar contra a vida”. Defende-se o bispo Cappio, dizendo que “exatamente porque a minha vida não pertence a mim e sim Deus, pois a ele já a entreguei há muito, é que a ofereço pela vida de muitos”.

O que gera indagações é o motivo pelo qual o assunto está sendo tão pouco comentado pela grande mídia, com destaque para os canais de televisão, estes não tendo até agora praticamente noticiado a respeito. Dando nome aos bois, pôde-se ver, por exemplo, no primeiro dia da greve de fome, ser questionado o presidente Lula, durante entrevista coletiva ao vivo no Jornal da Record, acerca da questão, sendo essa uma das poucas menções a respeito do caso na televisão. Na primeira greve de fome, podia-se ver praticamente todos os dias, nos jornais, notícias, entrevistas e opiniões de comentaristas a respeito do tema, obtendo o fato grande destaque inclusive na mídia internacional.

Neste sentido, causa no mínimo estranheza que jornais de grande audiência como Jornal Nacional, Jornal da Record, Jornal do SBT e até mesmo o Jornal da Cultura não estejam dando ao assunto a cobertura que este merece, tratando-se de um tema tão relevante e novamente tendo-se em conta a disparidade da importância a ele dada dois anos atrás.

Freqüentemente alvo de críticas e acusações de manipulação por parte do poder político e econômico, inclusive dos governos e corporações internacionais, a mídia brasileira preocupa-se em consolidar uma imagem de credibilidade e independência. Neste sentido, cabe a pergunta: será possível que a mídia brasileira, nomeadamente os grandes jornais impressos, televisivos, os programas de debates e as emissoras de rádio acreditem poderem sair intactos de críticas e acusações sobre seu silêncio acerca do assunto, arriscando-se, no limite, até mesmo ao descrédito ante o povo brasileiro?

Espera-se pelo bom senso dos editores e controladores da grande mídia brasileira para que invertam a tendência ao silêncio e passem a dar ao assunto a cobertura e a importância merecidas, noticiando o assunto e coordenando debates em torno dele que possibilitem a formação da opinião popular acerca do tema.

*Eduardo Lima dos Santos é vendedor; Ezequiel Lima Cunha é auxiliar de loja; Fábio Lima dos Santos é estudante do curso de Direito da USP; e Sebastião Alves dos Santos é metalúrgico.