Na madrugada, de segunda para terça-feira, as polícias Civil e Militar promoveram uma matança pelas ruas da grande São Paulo. Em apenas 12 horas, 33 pessoas consideradas “suspeitas” morreram. Até agora foram mortas 93 pessoas pela polícia, segundo o comandante da PM de São Paulo, coronel Elizeu Éclair, que disse ainda que a “caça continua”.

Até o domingo a polícia tinha matado 24 pessoas. Mas as mortes de “suspeitos” deram um salto de mais de 100% depois do pânico que se instalou na cidade na segunda-feira. Muitas dessas mortes são de civis inocentes, sem passagem pela polícia, conforme inúmeras denúncias de moradores que recheiam as páginas dos jornais desta quarta-feira.

Testemunhas contam que em São Matheus, na Zona Leste de São Paulo, um cabeleireiro foi morto pela polícia militar quando saia do trabalho. No Jardim Filhos da Terra, na zona norte, o jovem Ricardo Flauzino também foi executado pela polícia. “Depois de matar Ricardo, os policiais entraram aqui atirando que nem loucos. Olha os buracos de bala aqui“, disse uma testemunha ao jornal ‘Folha de S.Paulo´. Um grupo de moradores protestou e escreveu no asfalto: “assassinos de farda”. Uma equipe de TV filmou o protesto e os acusou de “simpatizantes do PCC”, causando ainda mais revolta.

No Parque Santo Antônio (zona sul), o estudante e entregador de pizza Ricardo Vendranelli, sem antecedentes, foi morto, segundo a família, por policiais usando máscaras ninja. Esses são apenas alguns exemplos noticiados pela grande imprensa. Até o momento a polícia não divulgou o nome e a ficha de 40 pessoas que matou.

O espírito de brutalidade das ações da polícia contra a população pôde ser observada na declaração do delegado Marco Antonio Desgualdo ao jornal ‘O Globo´: “Se tínhamos o 60 criminosos mortos e já temos 71 é porque a polícia está matando quem ousa nos enfrentar”. Ele ainda completou dizendo que está na hora da polícia substituir o jogo de xadrez (inteligência da polícia) para partir “para o futebol americano”. A declaração foi feita antes do anúncio totalizando as 93 mortes.

Depois de dias sendo alvo dos ataques do PCC, a polícia descontou em todos os que ousaram pisar fora de casa na noite de segunda-feira. O faroeste da Rota contrasta, no entanto, com o que vinham fazendo seus líderes. Horas antes, as principais autoridades policiais fizeram um acordo com os criminosos para cessar os ataques. Apesar de admitirem que houve apenas uma ‘conversa´, os fatos falam por si só. Em pouco mais de uma hora, todas as rebeliões foram sendo desmontadas e os ataques nas ruas cessaram. Sem ter contra quem guerrear, o jeito que a polícia encontrou foi atacar a população da periferia.

Negros e Pobres: os principais suspeitos
As cenas captadas pelas câmaras de TV enganam os menos avisados. Nelas aparecem pessoas sendo bem tratadas, abordadas de maneira civilizada, tudo aparentando a mais perfeita ordem. Contudo, a realidade é bem diferente. Como diz uma música do grupo de Rap Facção Central, “é só vê o águia dourada que gambé [policial] se empolga”. Longe das câmaras, entretanto, o que predomina é a brutalidade e o racismo das ações policiais.

Nenhuma dos “suspeitos” mortos foram alvejados em bairros de classe média de São Paulo. Todas moravam nos imensos bairros pobres da capital paulista.

A maioria é de negros. O racismo também fica evidente nas na imensa maioria das fotos publicadas pela imprensa. Nelas, quase a totalidade das pessoas paradas ou revistadas pela polícia é negra. Isso pôde ser observando apenas dando uma pequena volta pela cidade nestes últimos dias.

Mais uma vez fica demonstrada a barbárie e o caráter repressivo da polícia paulistana, que é responsável em matar anualmente mais pessoas do que todas as polícias da Europa juntas. O povo pobre de São Paulo, além de ser aterrorizado pela máfia do PCC, agora sofre o terror de policiais que numa busca desenfreada por vingança se saciam descarregando suas escopetas e pistolas sobre jovens, negros e pobres da periferia.