O Dia Nacional de Luta com Greves e Paralisações não deixou margem para dúvida: a entrada em cena da classe trabalhadora brasileira é o fato decisivo
da conjuntura e terá ainda muitos desdobramentos com o novo Dia Nacional de Paralisação, marcado para 30 de agosto. A burguesia, o governo e a
imprensa, assustados com essa perspectiva, “denunciaram” o caráter organizado dos atos, em contraste com as manifestações espontâneas de junho,
como se o fato de serem organizados, chamados com antecedência e preparados por meio de acordo entre as várias centrais sindicais, fosse algo negativo.
Para quem participou diretamente das atividades do 11 de julho, ao contrário, ficou clara a necessidade de organizar ainda mais, preparar ainda melhor a
mobilização dos trabalhadores. No dia 11, as bandeiras vermelhas dos partidos de esquerda tremularam livres novamentee o “anti-partidarismo” dos dias 
de junho ficou, aparentemente, para trás. Os carros de som falaram alto, asfábricas pararam e as colunas marcharam  da maneira tradicional.
Essa mudança de cenário, aliada ao sentimento já existente em um setor do ativismo de que as manifestações “horizontais” e desorganizadas sofriam
de certa limitação, fez com que muitos companheiros e companheiras sem partido, porém engajados nas lutas desde o início, começassem a pensar: “de fato, é necessário algum tipo de organização política…” Porém, esses mesmos companheiros e companheiras se perguntam: “mas será que precisamos construir essa organização hoje?”, “será que ela precisa mesmo ser um partido revolucionário, estruturado e organizado?”, “não seria melhor construirmos por enquanto outro tipo de organização, e somente no futuro, passar à construção de um partido revolucionário?”, “para quê um partido revolucionário
hoje, se não estamos ainda diante do embate decisivo?”, “não seria melhor acumular forças com uma organização menos rígida, mais aberta, unindo as mais diferentes correntes de esquerda, e somente depois construir um partido?”. São dúvidas compreensíveis e é com elas que queremos dialogar.
a classe trabalhadora e suas direções Aconteceu na maioria dos países, inclusive no Brasil, que, ao longo de sua história, a classe trabalhadora construiu
direções amplamente reconhecidas e respeitadas. Essas direções, também na maioria dos casos, eram direções reformistas.Às vezes combativas, às vezes
classistas, às vezes de esquerda. Mas reformistas. Sua estratégia, em última instância, se chocava com a necessidade histórica da classe trabalhadora, que
era (e continua sendo) a de fazer uma revolução socialista, expropriar a burguesia e construir uma nova sociedade sem exploração e opressão.
No caso do Brasil, o PT e a CUT são essas direções. Foram organizações forjadas nas lutas contra a ditadura e dos anos 1980. Apesar de todos os crimes
que cometeram contra a organização e a mobilização dos trabalhadores, continuam sendo consideradas e respeitadas por setores importantes da classe operária organizada. Assim, a história também demonstra que uma direção reformista ou burocrática, uma vez que tenha chegado a dirigir a classe trabalhadora, pode cometer muitas traições, e até mesmo atrocidades, sem que os trabalhadores rompam em definitivo com ela. Os operários
são pessoas muito práticas: não jogam fora uma direção, por mais burocrática e traidora que ela seja, se não enxergam a possibilidade de construir
uma nova, de superar pela positiva o passado. Assim, a classe trabalhadora tende a “suportar” direções traidoras por muito mais tempo do que mereceriam ser suportadas. Em geral, somente grandes eventos (revoluções, guerras, crises econômicas agudas, ascensos de massas, etc.) são capazes de expor o verdadeiro significado da traição das direções reformistas e burocráticas e provocar a ruptura definitiva entre as massas e seus antigos líderes.Mas quando  isso acontece, o que vemos é uma ruptura abrupta, violenta, não planejada com a direção anterior. Ou seja, a classe trabalhadora rompe com sua antiga liderança sem ter construído uma nova. É por essa razão que, diante de grandes acontecimentos, os trabalhadores se veem muitas vezes sem uma direção à altura dos desafios. Por isso tantas vezes o que prima nos momentos de grandes crises nacionais é a confusão, o vazio, a ausência de uma direção verdadeiramente revolucionária,  capaz de dar uma saída a uma situação aparentemente sem saída. O que é construir um partido?
Esses vazios ocorrem porque uma direção revolucionária não pode ser improvisada da noite para o dia. Construir  educar toda uma geração de militantes em
um espírito de combate, disciplina, seriedade, organização e entrega à causa do socialismo. Forjar uma direção revolucionária significa selecionar quadros,
formar uma coluna de dirigentes que não fujam às suas responsabilidades no momento decisivo, que não entrem em pânico e não corram de costas para o
inimigo quando este ataca. Portanto, a construção de uma direção revolucionária requer algo muito simples, mas ao mesmo tempo muito concreto e precioso: tempo. Uma direção revolucionária é forjada não durante as semanas da revolução, mas durante anos, às vezes décadas! Uma direção revolucionária se forma nas lutas econômicas mínimas, defensivas, nas prisões e perseguições, nos momentos em que os revolucionários não passam de uma
ou duas dúzias de obstinados que lutam contra o sistema e as direções traidoras como Davi lutou contra Golias. A luta no período pré-revolucionário, o trabalho sistemático sobre as massas, os anos de isolamento e resistência criam, entre os membros da organização, os laços de confiança e camaradagem
tão necessários no momento do combate final. Os anos de debates internos e polêmicas públicas com outras correntes dão corpo ao programa, aperfeiçoam
as capacidades teóricas e políticas dos militantes, aguçam seus sentidos revolucionários, preparam o assalto decisivo. A luta clara e aberta, por anos
a fio, contra a antiga direção traidora é parte do processo de sua derrubada. Começa, também, portanto, muito antes de sua queda definitiva. 
É verdade que as massas podem aprender nas semanas revolucionárias o que não aprenderam em décadas de calmaria. E o partido revolucionário
também. Mas sem o acúmulo anterior, sem essa escola revolucionária prévia, não haverá nenhum núcleo revolucionário apto sequer a aprender. Nenhum pólo para o qual as massas possam canalizar  suas novas esperanças. É por isso que em situações revolucionárias um pequeno partido pode dar um salto gigantesco em pouco tempo e se tornar um grande partido de massas, desde que acerte na política. Mas é preciso o cúmulo anterior. Todo salto precisa de uma base, uma plataforma impulsionadora.
O aprendizado do período pré-revolucionário é esta base fundamental. O erro de alguns socialistas honestos O erro fundamental de muitos companheiros
sinceros que querem chegar ao socialismo consiste, portanto, em que pretendem “acumular forças” construindo hoje organizações frouxas, não-revolucionárias, não-centralizadas. Acham que é possível, assim que a revolução começar, transformar essas organizações amorfas em verdadeiros partidos Tal transformação nunca aconteceu na história e não há motivos para pensar que agora vá acontecer. O partido revolucionário é a consciência histórica da  classe. 
Construir uma organização é preservar e desenvolver certas tradições, hábitos, capacidades. Um partido frouxo, sem solidez ideológica, voltado para a luta parlamentar, sem participação efetiva de seus militantes na vida interna da organização, não será capaz de anular suas próprias características de um dia
para o outro. A inércia política, o peso dos parlamentares, as relações Tal transformação nunca aconteceu na história e não há motivos para pensar que agora  á acontecer. O partido revolucionário é a consciência histórica da classe. Construir uma organização é preservar e desenvolver certastradições, hábitos,  capacidades. Um partido frouxo, sem solidez ideológica, voltado para a luta parlamentar, sem participação efetiva de seus militantes na vida interna da organização, não será capaz de anular suas próprias característicasde um dia para o outro. A inércia política, o peso dos parlamentares, as relações institucionais, a falta de preparação e experiência de seus militantes e quadros impedirão a pretendida metamorfose. Regra geral, ao contrário, quanto mais à  esquerda vai  a situação da luta de lasses, mais este tipo de partido gira à direita.Esse é o erro, por  xemplo, de muitos companheiros honestos que hoje constroem o PSOL, acreditando que estão “acumulando orças” para o futuro. Na verdade,  oque estão fazendo é desperdiçando forças, entregando-se
à construção de um instrumento que, já hoje, se encontra totalmente controlado pelos parlamentare reformistas e que, a cada dois anos, passa por uma nova crise, fruto das disputas internas pré-eleitorais. Um partido que só desmoraliza e afasta militantes, pois foi criado à imagem e semelhança da fracassada experiência petista. Também é o erro de muitos ativistas independentes que desejam sinceramenteo socialismo e a revolução, mas que acreditam ser ainda  do para organizarem- se em qualquer partido. O partido é uma organização de combate, mas tambémé uma escola de revolucionários. Aqueles que passam  or essa escola têm infinitas vantagens sobre os autodidatas,por mais dedicados, honestos e capazes que estes sejam. A mais importante batalha As últimas semanas no Brasil e no mundo demonstraram que mobilizações espontâneas, massivas e com forte espírito combativo não são impossíveis. Ao contrário, são a regra na história. O regime capitalista se encontra em profunda decomposição e se tornou incapaz de dar às pessoas o mínimo de uma vida considerada digna: transporte de qualidadeno Brasil, democracia na Síria, uma praça arborizada em Istambul… A questão toda reside em construir uma direção capaz de dar a todas essas lutas um sentido, um programa, uma saída. Construímos um partido revolucionário hoje não porque sejamos impacientes. Ao contrário, em nossa opinião, a impaciência reside naqueles que buscam atalhos, mediações, disfarces, que se adaptam sem críticas ao  spírito não- – evolucionário de seu tempo. Mas a essência da atividade revolucionária consiste justamente em mudar o espírito do
tempo, não em adaptar-se a ele. De nossa parte, construímos uma organização baseada na clareza de objetivos, e o fazemos serena e pacientemente.
Não estamos desesperados por “conquistar espaços” nas próximas eleições. O que queremos é, ao longo de um processo histórico, conquistar a confiança política da classe trabalhadora. Fazemos  isso com um trabalho permanente de agitação e propaganda sobre toda amassa da população, trazendo a nossa própria organização os operários, estudantes, trabalhadores e donas de casa mais aguerridos, organizando em nosso partido os melhores e mais talentosos
lutadores de nossa classe.
Ser parte dessa construção, dedicar a vida à causa do socialismo, carregar sobre os próprios ombros “uma partícula do destino da humanidade”, como dizia
o revolucionário russo Leon Trotsky, submeter-se conscientemente à disciplina de um coletivo de rebeldes e inconformados – eis o maior ato de liberdade que pode haver em uma sociedade não- -livre como a que vivemos. A construção do partido revolucionário é, pois, uma tarefa urgente, um desafio para hoje a hoje,
algo que não pode espera
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Post author Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU
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