No último domingo, 21 de junho, cerca de 25 policiais militares fortemente armados chegaram para uma blitz na rua General Lima e Silva, na Cidade Baixa, em frente ao shopping Nova Olaria, principal ponto de encontro de homossexuais vindos dos mais diversos bairros de periferia de Porto Alegre. Até então, nenhuma novidade. Mas, neste dia, algo diferente aconteceu. Repressão, perseguição e agressão marcaram o dia de cerca de 450 pessoas que se encontravam naquele local.

A polícia da governadora Yeda Crusius (PSDB) chegou empurrando as pessoas e mandando dispersar da calçada, alegando que estavam todos obstruindo a via pública e que ali não era lugar para conversar. Davam duas opções às pessoas: ou caminhavam, ou seriam presos. Um dos agredidos nos relatou: “um dos policiais chegou empurrando meu namorado e perguntando se eu conhecia a legislação, pois eu não poderia beijar meu namorado em via pública e que se quisesse fazer tal ‘putaria´ que pagasse um motel”.

Inconformadas, cerca de 300 pessoas, mesmo saindo da frente do shopping, se mantiveram próximas ao estabelecimento protestando e cantando: “Contra a opressão e a homofobia / a nossa luta é todo dia”. Os 25 policiais caminhavam entre as pessoas exibindo suas armas na tentativa de intimidar os frequentadores da famosa rua. Ao invés de estarem garantindo a segurança dos homossexuais frente aos grupos de intolerância, como skinheads que voltaram a se manifestar nesta região, a polícia criminaliza os gays e lésbicas por sua expressão afetiva.

Já na Rua da Republica, outro ponto de encontro dos homossexuais, onde ficam aqueles que têm condições financeiras de sentar num bar e consumir à vontade, a cerca de 200 metros do shopping Nova Olaria, a polícia não se manifesta, e as pessoas se beijam sem serem importunadas. Neste episódio, salientamos a perseguição de classe da polícia com relação aos trabalhadores e jovens homossexuais que, não podendo pagar para ter uma vida social em algum gueto GLBT, lutam para poder se expressar e serem tratados com respeito.

O que torna este episódio ainda mais absurdo é que este ano se comemora 40 anos da rebelião de Stonewall, um levante de gays, lésbicas e travestis em Nova Iorque, numa batalha de rua que durou quatro dias contra a repressão policial

Em meio a atual crise econômica, a criminalização de movimentos sociais por parte do Estado burguês tem avançado. Mais do que isso, começamos a constatar outro fenômeno que é produto do atual momento: o surgimento de bandos neofascistas, que atacam covardemente homossexuais, negros, estrangeiros e demais setores oprimidos e superexplorados pelo capital. Isso ficou claro na última parada gay de São Paulo, onde um atentado a bomba mandou 23 pessoas para o hospital, e um grupo de carecas espancou um jovem gay que morreu dias depois no hospital.

No comemorativo do levante que fundou o movimento gay moderno, é preciso resgatar o caráter combativo e politizado da luta GLBT no país. Em meio à atual crise, devemos nos unir com a classe trabalhadora para enfrentar os setores mais reacionários do capital.

Ao mesmo tempo em que vemos a perseguição da polícia e do Estado, temos ONGs que se dizem a favor da luta por direitos dos homossexuais, mas se omitem quanto ao que vem acontecendo. Na verdade, estão mais preocupadas em garantir verbas para seus projetos e eventos. As paradas livres, com suas megaestruturas de shows financiadas por grandes empresas e pelo governo federal, não servem mais como um momento de protesto. Estão cada vez mais despolitizadas e carnavalescas e funcionam como um dia de exibir estereótipos engraçados, garantindo uma boa lucratividade para os capitalistas ligados ao turismo e comércio.

Miniparada de Porto Alegre
Por isso, chamamos a todos à construção da Miniparada do Orgulho GLBT, no dia 28 de junho, organizada pelo Grupo Desobeça GLBT e pela Conlutas. A concentração será às 13h no Parque da Redenção, com completa independência financeira de governos e empresas.

Vamos para a rua lutar pela criminalização da homofobia, pelo direito à parceria civil para casais homossexuais, denunciar o “Brasil sem homofobia” de Lula que nunca saiu do papel e lutar contra a perseguição aos homossexuais em frente ao shopping Nova Olaria.