A prisão de oito soldados da Polícia Militar do Paraná, no dia 5 de abril, mostra mais uma faceta da crescente criminalização e repressão aos movimentos sociais que está ocorrendo no Brasil. Os policiais são acusados de atuarem como uma milícia armada de latifundiários, responsável por desocupações ilegais de propriedades rurais e agressões contra trabalhadores sem-terra. Além disso, a quadrilha é suspeita de envolvimento em assassinatos de trabalhadores rurais.

A investigação sobre o grupo descobriu que a quadrilha era financiada por fazendeiros ligados ao sindicato rural de Ponta Grossa (PR), que pagavam cotas mensais para obter o patrulhamento armado de suas fazendas. O comandante da milícia era o tenente-coronel Waldir Copetti Neves, que foi preso em seu apartamento, em Curitiba (PR).

Durante a operação de captura dos criminosos, foram apreendidas 16 armas trazidas irregularmente do Paraguai, recibos de pagamento dos fazendeiros, fotografias, binóculos, rádios transmissores, três carros e relatórios sobre as ações do bando.

Chefe da milícia foi acusado de tortura
O líder da milícia, tenente-coronel Waldir Copetti Neves, era homem de confiança do ex-governador do Paraná, Jaime Lerner. Durante o período em que comandou o Grupo Águia (serviço secreto da PM do Paraná), Copetti foi acusado de prática de torturas e desvios de conduta, mas foi inocentado.

Em declaração à Polícia Federal, Coppetti admitiu ter infiltrado policiais militares em acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A infiltração ocorreu pelo menos a partir de 1997.

Em 1999, Copetti escreveu o trabalho “O MST e suas ações no Paraná“, apresentado como trabalho de conclusão do curso de Estudos de Política Estratégica, da Escola Superior de Guerra (ESG).

De acordo com jornalistas da Folha de S. Paulo , que tiveram acesso ao material, a monografia afirma que o MST oferecia aos seus militantes treinamento de guerrilha rural e tinha como principal meta a “desestruturação do campo, com o objetivo de desestabilizar o país“. Na monografia, Copetti oferece informações detalhadas sobre o funcionamento dos assentamentos rurais do MST no Paraná e no Pontal do Paranapanema (SP).

O militar repete as velhas acusações contra os movimentos sociais, ao afirmar, em sua tese, que o MST seria financiado por organismos internacionais e ligado à Teologia da Libertação (ala esquerda da Igreja Católica, que alcançou grande importância nos anos 70, da qual um dos seus principais expoentes é o teólogo brasileiro Leonardo Boff).