Estudantes levam caixões de deputados
rondoniaagora.com

Na tarde desta quarta-feira, os sete parlamentares que aparecem nas gravações são afastados para investigaçãoNeste domingo, 15 de maio, a TV Globo exibiu imagens de deputados estaduais de Rondônia exigindo do governador Ivo Cassol (PSDB) uma propina mensal de R$ 50 mil mensais para 10 deputados. As cenas foram uma aula de como funciona a democracia dos ricos. A deputada Ellen Ruth (PP) mostrou, sem rodeios, como funciona a corrupção no Estado e o toma-lá-dá-cá entre parlamentares, governantes e empresários. Ela explicou ao governador, didaticamente, como o pagamento da propina garantiria o apoio dos deputados ao governo e sua sustentação. Como se ele não soubesse. Ivo Cassol, que guardou as imagens por dois anos, é investigado por corrupção e está ameaçado de impeachment.

Além de Ellen, Ronilton Capixaba, Daniel Neri, Amarildo Santos, Emílio Paulista, Kaká Mendonça e João da Muleta apareceram na reportagem, pedindo propina. A transmissão da reportagem foi proibida pela Justiça, a pedido de 21 dos 24 parlamentares. Segundo o jornal Folha de Rondônia, os quatro deputados do PT também assinaram o pedido.

Os protestos começaram já no dia seguinte, com uma carreata pelas ruas de Porto Velho. Atos foram feitos em frente a Assembléia Legislativa e a casa do desembargador Gabriel Marques de Carvalho, responsável pela liminar que proibiu a veiculação da reportagem. Mesmo com a censura, parte da população conseguiu assistir ao programa, exibido em telões em universidades e pela internet.

Na terça, novos protestos. Os manifestantes, em sua maioria estudantes, ocuparam a galeria da Assembléia, e vaiaram e xingavam os parlamentares corruptos. Como se nada tivesse acontecido, a deputada Ellen Ruth (PP) ainda tentou ler a ata da sessão anterior, o que irritou ainda mais os manifestantes. Eles atiravam cópias de uma ‘cédula’ de R$ 50 mil, valor que cada picareta havia pedido como propina, e pediam o afastamento da quadrilha.

Meia hora depois, a multidão que protestava do lado de fora, que a essa hora já somava mais de duas mil pessoas, quebrou as portas de vidro e tentou entrar, entrando em confronto com policiais. A polícia atirou para o alto e lançou bombas de gás. Pedras e um coquetel molotov foram lançados contra o prédio. Os deputados fugiram pelos fundos, sem nem cancelar a sessão. O protesto continuou em frente ao Palácio do governador corrupto. O grupo invadiu o Palácio Presidente Vargas, sede do governo. Um grupo conseguiu tomar toda a escadaria da sede do governo, estendendo faixas.

Na manhã desta quarta, dia 18, um novo ato ocorreu em frente à sede da Assembléia, cercada por policiais e isolada. Estudantes levaram caixões com os nomes dos deputados. Do lado de dentro, os parlamentares não tiveram outra saída senão pedir o seu próprio afastamento e formar uma comissão especial para apurar as denúncias.

Assim como um Severino Cavalcanti não teria como apurar denúncias de nepotismo e corrupção, esta comissão de deputados não tem a menor condição de investigar as denúncias que eles mesmos tentaram censurar. Em vez de aguardar os 60 dias da investigação da Assembléia, os protestos devem continuar e exigir também o impeachment do governador tucano, ele mesmo um corrupto e que escondeu as denúncias por dois anos.

  • Veja a reportagem com os deputados pedindo propina, no site Mídia Independente:
    www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/05/317021.shtml