Operários da construção civil de Belém paralisam e exigem suspensão dos trabalhos, frente à pandemia do coronavírus

O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belém (STICMB) está travando uma dura batalha contra a patronal e os governos que, em meio à pandemia da Covid-19, não querem suspender os trabalhos nas obras não essenciais. O Sindicato tem realizado, há duas semanas, assembleias e paralisações nos canteiros de obras, e exigido uma resposta da patronal, da prefeitura de Belém e do governo estadual.

Para falar sobre essa luta, conversamos com Cleber Rabelo, diretor do STICMB e militante do PSTU.

1. O sindicato tem travado uma dura batalha contra a patronal para que as obras sejam paralisadas. Fale como está esse processo de mobilização?
Os patrões rezam a mesma cartilha do genocida presidente Jair Bolsonaro, isto é, a lógica de que o Brasil não pode parar. Os patrões não têm respeitado o período de quarentena e o isolamento social aos operários. Obras que não são essenciais seguem a todo vapor, colocando em risco a vida de milhares de operários e operárias da construção civil. Para estes senhores, o que importa é o lucro, mesmo que pra isto possam morrer vários trabalhadores e trabalhadoras.

O Sindicato tem realizado assembleias, paralisado obras, estamos em processo permanente de mobilização. Também estamos exigindo que o poder público tome medidas também contra as empresas.

2. O que a prefeitura tem feito?
O prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) faz o jogo dos patrões e tem uma atitude criminosa frente à pandemia do coronavírus. As obras da prefeitura seguem. Zenaldo nunca teve um projeto de governo para evitar os alagamentos em Belém, mas agora defende a mesma política criminosa de Bolsonaro, seguir o trabalho normal das obras que não são essenciais, com a mesma justificativa de que Belém não pode parar. Obras que ficaram a espera por mais de 7 anos, agora não podem parar porque é ano eleitoral e a vida dos trabalhadores é menos importante para ele nesse momento, o centro é a disputa eleitoral.

3. O governador Helder Barbalho (MDB) tem feito fortes discursos contra Bolsonaro. Qual a postura dele diante a situação dos trabalhadores da construção civil?
O governador diz que está garantido isolamento social das pessoas. No discurso ele é bom, na vida real, age como o Bolsonaro, pois as obras da construção civil que não são essenciais seguem com os trabalhadores aglomerados, principalmente nos refeitórios no café da manhã e no almoço. Ou seja, o isolamento, que ele tenta propaga, é seletivo. A vida dos operários da construção civil não tem valor para o Helder Barbalho.

4. Como tem sido a vida dos operários dentro das obras?
Existem relatos de casos suspeitos de COVID-19 nas obras, em que o operário foi afastado, mas todos que tiveram contato com ele seguem trabalhando normalmente. Tanto as empresas quanto Zenaldo e Helder têm mentido, quanto às nossas denúncias. Dizem que as empresas estão fornecendo material de proteção aos trabalhadores, com álcool em gel, água e sabão para lavagem das mãos, máscaras e até higienização das ferramentas de trabalho.

A realidade na obra é outra, totalmente diferente. Inclusive, estamos chamando a imprensa a visitar o canteiro de obras com o Sindicato. Os refeitórios não têm o espaçamento entre pessoas, os operários tomam café e almoçam todos juntos. Algumas obras possuem de 60 a mais de 100 trabalhadores no mesmo local para fazerem suas refeições. Faltam máscaras, álcool em gel e a higienização de ferramentas é um luxo que não se realiza.

Outra questão importante, é que as obras com vários andares possuem pia com água e sabão para lavagem das mãos somente no refeitório, como também não existe a medição de temperatura dos operários na chegada das obras para saber se tem alguém febril.

5. Quais são as reivindicações do Sindicato?
Estamos exigindo que as empresas, a prefeitura e o governo do Estado suspendam imediatamente todas as obras que não são essenciais neste momento de pandemia. Que seja garantido o pagamento de salários dos trabalhadores, bem como a estabilidade no emprego. Estamos abertos a discutir férias coletivas e outras possibilidades, as únicas obras que aceitamos trabalhar agora são apenas para a construção de hospitais e obras de saneamento para resolver a questão de alagamentos ou abastecimento de água, fora disso é necessária a suspensão para garantir a vida dos trabalhadores, de seus familiares bem como da população em geral. Caso não garantam a suspensão, nós responsabilizamos os empresários, o prefeito Zenaldo Coutinho e o governador Helder Barbalho por cada vida dos operários e seus familiares que venham ser acometidos do COVID-19 e possam vir a óbito.