Kátia Sartori, de Campinas (SP)

No início desta semana, veio à tona em São Paulo o debate sobre o plano do governo estadual de João Doria (PSDB) de privatizar o complexo do Ibirapuera.

Esse debate ressurgiu porque, na segunda-feira, 30, foi dado mais um passo nesse ataque, já que o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) rejeitou o processo de tombamento do local. Se a proposta de tombamento tivesse avançado, toda a estrutura e funcionalidade originais do complexo teriam que ser preservadas. Sem o tombamento, abriu-se o espaço para a privatização, e as diferentes propostas que ela traz, que inclui a possibilidade de transformar o Ginásio do Ibirapuera em um shopping!

O Complexo Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, conhecido como o Complexo do Ibirapuera, é um patrimônio da cidade de São Paulo. Construído na década de 1950, possui uma área total de 105 mil metros quadrado e é composto por quatro áreas principais: o estádio Ícaro de Castro Melo (uma das mais importantes estruturas de atletismo do país), o ginásio Geraldo José de Almeida (o Ibirapuera), o ginásio Mauro Pinheiro (utilizado principalmente para lutas) e o parque aquático Pompeu de Toledo (com piscina olímpica e tanque de saltos), além de quadras de tênis (que até o ano passado recebiam o Brasil Open) e também estrutura de alojamento para atletas do Projeto Futuro.

Não há duvidas da importância do Complexo do Ibirapuera no histórico do esporte profissional do país. Ele já foi palco de grandes eventos, como o basquete na década de 70, as seleções masculina e feminina de vôlei na década de 90, ou o campeonato mundial de handebol, em 2011. Por lá passaram ídolos do boxe como Éder Jofre, e do tênis como Sampras e Guga. Também já foi cenário de uma copa do mundo de ginástica artística. Pelas pistas de atletismo já brilharam nomes como Joaquim Cruz, Maurreen Maggi, Carl Lewis entre tantos outros. E por suas piscinas (que passaram por reforma em 2014), se formaram uma geração de nadadores como Ricardo Prado.

Mas, muito mais do que um palco de importantes eventos esportivos, o Complexo do Ibirapuera sempre foi um importante espaço de acesso à prática esportiva para a população. Muito além das arquibancadas, o Ibirapuera possibilitou o acesso às atividades esportivas e de lazer para varias gerações, para quem o esporte não era apenas espetáculo para ser assistido, mas praticado diariamente, em uma estrutura pública que oferecia aulas gratuitas nas mais diferentes modalidades esportivas.

Eu, que hoje sou professora de Educação Física e também de Natação, praticamente cresci dentro do Ibirapuera. Mesmo morando longe, vivi muito o Ibirapuera. Foi onde pratiquei natação por uns 10 anos da vida. Mais do que aprender a nadar, encontrei minha identidade com o esporte e minha profissão. Foi no Ibirapuera que assisti pela primeira vez uma competição de atletismo ou de tênis por exemplo, e vi a seleção brasileira de vôlei jogar muitas vezes. A minha lembrança é de um espaço de muita vida, muita expressão esportiva e cultural. Havia tanta procura pelas aulas, que todo semestre tinha um sistema de sorteio das turmas, já não tinha vaga para todo mundo. Era assim em todas as modalidades. A noticia da privatização é muito triste e vai na contramão do que a cidade precisa. As periferias de São Paulo ainda não têm acesso a lugares como o Ibirapuera. É isso que o governo deveria estar discutindo.

Mas agora, todo esse patrimônio da cidade, está sendo jogado, pelas mão de Doria, com a omissão de Covas, para o setor privado, cujo único interesse é lucrar e não atender as necessidades da população. Mais uma vez, governo do estado e a prefeitura demonstram que não existe compromisso com os serviços públicos, muito menos com uma política pública de acesso ao esporte e ao lazer para a população.

Deveríamos nesse momento avançar para as melhorias necessárias nesse equipamento público e avançar em projetos que espalhassem vários complexos como o Ibirapuera pela cidade. É preciso lutar para que Ibirapuera seja de fato do povo, para que a juventude e a população das periferias tenham acesso a uma estrutura de esporte e lazer de qualidade. Mas Doria, Covas e toda sua turma, governam para os ricos e grandes empresários, e agora quem dar para eles também o Ibirapuera.

No dia 6 de dezembro, às 9h, participaremos do ato contra a privatização, que ocorrerá no Ginásio do Ibirapuera. Chamamos as organizações da juventude, dos atletas, dos sindicatos e centrais sindicais a somarem força, porque o Ibirapuera é um patrimônio nosso!

Katia Sartori, Professora da Rede Estadual de São Paulo e militante do PSTU