No momento em que a caça aos “terroristas” do Hizbollah serve de pretexto para Israel (com apoio incondicional dos Estados Unidos) matar centenas de civis inocentes no Líbano, mais um crime dos aliados de Bush acabou sem punição.

A Promotoria Pública Britânica concluiu na última segunda-feira, dia 17 de julho, que não havia provas suficientes para processar cada um dos policiais envolvidos na morte de Jean Charles, em Londres, no ano passado. O relatório apenas acusa genericamente a polícia metropolitana de Londres de “ter falhado no seu dever de proteger Jean Charles”. A instituição será processada por violação de leis de saúde e segurança. Ou seja, nenhum policial poderá ser julgado pela morte do brasileiro.

O relatório que serviu de base para a decisão, elaborado pela Comissão Independente de Queixas contra a Polícia, havia recomendado ao Ministério Público britânico que os policiais deveriam ser indiciados por homicídio culposo.

O eletricista Jean Charles de Menezes tinha 27 anos quando foi morto com sete tiros na cabeça, em julho de 2005, numa estação de metrô da capital inglesa, por policiais que o confundiram com um homem-bomba. A discriminação dos imigrantes na Europa tornou-se ainda mais paranóica desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Todo estrangeiro, principalmente árabe e latino-americano, é visto como um terrorista em potencial.

O brasileiro se dirigia ao trabalho, logo após sair de casa, um bloco de apartamentos vigiado pela polícia. No dia anterior, atentados fracassados no sistema de transportes de Londres haviam ocorrido. Duas semanas antes, outros ataques haviam matado 52 pessoas.

A porta-voz da família de Jean Charles, Yasmin Khan, disse à rádio BBC que não processar nenhum agente, mas apenas a polícia de Londres por desrespeitar leis de segurança, indicaria que “as forças da ordem podem atuar com impunidade”.

O governo brasileiro, repetindo a submissão da época do assassinato, se limitou a “lamentar” a decisão dos promotores britânicos. A nota do Itamaraty parece ter chegado a uma conclusão “inédita” de que a medida “torna impossível a punição dos agentes que participaram do assassinato de Jean Charles de Menezes“.

O Ministério de Relações Exteriores declarou que a “missão enviada a Londres pelo ministro Celso Amorim continuará a buscar esclarecimentos adicionais sobre a decisão a fim de poder fazer avaliação final sobre ela“. Nenhuma palavra de denúncia do governo britânico ou do chefe de sua polícia, Ian Blair.